4ª
ACUSAÇÃO: UMA IGNORÂNCIA QUANTO AO
EVANGELHO DE JESUS CRISTO.
Rm 5.8-9
Podemos afirmar que o
Brasil não é um país endurecido em relação ao evangelho; mas sim que ele é
ignorante quanto ao evangelho, porque muitos pregadores o são. O mal de nosso
país não é a corrupção política, ou o liberalismo teológico, ou a teologia da
prosperidade, nem a Rede Globo. O nosso problema é que pegamos o glorioso
evangelho do nosso bendito Deus e o reduzimos a quatro leis espirituais ou a
cinco coisas que Deus deseja que você saiba, com uma pequena oração
supersticiosa no final. Se alguém repete a nossa oração, com sinceridade,
declaramos prontamente que ele nasceu de novo. Temos trocado regeneração por decisão.
Como deve ser apresentado
o evangelho?
O evangelho começa com
a natureza de Deus, então ele mostra a natureza do homem e do seu estado caído.
E, com base nessas verdades, essas duas grandes colunas do evangelho
estabelecem para nós o que deve ser conhecido por todo crente como o grande
dilema. Qual é esse dilema? O maior problema em toda a Escritura é este: se Deus é justo, ele não pode perdoar o
pecado dos homens. Como Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, o
justificador dos ímpios, quando toda a Escritura diz o contrário.
Pv 17.15
É isso que temos que
apresentar às pessoas. O grande problema é que Deus é sinceramente justo, e
todos os homens são verdadeiramente ímpios. Para ser justo, Deus tem que
condenar o homem ímpio. Aqui vem o
evangelho: Mas Deus, tendo em vista a sua própria glória e demonstrando grande
amor por nós, enviou o seu filho, que viveu nessa terra como homem perfeito. E,
depois, em harmonia com o plano eterno de Deus, o filho morre na cruz, no
Calvário. E na cruz ele levou o nosso pecado, tornando-se o nosso substituto e
assumindo a nossa culpa, se tornou maldição por nós.
Gl 3.10-13
Muitas pessoas têm uma
visão romântica e pobre do evangelho que Cristo estava lá, pendurado na cruz,
sofrendo as aflições impostas pelo império romano, e o Pai não teve a fortaleza
moral de suportar o sofrimento de seu Filho, então, ele se retirou. Não, o pai
se retirou porque o seu filho se tornou pecado.
Alguns interpretam mal
as palavra de Jesus em Mt 26.19. Interpretam que o grande sofrimento que viria
seria a cruz, os chicotes, os cravos e todo aquele sofrimento. Não podemos
ignorar o sofrimento físico de Cristo na cruz. Mas o cálice era a ira de Deus
que seria derramada sobre Jesus Cristo. Alguém tinha que morrer, levando a
culpa dos redimidos.
Is 53.10
Quando o evangelho é
pregado e compartilhado na evangelização pessoal, ouvimos algo sobre a justiça
e a ira de Deus? Quase nunca. A evangelização contemporânea raramente deixa
claro que Cristo foi capaz de redimir-nos porque foi esmagado sob a justiça de
Deus - e satisfazendo com a sua morte a justiça divina, Deus é agora justo e o justificador do ímpio.
Quando Abraão leva
Isaque, seu filho amado, seu único filho para ser sacrificado o Espírito estava
nos dizendo algo sobre o futuro. Isaac
não ofereceu qualquer resistência e deitou-se no altar. Mas o fato de Deus ter
impedido o sacrifício não foi o final da história, foi apenas um intervalo de
milhares de anos. Pois Deus o pai, pegou o cutelo, colocou a mão sobre o rosto
do seu filho, seu único e amado filho, e com toda a força, com toda a sua ira
desferiu um golpe fatal em seu coração.
Isso é o evangelho,
isso tem relevância, o evangelho é a cruz.
Mas também temos uma
ignorância com relação à doutrina da regeneração. Esse é um princípio fundamental do evangelho.
