terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SÉRIE 10 ACUSAÇÕES CONTRA A IGREJA MODERNA


4ª ACUSAÇÃO:  UMA IGNORÂNCIA QUANTO AO EVANGELHO DE JESUS CRISTO.

Rm 5.8-9

Podemos afirmar que o Brasil não é um país endurecido em relação ao evangelho; mas sim que ele é ignorante quanto ao evangelho, porque muitos pregadores o são. O mal de nosso país não é a corrupção política, ou o liberalismo teológico, ou a teologia da prosperidade, nem a Rede Globo. O nosso problema é que pegamos o glorioso evangelho do nosso bendito Deus e o reduzimos a quatro leis espirituais ou a cinco coisas que Deus deseja que você saiba, com uma pequena oração supersticiosa no final. Se alguém repete a nossa oração, com sinceridade, declaramos prontamente que ele nasceu de novo. Temos trocado regeneração por decisão.

Como deve ser apresentado o evangelho?

O evangelho começa com a natureza de Deus, então ele mostra a natureza do homem e do seu estado caído. E, com base nessas verdades, essas duas grandes colunas do evangelho estabelecem para nós o que deve ser conhecido por todo crente como o grande dilema. Qual é esse dilema? O maior problema em toda a Escritura é este: se Deus é justo, ele não pode perdoar o pecado dos homens. Como Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, o justificador dos ímpios, quando toda a Escritura diz o contrário.
Pv 17.15

É isso que temos que apresentar às pessoas. O grande problema é que Deus é sinceramente justo, e todos os homens são verdadeiramente ímpios. Para ser justo, Deus tem que condenar o homem ímpio.  Aqui vem o evangelho: Mas Deus, tendo em vista a sua própria glória e demonstrando grande amor por nós, enviou o seu filho, que viveu nessa terra como homem perfeito. E, depois, em harmonia com o plano eterno de Deus, o filho morre na cruz, no Calvário. E na cruz ele levou o nosso pecado, tornando-se o nosso substituto e assumindo a nossa culpa, se tornou maldição por nós.
Gl 3.10-13

Muitas pessoas têm uma visão romântica e pobre do evangelho que Cristo estava lá, pendurado na cruz, sofrendo as aflições impostas pelo império romano, e o Pai não teve a fortaleza moral de suportar o sofrimento de seu Filho, então, ele se retirou. Não, o pai se retirou porque o seu filho se tornou pecado.
Alguns interpretam mal as palavra de Jesus em Mt 26.19. Interpretam que o grande sofrimento que viria seria a cruz, os chicotes, os cravos e todo aquele sofrimento. Não podemos ignorar o sofrimento físico de Cristo na cruz. Mas o cálice era a ira de Deus que seria derramada sobre Jesus Cristo. Alguém tinha que morrer, levando a culpa dos redimidos.
Is 53.10

Quando o evangelho é pregado e compartilhado na evangelização pessoal, ouvimos algo sobre a justiça e a ira de Deus? Quase nunca. A evangelização contemporânea raramente deixa claro que Cristo foi capaz de redimir-nos porque foi esmagado sob a justiça de Deus - e satisfazendo com a sua morte a justiça divina, Deus é agora justo  e o justificador do ímpio.
Quando Abraão leva Isaque, seu filho amado, seu único filho para ser sacrificado o Espírito estava nos dizendo algo sobre o futuro.  Isaac não ofereceu qualquer resistência e deitou-se no altar. Mas o fato de Deus ter impedido o sacrifício não foi o final da história, foi apenas um intervalo de milhares de anos. Pois Deus o pai, pegou o cutelo, colocou a mão sobre o rosto do seu filho, seu único e amado filho, e com toda a força, com toda a sua ira desferiu um golpe fatal em seu coração.
Isso é o evangelho, isso tem relevância, o evangelho é a cruz.

Mas também temos uma ignorância com relação à doutrina da regeneração.  Esse é um princípio fundamental do evangelho. A salvação não pode ser manipulada pelo pregador, só o Deus todo poderoso, magnífico pode promovê-la.

Entendo que na pregação há mestres, pregadores e expositores. Todos eles são necessários para a saúde da igreja. Mas sem a ação do Espírito Santo não acontece nada, é Ele quem dá a vida.
Jo 6.63

Portanto, todos nós que proclamamos a palavra de Deus devemos fazer como um profeta. Isso significa que somos como Ezequiel no vale de ossos secos.
Ez 37.1-2

Caminhamos entre os ossos e dizemos: ouçam a Palavra de Deus!  E sabemos que o Espírito Santo tem que soprar nesses mortos, caso contrário, eles não viverão. Quando assimilamos essa verdade não nos entregaremos à manipulação que é tão comum, hoje em dia, na evangelização.
Muitos acham que nascer de novo significa apenas que, em algum momento, em alguma cruzada de evangelização, a pessoa tomou uma decisão e acha que foi sincera.  Mas muitas dessas pessoas vivem como demônios, e não como nascidas de novo.
2 Co 5.17

5ª Acusação: Um Convite antibíblico ao evangelho.

Mc 1.15
Como  é o convite para o evangelho?
Não basta simplesmente fazer uma oração repetida e afirmar que aceitou Jesus
Um profundo autoexame é necessário para se ter convicção que que nasceu de novo.
2 Co 13.5
Não podemos nos  esquecer que a salvação é somente pela graça. É uma obra de Deus. É graça sobre graça. Mas a evidência da conversão não é apenas o exame da nossa sinceridade no momento da conversão. É um fruto permanente em nossa vida.
Afinal as Escrituras afirmam que uma árvore é conhecida por seu fruto.
Mt 7.20
Parte da culpa está nos pregadores. Muitos de nós falamos de muitas coisas e depois lançamos o convite. Dizer simplesmente que Deus ama o pecador e tem um plano maravilhoso para ele é pouco.
Em uma cultura influenciada pela autoestima a pessoa pensa: O que? Deus me ama! Bem, isso é ótimo porque eu também me amo. Eu também tenho um plano maravilhoso para a minha vida.
Isso não é conversão bíblica. Vamos ver como Deus vai a Moisés?
Ex 34.6-8
A evangelização começa com a natureza de Deus. Quem é Deus? Um homem pode reconhecer alguma coisa sobre o seu pecado, se não tem padrões pelos quais pode comparar a si mesmo? Se falamos aos homens somente coisas triviais sobre Deus, coisas que agradam a mente carnal, os homens não serão trazidos genuinamente ao arrependimento e à fé.
1.      Não começamos com: “Deus ama você e tem um plano maravilhoso.” Temos de começar com um discurso sobre todo o ensino a respeito da natureza de Deus. E temos de dizer à pessoa, desde o início, que isso pode lhe custar a vida (Mt 16.24).
2.      Em seguida, devemos levar a pessoa a refletir sobre a sua própria condição. Ela precisa entender o quão pecadora é.  Ela precisa entender que há um mal terrível nela e que o julgamento está vindo. Devemos levar a pessoa a odiar o pecado e a fugir dele.
3.      Devemos levar a pessoa a ver provas de conversão nela mesma. O que acontece hoje? As crianças vão para uma EBD ou uma EBF e ouvem a expressão: “Jesus é maravilhoso. Quem ama a Jesus? Quem quer ter Jesus no coração?”
Quando chegam aos 15 ou 16 anos começam a romper os laços. Começam a viver na impiedade.  Se afastam da igreja. Acabam a faculdade e muitos voltam para a igreja, se unem à membresia e vivem uma falsa moralidade cristã que envolve o igrejismo.  E muitos deste ouvirão Mt 7.23.
E aí agente fala prá essa pessoa: mas você é tão bravo, maledicente, fofoqueiro, consumista, etc. A pessoa diz: Não tenho o direito de ser?
Não devemos perguntar: você que ir para o céu? Todo mundo quer. Só não querem que Deus esteja no céu quando eles chegarem lá.
A pergunta certa é: Você quer Deus? Já parou de odiar Deus? Cristo se tornou precioso para você? Você deseja a Cristo?
Então a pergunta não deve ser se a pessoa quer ir para o céu e ter tudo lá, mas se ela quer Deus, se Cristo se tornou precioso para ela.
Devemos perguntar: Você deseja a Cristo, você vê o seu próprio pecado?
E, então, devemos examinar alguma passagens bíblicas  que explicam o que é arrependimento e confiança em Cristo.
Temos autoridade para anunciar aos homens o evangelho, para dizer-lhes como podem ser salvos e autoridades para ensinar-lhes princípios bíblicos de segurança. Mas não temos nenhuma autoridade para dizer aos homens que eles são salvos. Isso é obra do Espírito Santo de Deus!
Como funciona a evangelização hoje?
“Você convidou Jesus a entra em seu coração?”
“Sim”, ele responde.
“Você está sendo sincero?”
“Sim.”
“Você acha que Cristo o salvou?”
“Não sei.”
“É claro que ele o salvou porque você foi sincero. E ele prometeu que, se você pedisse que entrasse em seu coração, ele entraria. Portanto, você está salvo.”
Depois de cinco minutos de aconselhamento eles saem da igreja, mas ele está perdido.
Isto é um convite antibíblico. Pessoas convertidas vivem em crescimento, mesmo em um contexto de uma igreja sem crescimento. E ai entramos no mito do crente carnal. Essa doutrina é muito perigosa.
Os crentes lutam contra o pecado? Sim.
Um crente pode cair em pecado? Sim.
Mas um crente pode viver em um estado permanente de carnalidade, todos os dias de sua vida, não produzindo fruto, e ser um verdadeiro crente? Não, de modo nenhum. Porque se assim for algumas passagens seriam mentirosas.
Hb 12.6; Lc 6.44
Ler trecho do livro de Paul Washer (pg. 54).
O conceito do crente carnal envolve o entendimento de que na igreja existiriam muitos que permanecem em um estágio inferior e primitivo de espiritualidade mantendo um comportamento virtualmente similar ao do incrédulo. 