A salvação não pode ser manipulada pelo pregador, só o Deus todo poderoso,
magnífico pode promovê-la.
Entendo que na pregação
há mestres, pregadores e expositores. Todos eles são necessários para a saúde
da igreja. Mas sem a ação do Espírito Santo não acontece nada, é Ele quem dá a
vida.
Jo 6.63
Portanto, todos nós que
proclamamos a palavra de Deus devemos fazer como um profeta. Isso significa que
somos como Ezequiel no vale de ossos secos.
Ez 37.1-2
Caminhamos entre os
ossos e dizemos: ouçam a Palavra de Deus!
E sabemos que o Espírito Santo tem que soprar nesses mortos, caso
contrário, eles não viverão. Quando assimilamos essa verdade não nos
entregaremos à manipulação que é tão comum, hoje em dia, na evangelização.
Muitos acham que nascer
de novo significa apenas que, em algum momento, em alguma cruzada de
evangelização, a pessoa tomou uma decisão e acha que foi sincera. Mas muitas dessas pessoas vivem como
demônios, e não como nascidas de novo.
2 Co 5.17
5ª
Acusação: Um Convite antibíblico ao evangelho.
Mc
1.15
Como é o convite para o evangelho?
Não basta simplesmente
fazer uma oração repetida e afirmar que aceitou Jesus
Um profundo autoexame é
necessário para se ter convicção que que nasceu de novo.
2 Co 13.5
Não podemos nos esquecer que a salvação é somente pela graça.
É uma obra de Deus. É graça sobre graça. Mas a evidência da conversão não é
apenas o exame da nossa sinceridade no momento da conversão. É um fruto
permanente em nossa vida.
Afinal as Escrituras
afirmam que uma árvore é conhecida por seu fruto.
Mt 7.20
Parte da culpa está nos
pregadores. Muitos de nós falamos de muitas coisas e depois lançamos o convite.
Dizer simplesmente que Deus ama o pecador e tem um plano maravilhoso para ele é
pouco.
Em uma cultura
influenciada pela autoestima a pessoa pensa: O que? Deus me ama! Bem, isso é
ótimo porque eu também me amo. Eu também tenho um plano maravilhoso para a
minha vida.
Isso não é conversão
bíblica. Vamos ver como Deus vai a Moisés?
Ex 34.6-8
A evangelização começa
com a natureza de Deus. Quem é Deus? Um homem pode reconhecer alguma coisa
sobre o seu pecado, se não tem padrões pelos quais pode comparar a si mesmo? Se
falamos aos homens somente coisas triviais sobre Deus, coisas que agradam a
mente carnal, os homens não serão trazidos genuinamente ao arrependimento e à
fé.
1.
Não começamos com: “Deus ama você e tem
um plano maravilhoso.” Temos de começar com um discurso sobre todo o ensino a
respeito da natureza de Deus. E temos de dizer à pessoa, desde o início, que
isso pode lhe custar a vida (Mt 16.24).
2.
Em seguida, devemos levar a pessoa a
refletir sobre a sua própria condição. Ela precisa entender o quão pecadora
é. Ela precisa entender que há um mal
terrível nela e que o julgamento está vindo. Devemos levar a pessoa a odiar o
pecado e a fugir dele.
3.
Devemos levar a pessoa a ver provas de
conversão nela mesma. O que acontece hoje? As crianças vão para uma EBD ou uma
EBF e ouvem a expressão: “Jesus é maravilhoso. Quem ama a Jesus? Quem quer ter
Jesus no coração?”
Quando
chegam aos 15 ou 16 anos começam a romper os laços. Começam a viver na
impiedade. Se afastam da igreja. Acabam
a faculdade e muitos voltam para a igreja, se unem à membresia e vivem uma
falsa moralidade cristã que envolve o igrejismo. E muitos deste ouvirão Mt 7.23.
E
aí agente fala prá essa pessoa: mas você é tão bravo, maledicente, fofoqueiro,
consumista, etc. A pessoa diz: Não tenho o direito de ser?
Não
devemos perguntar: você que ir para o céu? Todo mundo quer. Só não querem que
Deus esteja no céu quando eles chegarem lá.
A
pergunta certa é: Você quer Deus? Já parou de odiar Deus? Cristo se tornou
precioso para você? Você deseja a Cristo?
Então
a pergunta não deve ser se a pessoa quer ir para o céu e ter tudo lá, mas se
ela quer Deus, se Cristo se tornou precioso para ela.
Devemos
perguntar: Você deseja a Cristo, você vê o seu próprio pecado?
E,
então, devemos examinar alguma passagens bíblicas que explicam o que é arrependimento e
confiança em Cristo.
Temos autoridade para
anunciar aos homens o evangelho, para dizer-lhes como podem ser salvos e
autoridades para ensinar-lhes princípios bíblicos de segurança. Mas não temos
nenhuma autoridade para dizer aos homens que eles são salvos. Isso é obra do
Espírito Santo de Deus!
Como funciona a
evangelização hoje?
“Você convidou Jesus a
entra em seu coração?”
“Sim”, ele responde.
“Você está sendo
sincero?”
“Sim.”
“Você acha que Cristo o
salvou?”
“Não sei.”
“É claro que ele o
salvou porque você foi sincero. E ele prometeu que, se você pedisse que
entrasse em seu coração, ele entraria. Portanto, você está salvo.”
Depois de cinco minutos
de aconselhamento eles saem da igreja, mas ele está perdido.
Isto é um convite
antibíblico. Pessoas convertidas vivem em crescimento, mesmo em um contexto de
uma igreja sem crescimento. E ai entramos no mito do crente carnal. Essa
doutrina é muito perigosa.
Os crentes lutam contra
o pecado? Sim.
Um crente pode cair em
pecado? Sim.
Mas um crente pode
viver em um estado permanente de carnalidade, todos os dias de sua vida, não
produzindo fruto, e ser um verdadeiro crente? Não, de modo nenhum. Porque se
assim for algumas passagens seriam mentirosas.
Hb 12.6; Lc 6.44
Ler trecho do livro de
Paul Washer (pg. 54).
O conceito do crente
carnal envolve o entendimento de que na igreja existiriam muitos
que permanecem em um estágio inferior e primitivo de espiritualidade mantendo
um comportamento virtualmente similar ao do incrédulo.
Essa idéia é perigosa, por que refletimos com ela a tendência renitente (mas não bíblica) de categorizarmos as pessoas em três classes [1] , quanto ao status espiritual dessas perante o soberano criador. No conceito do "crente carnal", essa divisão tríplice seria:
(1) os incrédulos, (2) os crentes carnais e (3) os crentes espirituais.
O incrédulo, dispensa descrição. O crente espiritual seria uma superior categoria de crentes, dissociada do crente carnal - a categoria inferior. Crente espiritual não representaria, meramente, uma descrição dos salvos por Cristo, uma vez que os "carnais" também o seriam, mas identificaria aqueles que deram o segundo passo de aceitação, em direção a Deus. Já haviam aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceitam como Senhor.
Essa idéia é perigosa, por que refletimos com ela a tendência renitente (mas não bíblica) de categorizarmos as pessoas em três classes [1] , quanto ao status espiritual dessas perante o soberano criador. No conceito do "crente carnal", essa divisão tríplice seria:
(1) os incrédulos, (2) os crentes carnais e (3) os crentes espirituais.
O incrédulo, dispensa descrição. O crente espiritual seria uma superior categoria de crentes, dissociada do crente carnal - a categoria inferior. Crente espiritual não representaria, meramente, uma descrição dos salvos por Cristo, uma vez que os "carnais" também o seriam, mas identificaria aqueles que deram o segundo passo de aceitação, em direção a Deus. Já haviam aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceitam como Senhor.