Essa idéia é perigosa, por que refletimos com ela a tendência renitente (mas não bíblica) de categorizarmos as pessoas em três classes [1] , quanto ao status espiritual dessas perante o soberano criador.  No conceito do "crente carnal", essa divisão tríplice seria: 
(1) os incrédulos, (2) os crentes carnais e (3) os crentes espirituais.

O incrédulo, dispensa descrição. O crente espiritual seria uma superior categoria de crentes, dissociada do crente carnal - a categoria inferior. Crente espiritual não representaria, meramente, uma descrição dos salvos por Cristo, uma vez que os "carnais" também o seriam, mas identificaria aqueles que deram o segundo passo de aceitação, em direção a Deus. Já haviam aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceitam como Senhor.

Essa idéia do "Crente Carnal" procede de uma compreensão superficial das palavras do apóstolo Paulo, em 1 Cor 3.1-4, e foi popularizada nas notas de rodapé da famosa Bíblia de Scofield. Infelizmente, essa "doutrina" encontrou abrigo em nosso meio, o que nos impele a esse esclarecimento maior.
Como imperfeitos e pecadores que somos, até a nossa glorificação, cada um de nós exibe um grau maior ou menor de carnalidade em nossas atitudes. Existe, portanto a possibilidade, nos crentes, de manifestações de comportamento semelhantes ao do incrédulo - isso é carnalidade no sentido ético/moral, utilizado por Paulo. Ela deve ser exposta, reprovada e a convicção de sua presença deve nos levar aos pés de Cristo em arrependimento sincero e genuíno.
Paulo não chega, entretanto, a transmitir a idéia da existência de uma terceira categoria de pessoas nas quais faltaria um passo adicional à salvação. No contexto da primeira carta aos coríntios, ele deixa claro, no cap. 1, que está escrevendo àqueles que foram santificados em Cristo Jesus. No cap. 2, ele descreve os seus leitores omo "recebedores da graça de Deus, enriquecidos em toda palavra e em todo o entendimento" e traça aquela única distinção que é verdadeiramente bíblica: o ser humano natural e o ser humano espiritual - caracterizando o que se encontra ainda morto em delitos e pecados, e aquele que foi alcançado pela graça salvadora de Jesus Cristo.