Essa idéia do "Crente Carnal" procede de uma compreensão superficial das palavras do apóstolo Paulo, em 1 Cor 3.1-4, e foi popularizada nas notas de rodapé da famosa Bíblia de Scofield. Infelizmente, essa "doutrina" encontrou abrigo em nosso meio, o que nos impele a esse esclarecimento maior.
Como imperfeitos e pecadores que somos, até a nossa
glorificação, cada um de nós exibe um grau maior ou menor de carnalidade em
nossas atitudes. Existe, portanto a possibilidade, nos crentes, de
manifestações de comportamento semelhantes ao do incrédulo - isso é carnalidade no
sentido ético/moral, utilizado por Paulo. Ela deve ser exposta, reprovada e a
convicção de sua presença deve nos levar aos pés de Cristo em arrependimento
sincero e genuíno.
Paulo não chega, entretanto, a transmitir a idéia
da existência de uma terceira categoria de pessoas nas quais faltaria um passo
adicional à salvação. No contexto da primeira carta aos coríntios, ele deixa
claro, no cap. 1, que está escrevendo àqueles que foram santificados em
Cristo Jesus. No cap. 2, ele descreve os seus leitores omo "recebedores
da graça de Deus, enriquecidos em toda palavra e em todo o entendimento" e
traça aquela única distinção que é verdadeiramente bíblica: o ser humano natural e
o ser humano espiritual - caracterizando o que se encontra
ainda morto em delitos e pecados, e aquele que foi alcançado pela graça
salvadora de Jesus Cristo.
Esse último, como espiritual que é (isto é: gerado pelo Espírito Santo), tem a possibilidade de discernir o ensinamento do Espírito e de manter sintonia com o Deus Supremo. Por essa razão, o comportamento específico tratado nos versos iniciais do capítulo 3 - partidarismo e espírito de divisão e dissensão (uns de Paulo, outros de Apolo), era incompatível com a fé professada. Paulo vê-se, portanto, forçado a dirigir-se a eles como descrentes procurando-os sacudi-los à racionalidade cristã. Como espirituais, tinham que apresentar crescimento. Não podiam permanecer como crianças e exibir carnalidade.
Esse último, como espiritual que é (isto é: gerado pelo Espírito Santo), tem a possibilidade de discernir o ensinamento do Espírito e de manter sintonia com o Deus Supremo. Por essa razão, o comportamento específico tratado nos versos iniciais do capítulo 3 - partidarismo e espírito de divisão e dissensão (uns de Paulo, outros de Apolo), era incompatível com a fé professada. Paulo vê-se, portanto, forçado a dirigir-se a eles como descrentes procurando-os sacudi-los à racionalidade cristã. Como espirituais, tinham que apresentar crescimento. Não podiam permanecer como crianças e exibir carnalidade.
O ensinamento do "crente carnal" tem o
resultado prático de confortar indevidamente aqueles que, mesmo fazendo parte
da igreja local, levam uma vida desregrada, fora dos padrões das Escrituras,
mas se auto-analisam como pertencentes a essa categoria. Essas pessoas, na
realidade, deveriam estar examinando a genuinidade da salvação que professam.
1.
Somos santificados passivamente?
Isto é, pela fé somente,
sem obediência à lei de Deus? Se a santificação é passiva, um ponto de vista
representado pelas palavras: “Deixe isso nas mãos de Deus.” Então como
poderíamos entender afirmações apostólicas expressadas em palavras como: eu
luto, eu corro, subjugo o meu corpo, purifiquemo-nos, esforcemo-nos. Essas
afirmações não expressam uma condição passiva.
2.
Será que um apelo ao chamado crente carnal, para que se torne um crente
espiritual, não reduz a experiência real de conversão?
2 Co 5.17 essas palavras
se referem a uma experiência real de conversão, não a uma segunda experiência.