Esse último, como espiritual que é (isto é: gerado pelo Espírito Santo), tem a possibilidade de discernir o ensinamento do Espírito e de manter sintonia com o Deus Supremo. Por essa razão, o comportamento específico tratado nos versos iniciais do capítulo 3 - partidarismo e espírito de divisão e dissensão (uns de Paulo, outros de Apolo), era incompatível com a fé professada. Paulo vê-se, portanto, forçado a dirigir-se a eles como descrentes procurando-os sacudi-los à racionalidade cristã. Como espirituais, tinham que apresentar crescimento. Não podiam permanecer como crianças e exibir carnalidade.
O ensinamento do "crente carnal" tem o resultado prático de confortar indevidamente aqueles que, mesmo fazendo parte da igreja local, levam uma vida desregrada, fora dos padrões das Escrituras, mas se auto-analisam como pertencentes a essa categoria. Essas pessoas, na realidade, deveriam estar examinando a genuinidade da salvação que professam.

Algumas perguntas fundamentais que precisam ser encaradas são as seguintes:

1.      Somos santificados passivamente?
Isto é, pela fé somente, sem obediência à lei de Deus? Se a santificação é passiva, um ponto de vista representado pelas palavras: “Deixe isso nas mãos de Deus.” Então como poderíamos entender afirmações apostólicas expressadas em palavras como: eu luto, eu corro, subjugo o meu corpo, purifiquemo-nos, esforcemo-nos. Essas afirmações não expressam uma condição passiva.
2.      Será que um apelo ao chamado crente carnal, para que se torne um crente espiritual, não reduz a experiência real de conversão?
2 Co 5.17 essas palavras se referem a uma experiência real de conversão, não a uma segunda experiência.
3.      Será que o crente espiritual, para de crescer na graça?
4.      Quem decide quais são os crentes carnais? Quais os padrões usados para se medir isso? Desde que todos os crentes ainda têm em si algum pecado, e desde que pecam todos os dias, que graus de pecado e quais pecados específicos definiriam esses crentes?
Em Rm 8.1-9 faz-se uma divisão, mas não é entre crentes carnais e espirituais. Mas entre os que andam segundo a carne (não regenerados) e os que pertencem a Cristo. Não existe uma terceira categoria. Em Gl 5.17-24 também vemos que há apenas duas categorias: os que produzem as obras da carte e os que são guiados pelo Espírito.

Aspectos que precisam ser levados em conta:
1-      Sim há crentes bebês em Cristo, e há diferentes estágios entre os bebês, no que se refere à compreensão da verdade divina e no que tange ao crescimento espiritual.
2-      Sim, há um sentido em que todo crente é carnal. Nem todas as características do cristianismo se fazem igualmente visíveis em todos os crentes. O amor, a obediência e a devoção variam no mesmo crente em diferentes períodos de sua experiência cristã; ou seja, existem muitos estágios na santificação. O progresso do crente, em seu crescimento, não é constante e sem perturbações.
Analisando 1 Co 3.1-4
Para entenderemos essa passagem precisamos levar em conta que a Carta de 1 Coríntios não é uma carta doutrinária. Ele contém doutrina, mas não foi escrita com essa finalidade como Romanos. A preocupação primária de Paulo foi tratar problemas práticos em uma igreja nova. No terceiro capítulo ele trata do problema das divisões que surgiu de uma apreciação errada por aqueles que haviam pregado o evangelho os coríntios.
Os crentes em corinto estavam dando atenção a causas secundárias e esquecendo a Deus a quem pertence toda a glória. Ao invés de dizerem: “Somos discípulos de Cristo” e reconhecerem sua união nEle, estavam formando partidos e dizendo: “Nós somos de Paulo, porque ele fundou a igreja em nossa cidade” ou “Apolo é mais eloquente que Paulo e nos edifica mais do que Paulo”; “Nós somos de Pedro”. Assim, partidos opostos haviam se formado.
Portanto, a divisão dentro da igreja era o principal problema tratado no capítulo. Mas esse problema, contudo, tem uma raiz comum a todos os outros problema tratados em 1 Coríntios – a defraudação de um irmão por outro, a desordem na ceia do Senhor, e assim por diante. Todos os problemas eram causados pela carnalidade, a luta interna do coração contra o pecado, descrita em Rm 7.21-23.
Para entendermos melhor o que Paulo quer dizer com carnalidade não devemos nos ater à maneira como ele ser refere aos corintos no capítulo 1, ele afirma que os coríntios são “santificados em Cristo Jesus” , que são recipientes da “graça de Deus”, que são enriquecidos em “toda palavra e todo conhecimento” (1.2-5).
Eles são repreendidos no capitulo três, não por deixarem da alcançar os privilégios que alguns crentes alcançam, mas por agirem, a despeito de seus privilégios, como bebês e como não-regenerados em algumas áreas de suas vidas.
Isso é bem diferente de dizer que o apóstolo reconhece aqui um grupo distinto dentro da igreja chamado de crentes carnal. Paulo só reconhece duas classes de pessoa os naturais e os espirituais (1 Co 2.14,15).
Ao falar dos carnais, Paulo não está dizendo que eles eram caracterizados pela carnalidade, mas reprovando um fruto específico da carnalidade, num certo aspecto. O que é fato é que todos que estão em Cristo são nova criatura (2 Co 5.17).
Temos que ter cuidado em não fazer uma doutrina baseados em um texto das escrituras.  Um dos pais da igreja afirmou: “Se você tem apenas uma passagem em que basear uma doutrina importante, é bem provável que você, depois de um exame cuidadoso, descubra que não tem nenhuma.”
A doutrina do crente carnal, é, afinal, consequência de um evangelismo fraco, antropocêntrico, no qual as decisões são buscadas a qualquer preço e por quaisquer métodos. Quando aqueles que são declarados convertidos não agem como crentes, não amam o que os crentes amam, nem odeiam o que os crentes odeiam, nem servem voluntariamente a Cristo em sua igreja, deve-se encontrar uma outra explicação além de chama-los de crentes carnais, eles devem ser chamados a se decidirem a favor de Cristo, pois não são crentes. Pois ainda não fizeram de Cristo o seu Senhor, não deixaram que ele ocupasse o trono de seus corações. Em geral, a entrada deste tipo de crentes na igreja está ligada a um erro no evangelismo. O evangelismo moderno substitui o arrependimento e a fé salvadora, pela decisão. O perdão é pregado sem a verdade de que o Espírito Santo transforma corações. Sendo assim, decisões são encaradas como se fossem conversões, mesmo não havendo nenhuma evidência de uma operação sobrenatural na vida da pessoa.
Portanto, devemos resgatar o evangelismo neotestamentário, que demonstra que não é suficiente professar ser crente, que não é suficiente chamar Jesus de Senhor (Lc 6.46), são necessárias evidências de um novo nascimento. Temos apenas duas alternativas: a vida natural ou a vida espiritual, o caminho largo ou o caminho estreito. Um coração não transformado levará o homem ao inferno (Ef 5.6).

Os Espirituais: Crentes Maduros.