3.
Será que o crente espiritual, para de crescer na graça?
4.
Quem decide quais são os crentes carnais? Quais os padrões usados para
se medir isso? Desde que todos os crentes ainda têm em si algum pecado, e desde
que pecam todos os dias, que graus de pecado e quais pecados específicos
definiriam esses crentes?
Em Rm 8.1-9 faz-se uma
divisão, mas não é entre crentes carnais e espirituais. Mas entre os que andam
segundo a carne (não regenerados) e os que pertencem a Cristo. Não existe uma
terceira categoria. Em Gl 5.17-24 também vemos que há apenas duas categorias:
os que produzem as obras da carte e os que são guiados pelo Espírito.
Aspectos que precisam ser levados em conta:
1- Sim há
crentes bebês em Cristo, e há diferentes estágios entre os bebês, no que se
refere à compreensão da verdade divina e no que tange ao crescimento
espiritual.
2- Sim,
há um sentido em que todo crente é carnal. Nem todas as características do
cristianismo se fazem igualmente visíveis em todos os crentes. O amor, a
obediência e a devoção variam no mesmo crente em diferentes períodos de sua
experiência cristã; ou seja, existem muitos estágios na santificação. O
progresso do crente, em seu crescimento, não é constante e sem perturbações.
Analisando 1 Co 3.1-4
Para entenderemos essa
passagem precisamos levar em conta que a Carta de 1 Coríntios não é uma carta
doutrinária. Ele contém doutrina, mas não foi escrita com essa finalidade como
Romanos. A preocupação primária de Paulo foi tratar problemas práticos em uma
igreja nova. No terceiro capítulo ele trata do problema das divisões que surgiu
de uma apreciação errada por aqueles que haviam pregado o evangelho os
coríntios.
Os crentes em corinto
estavam dando atenção a causas secundárias e esquecendo a Deus a quem pertence
toda a glória. Ao invés de dizerem: “Somos discípulos de Cristo” e reconhecerem
sua união nEle, estavam formando partidos e dizendo: “Nós somos de Paulo, porque
ele fundou a igreja em nossa cidade” ou “Apolo é mais eloquente que Paulo e nos
edifica mais do que Paulo”; “Nós somos de Pedro”. Assim, partidos opostos
haviam se formado.
Portanto, a divisão
dentro da igreja era o principal problema tratado no capítulo. Mas esse
problema, contudo, tem uma raiz comum a todos os outros problema tratados em 1
Coríntios – a defraudação de um irmão por outro, a desordem na ceia do Senhor,
e assim por diante. Todos os problemas eram causados pela carnalidade, a luta
interna do coração contra o pecado, descrita em Rm 7.21-23.
Para entendermos melhor o
que Paulo quer dizer com carnalidade não devemos nos ater à maneira como ele
ser refere aos corintos no capítulo 1, ele afirma que os coríntios são
“santificados em Cristo Jesus” , que são recipientes da “graça de Deus”, que
são enriquecidos em “toda palavra e todo conhecimento” (1.2-5).
Eles são repreendidos no
capitulo três, não por deixarem da alcançar os privilégios que alguns crentes
alcançam, mas por agirem, a despeito de seus privilégios, como bebês e como
não-regenerados em algumas áreas de suas vidas.
Isso é bem diferente de
dizer que o apóstolo reconhece aqui um grupo distinto dentro da igreja chamado
de crentes carnal. Paulo só reconhece duas classes de pessoa os naturais e os
espirituais (1 Co 2.14,15).
Ao falar dos carnais,
Paulo não está dizendo que eles eram caracterizados pela carnalidade, mas
reprovando um fruto específico da carnalidade, num certo aspecto. O que é fato
é que todos que estão em Cristo são nova criatura (2 Co 5.17).