A terceira e última interpretação que desejamos considerar é a de que Paulo, ao usar o termo, refere-se a crentes maduros. Creio que essa é a melhor interpretação da passagem não somente pelos motivos que temos exposto até agora como ainda pelos que se seguem.
O ponto inicial que precisamos observar aqui (e que tem sido negligenciado por Ellis e outros) é que Paulo faz uma distinção entre "nós" e os "maduros/espirituais" em 1 Co 2.6:
Entretanto, [nós] expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada.
A frase poderia ser traduzida como "falamos sabedoria aos maduros,"(50)  como 3.1 sugere:
Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
Esta distinção entre "nós" e os "maduros/espirituais" pode ser mantida em toda a seção (1 Co 1–4), possivelmente com a única exceção de 2.7b, 15-16. Aqueles identificados como "nós" falam a sabedoria de Deus oculta em mistério, e os "maduros/espirituais" ouvem e compreendem, pelo Espírito (2.6,13,14-15).
A primeira pessoa do plural, "nós," na passagem, está refletindo o ministério de Paulo entre os maduros da igreja. Quem são as pessoas às quais ele se associa, usando o pronome? Cremos que Paulo refere-se a si mesmo e aos demais apóstolos.(51)
O passo seguinte na pesquisa é examinar mais de perto o sentido de te/leioj (2.6, "maduro, perfeito"), tendo em vista sua relação óbvia com pneumatiko/j ("espiritual") na passagem. A grande maioria dos críticos concorda que o "espiritual" de 2.13,15 corresponde ao "maduro" de 2.6.(52)  Mas, nem todos estão de acordo se Paulo refere-se aos cristãos em geral, ou a um grupo dentre eles.(53) 
Na nossa opinião, a idéia de crescimento e de maturidade está presente quando Paulo usa o termo te/leioi ("perfeitos") em 2.6. Ele está se referindo, não a todos os crentes, mas àqueles que têm crescido na fé, que têm amadurecido em seu conhecimento e sua conduta, ao ponto de poder captar as implicações da pregação apostólica da sabedoria oculta de Deus, Cristo crucificado. Paulo está fazendo uma distinção, não entre crentes e descrentes, mas uma distinção interna na comunidade, entre crentes maduros e aqueles crentes que não são maduros.
É certo que Paulo às vezes emprega te/leioj ("maduro", "perfeito") no sentido escatológico, referindo-se a todos os crentes como já desfrutando das bênçãos escatológicas e futuras de Deus (ver Fp 3.12).(54)  Neste sentido, os crentes são "perfeitos", ou tem sido "aperfeiçoados" por Cristo. Mas aqui em 1 Co 2.6 está claro que o sentido não é escatológico. Paulo está fazendo uma distinção intramuros.(55)
Essa distinção, entretanto, não deve ser exagerada. Ela não é fixa e determinada, como se Paulo reconhecesse duas classes de crentes. Essa distinção é apenas em termos de conhecimento e compreensão. O contraste entre pneumatikoj/te/leioj e sarkiko/j/nh/pioi em 3.1-2, e entre ga/ la ("leite") e brw=ma ("comida sólida," ver Hb 5.11-14), claramente sugere um progresso no entendimento e no comportamento dos cristãos.(56) 
Além disso, o contraste entre um entendimento infantil e um entendimento adulto ocorre mais duas vezes na carta (13:10-11, 14:20), e, em ambos os casos, a idéia de níveis de entendimento espiritual, refletindo diferentes estágios no processo de crescimento, está presente.
Em 1 Co 13.10, apesar de te/leion ("perfeitos") ter provavelmente uma conotação escatológica, o contraste nh/pioj/a)nh/r ("menino/homem") no verso seguinte (13.11) retém a idéia de dois níveis distintos de compreensão espiritual. Em 14.20, onde Paulo contrasta paidi/a ("meninos") e te/leioi ("maduros"), a idéia é ainda mais evidente. Du Plessis conclui: "A distinção é entre uma percepção de criança e aquela de um homem adulto."(57) Sugerimos que a distinção é a mesma em 1 Co 3.1.(58)
O fato de que Paulo faz uma distinção entre os cristãos ("espirituais" e "carnais") não significa que ele tinha, necessariamente, uma mensagem de sabedoria reservada para aqueles poucos "iluminados," distinta do seukerygma habitual, como sugere Scroggs.(59)  O conteúdo do kerygma de Paulo, e mesmo da sophia que ele tem para compartilhar com os mais experimentados, é Cristo crucificado (1.17, 23-24, 30; 2.1-2; 2.8).(60)
Concluindo, quando Paulo usa o adjetivo pneumatiko/j em 1 Coríntios 1–3, a expressão significa simplesmente os cristãos como os que têm um entendimento iluminado pelo Espírito Santo, já que Paulo não está fazendo na passagem uma distinção soteriológica entre aqueles que têm o Espírito (crentes) e os que não o têm (perdidos). A forte concentração em 1 Co 2.6-16 de palavras do domínio semântico de "saber, conhecer" confirma isso (sofi/a, ginw/skw, oi)/da, a)pokalu/ptw, sugkri/nw, a)nakri/nw).
Podemos dizer que em todas as ocorrências do masculino em 1 Coríntios (2.13[?],15; 3.1 e 14.37)(61)  não há qualquer razão irrefutável para que não interpretemos pneumatiko/j no seu sentido mais amplo e geral, ou seja, "pessoas com entendimento dado pelo Espírito Santo."
Talvez a única exceção seja 14.37, onde Paulo associa pneumatiko/j com profhth/j. Alguns estudiosos entendem que os dois termos aqui ("espiritual" e "profeta") designam a mesma pessoa.(62)  Esse é o pensamento de Ellis, embora aqui e acolá ele tente estabelecer uma distinção, como já vimos acima. Outros fazem uma distinção entre o "espiritual" e o "profeta", mas consideram o "espiritual" como sendo o que fala em línguas, como Gillespie(63)  e Painter.(64)  Mesmo assim, ainda seria possível, como Meyer sugere, entender o termo como se referindo ao Geistbegabter ("o que tem o Espírito"), do qual o profeta seria uma subespécie.(65) 
Também é possível que Paulo esteja usando o termo ironicamente, no sentido em que os coríntios o compreendiam. Ainda assim, o pneumatiko/j pode ainda ser entendido como alguém espiritualmente maduro.(66)  Em nossa opinião, esse é o sentido em 14.37, e também em 2.6-16. Paulo está se referindo ao que é espiritualmente maduro, e nada mais.
Nossa conclusão é que pneumatiko/j em 1 Co 2.6-16 significa ser maduro no entendimento e na conduta, uma condição aberta a todos os crentes.