Temos que ter cuidado em
não fazer uma doutrina baseados em um texto das escrituras. Um dos pais da igreja afirmou: “Se você tem
apenas uma passagem em que basear uma doutrina importante, é bem provável que
você, depois de um exame cuidadoso, descubra que não tem nenhuma.”
A doutrina do crente
carnal, é, afinal, consequência de um evangelismo fraco, antropocêntrico, no
qual as decisões são buscadas a qualquer preço e por quaisquer métodos. Quando
aqueles que são declarados convertidos não agem como crentes, não amam o que os
crentes amam, nem odeiam o que os crentes odeiam, nem servem voluntariamente a
Cristo em sua igreja, deve-se encontrar uma outra explicação além de chama-los
de crentes carnais, eles devem ser chamados a se decidirem a favor de Cristo,
pois não são crentes. Pois ainda não fizeram de Cristo o seu Senhor, não
deixaram que ele ocupasse o trono de seus corações. Em geral, a entrada deste
tipo de crentes na igreja está ligada a um erro no evangelismo. O evangelismo moderno
substitui o arrependimento e a fé salvadora, pela decisão. O perdão é pregado
sem a verdade de que o Espírito Santo transforma corações. Sendo assim,
decisões são encaradas como se fossem conversões, mesmo não havendo nenhuma
evidência de uma operação sobrenatural na vida da pessoa.
Portanto, devemos
resgatar o evangelismo neotestamentário, que demonstra que não é suficiente
professar ser crente, que não é suficiente chamar Jesus de Senhor (Lc 6.46),
são necessárias evidências de um novo nascimento. Temos apenas duas
alternativas: a vida natural ou a vida espiritual, o caminho largo ou o caminho
estreito. Um coração não transformado levará o homem ao inferno (Ef 5.6).
Os Espirituais: Crentes Maduros.
A terceira e última
interpretação que desejamos considerar é a de que Paulo, ao usar o termo,
refere-se a crentes maduros. Creio que essa é a melhor interpretação da
passagem não somente pelos motivos que temos exposto até agora como ainda pelos
que se seguem.
O ponto inicial que
precisamos observar aqui (e que tem sido negligenciado por Ellis e outros) é
que Paulo faz uma distinção entre "nós" e os
"maduros/espirituais" em 1 Co 2.6:
Entretanto,
[nós] expomos sabedoria entre os
experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta
época, que se reduzem a nada.
A frase poderia ser
traduzida como "falamos sabedoria aos maduros,"(50) como 3.1 sugere:
Eu,
porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais e sim como a carnais, como
a crianças em Cristo.
Esta distinção entre
"nós" e os "maduros/espirituais" pode ser mantida em toda a
seção (1 Co 1–4), possivelmente com a única exceção de 2.7b, 15-16. Aqueles
identificados como "nós" falam a sabedoria de Deus oculta em
mistério, e os "maduros/espirituais" ouvem e compreendem, pelo
Espírito (2.6,13,14-15).
A primeira pessoa do
plural, "nós," na passagem, está refletindo o ministério de Paulo
entre os maduros da igreja. Quem são as pessoas às quais ele se associa, usando
o pronome? Cremos que Paulo refere-se a si mesmo e aos demais apóstolos.(51)
O passo seguinte na
pesquisa é examinar mais de perto o sentido de te/leioj (2.6, "maduro, perfeito"),
tendo em vista sua relação óbvia com pneumatiko/j ("espiritual") na passagem.
A grande maioria dos críticos concorda que o "espiritual" de 2.13,15
corresponde ao "maduro" de 2.6.(52) Mas, nem todos estão de acordo se
Paulo refere-se aos cristãos em geral, ou a um grupo dentre eles.(53)
Na nossa opinião, a
idéia de crescimento e de maturidade está presente quando Paulo usa o termo te/leioi ("perfeitos") em 2.6. Ele
está se referindo, não a todos os crentes, mas àqueles que têm crescido na fé,
que têm amadurecido em seu conhecimento e sua conduta, ao ponto de poder captar
as implicações da pregação apostólica da sabedoria oculta de Deus, Cristo
crucificado. Paulo está fazendo uma distinção, não entre crentes e descrentes,
mas uma distinção interna na comunidade, entre crentes maduros e aqueles
crentes que não são maduros.