Conclusões

O termo pneumatiko/j foi usado por Paulo em 1 Co 2.13,15 e 3.1 em sua crítica pastoral de que os coríntios eram sarkikoi/ ("carnais", 3.1,3). O contexto das passagens e a associação de pneumatiko/j com te/leiojmostram que Paulo não está se referindo a uma classe de cooperadores seus (profetas cristãos), mas a cristãos comuns, que haviam atingido, no processo normal de santificação e crescimento, um nível de maturidade espiritual no qual podiam entender claramente a mensagem do apóstolo, que era Cristo crucificado, a sabedoria de Deus.
Quais são as implicações da nossa pesquisa para o debate atual acerca da espiritualidade? Creio que duas podem ser enfatizadas.

1. Espiritualidade tem a ver Primariamente com Maturidade Espiritual
Os coríntios pensavam de si mesmos como crentes espirituais, em virtude das manifestações carismáticas — especialmente a glossolália — que ocorriam durante o culto. Esse conceito levou-os até mesmo a se gloriarem contra Paulo e a se julgarem superiores ao apóstolo, apesar de estarem divididos em várias facções internas, e de permitirem na igreja pessoas de comportamento imoral e até mesmo quem negasse uma doutrina tão básica quanto a ressurreição dos mortos. Paulo os considera não como espirituais, mas como carnais. Em vez de serem crentes amadurecidos, eram meninos em Cristo, apesar do tempo decorrido desde sua conversão. A falha dos coríntios em perceber as implicações éticas, morais e práticas da cruz de Cristo demonstrava que não eram espirituais, mas carnais. Ser espiritual, diz Paulo, é ter a mente de Cristo. Portanto, a busca da espiritualidade "carismática" como se fosse aquela ensinada pela Bíblia é equivocada. É repetir os erros dos coríntios.

2. Espiritualidade é o Resultado do Crescimento Progressivo na Graça de Deus
Os que desejam ser realmente espirituais devem procurar o crescimento espiritual equilibrado pela santificação, crescendo na graça e no conhecimento de Cristo, amadurecendo no conhecimento e na fé. Muito mais do que crentes "carismáticos," hoje a igreja evangélica no Brasil precisa de crentes maduros, adultos, sóbrios, equilibrados, firmes na fé. E isso não acontece da noite para o dia — é o resultado de um processo, por vezes longo, de treinamento espiritual, de disciplina espiritual, de constância e do uso regular dos meios de graça. Não há atalho para a maturidade.

BIBLIOGRAFIA
Washer, Paul. 10 Acusações contra a Igreja Moderna. Fiel.
Reisinger, Ernest. Existe Mesmo o Crente Carnal? Fiel.
Portela, Solano. Crente Carnal?  (Artigo)]
Nicodemus, Augustus. Paulo e os Espirituais de Corinto. Fides Reformata.

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