É certo que Paulo às
vezes emprega te/leioj ("maduro",
"perfeito") no sentido escatológico, referindo-se a todos os crentes
como já desfrutando das bênçãos escatológicas e futuras de Deus (ver Fp
3.12).(54) Neste sentido,
os crentes são "perfeitos", ou tem sido "aperfeiçoados" por
Cristo. Mas aqui em 1 Co 2.6 está claro que o sentido não é escatológico. Paulo
está fazendo uma distinção intramuros.(55)
Essa distinção,
entretanto, não deve ser exagerada. Ela não é fixa e determinada, como se Paulo
reconhecesse duas classes de crentes. Essa distinção é apenas em termos de
conhecimento e compreensão. O contraste entre pneumatikoj/te/leioj e sarkiko/j/nh/pioi em 3.1-2, e entre ga/ la ("leite") e brw=ma ("comida sólida," ver Hb
5.11-14), claramente sugere um progresso no entendimento e no comportamento dos
cristãos.(56)
Além disso, o contraste
entre um entendimento infantil e um entendimento adulto ocorre mais duas vezes
na carta (13:10-11, 14:20), e, em ambos os casos, a idéia de níveis de
entendimento espiritual, refletindo diferentes estágios no processo de
crescimento, está presente.
Em 1 Co 13.10, apesar
de te/leion ("perfeitos") ter
provavelmente uma conotação escatológica, o contraste nh/pioj/a)nh/r ("menino/homem") no verso
seguinte (13.11) retém a idéia de dois níveis distintos de compreensão
espiritual. Em 14.20, onde Paulo contrasta paidi/a ("meninos") e te/leioi ("maduros"), a idéia é ainda
mais evidente. Du Plessis conclui: "A distinção é entre uma percepção de
criança e aquela de um homem adulto."(57) Sugerimos que a distinção é
a mesma em 1 Co 3.1.(58)
O fato de que Paulo faz
uma distinção entre os cristãos ("espirituais" e "carnais")
não significa que ele tinha, necessariamente, uma mensagem de sabedoria
reservada para aqueles poucos "iluminados," distinta do seukerygma habitual, como sugere
Scroggs.(59) O conteúdo do kerygma de Paulo, e mesmo da sophia que ele tem para compartilhar com
os mais experimentados, é Cristo crucificado (1.17, 23-24, 30; 2.1-2; 2.8).(60)
Concluindo, quando
Paulo usa o adjetivo pneumatiko/j em 1 Coríntios 1–3, a expressão
significa simplesmente os cristãos como os que têm um entendimento iluminado
pelo Espírito Santo, já que Paulo não está fazendo na passagem uma distinção
soteriológica entre aqueles que têm o Espírito (crentes) e os que não o têm
(perdidos). A forte concentração em 1 Co 2.6-16 de palavras do domínio
semântico de "saber, conhecer" confirma isso (sofi/a, ginw/skw, oi)/da, a)pokalu/ptw, sugkri/nw, a)nakri/nw).
Podemos dizer que em
todas as ocorrências do masculino em 1 Coríntios (2.13[?],15; 3.1 e
14.37)(61) não há qualquer
razão irrefutável para que não interpretemos pneumatiko/j no seu sentido mais amplo e geral, ou
seja, "pessoas com entendimento dado pelo Espírito Santo."
Talvez a única exceção
seja 14.37, onde Paulo associa pneumatiko/j com profhth/j.
Alguns estudiosos entendem que os dois termos aqui ("espiritual" e
"profeta") designam a mesma pessoa.(62) Esse é o pensamento de Ellis, embora
aqui e acolá ele tente estabelecer uma distinção, como já vimos acima. Outros
fazem uma distinção entre o "espiritual" e o "profeta", mas
consideram o "espiritual" como sendo o que fala em línguas, como
Gillespie(63) e
Painter.(64) Mesmo assim,
ainda seria possível, como Meyer sugere, entender o termo como se referindo ao Geistbegabter ("o que tem o Espírito"), do
qual o profeta seria uma subespécie.(65)
Também é possível que
Paulo esteja usando o termo ironicamente, no sentido em que os coríntios o
compreendiam. Ainda assim, o pneumatiko/j pode ainda ser entendido como alguém
espiritualmente maduro.(66) Em
nossa opinião, esse é o sentido em 14.37, e também em 2.6-16. Paulo está se
referindo ao que é espiritualmente maduro, e nada mais.
Nossa conclusão é que pneumatiko/j em 1 Co 2.6-16 significa ser maduro no
entendimento e na conduta, uma condição aberta a todos os crentes.
Conclusões
O termo pneumatiko/j foi usado por Paulo em 1 Co 2.13,15 e
3.1 em sua crítica pastoral de que os coríntios eram sarkikoi/ ("carnais", 3.1,3). O
contexto das passagens e a associação de pneumatiko/j com te/leiojmostram
que Paulo não está se referindo a uma classe de cooperadores seus (profetas
cristãos), mas a cristãos comuns, que haviam atingido, no processo normal de
santificação e crescimento, um nível de maturidade espiritual no qual podiam
entender claramente a mensagem do apóstolo, que era Cristo crucificado, a
sabedoria de Deus.
Quais são as
implicações da nossa pesquisa para o debate atual acerca da espiritualidade?
Creio que duas podem ser enfatizadas.
1. Espiritualidade
tem a ver Primariamente com Maturidade Espiritual
Os coríntios pensavam
de si mesmos como crentes espirituais, em virtude das manifestações
carismáticas — especialmente a glossolália — que ocorriam durante o culto. Esse
conceito levou-os até mesmo a se gloriarem contra Paulo e a se julgarem
superiores ao apóstolo, apesar de estarem divididos em várias facções internas,
e de permitirem na igreja pessoas de comportamento imoral e até mesmo quem
negasse uma doutrina tão básica quanto a ressurreição dos mortos. Paulo os
considera não como espirituais, mas como carnais. Em vez de serem crentes
amadurecidos, eram meninos em Cristo, apesar do tempo decorrido desde sua
conversão. A falha dos coríntios em perceber as implicações éticas, morais e
práticas da cruz de Cristo demonstrava que não eram espirituais, mas carnais.
Ser espiritual, diz Paulo, é ter a mente de Cristo. Portanto, a busca da
espiritualidade "carismática" como se fosse aquela ensinada pela
Bíblia é equivocada. É repetir os erros dos coríntios.
2. Espiritualidade é
o Resultado do Crescimento Progressivo na Graça de Deus
Os que desejam ser
realmente espirituais devem procurar o crescimento espiritual equilibrado pela
santificação, crescendo na graça e no conhecimento de Cristo, amadurecendo no
conhecimento e na fé. Muito mais do que crentes "carismáticos," hoje
a igreja evangélica no Brasil precisa de crentes maduros, adultos, sóbrios,
equilibrados, firmes na fé. E isso não acontece da noite para o dia — é o
resultado de um processo, por vezes longo, de treinamento espiritual, de disciplina
espiritual, de constância e do uso regular dos meios de graça. Não há atalho
para a maturidade.
BIBLIOGRAFIA
Washer, Paul. 10
Acusações contra a Igreja Moderna. Fiel.
Reisinger, Ernest.
Existe Mesmo o Crente Carnal? Fiel.
Portela, Solano. Crente
Carnal? (Artigo)]
Nicodemus, Augustus.
Paulo e os Espirituais de Corinto. Fides Reformata.
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