terça-feira, 15 de janeiro de 2013

SÉRIE 10 ACUSAÇÕES CONTRA A IGREJA MODERNA


4ª ACUSAÇÃO:  UMA IGNORÂNCIA QUANTO AO EVANGELHO DE JESUS CRISTO.

Rm 5.8-9

Podemos afirmar que o Brasil não é um país endurecido em relação ao evangelho; mas sim que ele é ignorante quanto ao evangelho, porque muitos pregadores o são. O mal de nosso país não é a corrupção política, ou o liberalismo teológico, ou a teologia da prosperidade, nem a Rede Globo. O nosso problema é que pegamos o glorioso evangelho do nosso bendito Deus e o reduzimos a quatro leis espirituais ou a cinco coisas que Deus deseja que você saiba, com uma pequena oração supersticiosa no final. Se alguém repete a nossa oração, com sinceridade, declaramos prontamente que ele nasceu de novo. Temos trocado regeneração por decisão.

Como deve ser apresentado o evangelho?

O evangelho começa com a natureza de Deus, então ele mostra a natureza do homem e do seu estado caído. E, com base nessas verdades, essas duas grandes colunas do evangelho estabelecem para nós o que deve ser conhecido por todo crente como o grande dilema. Qual é esse dilema? O maior problema em toda a Escritura é este: se Deus é justo, ele não pode perdoar o pecado dos homens. Como Deus pode ser justo e, ao mesmo tempo, o justificador dos ímpios, quando toda a Escritura diz o contrário.
Pv 17.15

É isso que temos que apresentar às pessoas. O grande problema é que Deus é sinceramente justo, e todos os homens são verdadeiramente ímpios. Para ser justo, Deus tem que condenar o homem ímpio.  Aqui vem o evangelho: Mas Deus, tendo em vista a sua própria glória e demonstrando grande amor por nós, enviou o seu filho, que viveu nessa terra como homem perfeito. E, depois, em harmonia com o plano eterno de Deus, o filho morre na cruz, no Calvário. E na cruz ele levou o nosso pecado, tornando-se o nosso substituto e assumindo a nossa culpa, se tornou maldição por nós.
Gl 3.10-13

Muitas pessoas têm uma visão romântica e pobre do evangelho que Cristo estava lá, pendurado na cruz, sofrendo as aflições impostas pelo império romano, e o Pai não teve a fortaleza moral de suportar o sofrimento de seu Filho, então, ele se retirou. Não, o pai se retirou porque o seu filho se tornou pecado.
Alguns interpretam mal as palavra de Jesus em Mt 26.19. Interpretam que o grande sofrimento que viria seria a cruz, os chicotes, os cravos e todo aquele sofrimento. Não podemos ignorar o sofrimento físico de Cristo na cruz. Mas o cálice era a ira de Deus que seria derramada sobre Jesus Cristo. Alguém tinha que morrer, levando a culpa dos redimidos.
Is 53.10

Quando o evangelho é pregado e compartilhado na evangelização pessoal, ouvimos algo sobre a justiça e a ira de Deus? Quase nunca. A evangelização contemporânea raramente deixa claro que Cristo foi capaz de redimir-nos porque foi esmagado sob a justiça de Deus - e satisfazendo com a sua morte a justiça divina, Deus é agora justo  e o justificador do ímpio.
Quando Abraão leva Isaque, seu filho amado, seu único filho para ser sacrificado o Espírito estava nos dizendo algo sobre o futuro.  Isaac não ofereceu qualquer resistência e deitou-se no altar. Mas o fato de Deus ter impedido o sacrifício não foi o final da história, foi apenas um intervalo de milhares de anos. Pois Deus o pai, pegou o cutelo, colocou a mão sobre o rosto do seu filho, seu único e amado filho, e com toda a força, com toda a sua ira desferiu um golpe fatal em seu coração.
Isso é o evangelho, isso tem relevância, o evangelho é a cruz.

Mas também temos uma ignorância com relação à doutrina da regeneração.  Esse é um princípio fundamental do evangelho. A salvação não pode ser manipulada pelo pregador, só o Deus todo poderoso, magnífico pode promovê-la.

Entendo que na pregação há mestres, pregadores e expositores. Todos eles são necessários para a saúde da igreja. Mas sem a ação do Espírito Santo não acontece nada, é Ele quem dá a vida.
Jo 6.63

Portanto, todos nós que proclamamos a palavra de Deus devemos fazer como um profeta. Isso significa que somos como Ezequiel no vale de ossos secos.
Ez 37.1-2

Caminhamos entre os ossos e dizemos: ouçam a Palavra de Deus!  E sabemos que o Espírito Santo tem que soprar nesses mortos, caso contrário, eles não viverão. Quando assimilamos essa verdade não nos entregaremos à manipulação que é tão comum, hoje em dia, na evangelização.
Muitos acham que nascer de novo significa apenas que, em algum momento, em alguma cruzada de evangelização, a pessoa tomou uma decisão e acha que foi sincera.  Mas muitas dessas pessoas vivem como demônios, e não como nascidas de novo.
2 Co 5.17

5ª Acusação: Um Convite antibíblico ao evangelho.

Mc 1.15
Como  é o convite para o evangelho?
Não basta simplesmente fazer uma oração repetida e afirmar que aceitou Jesus
Um profundo autoexame é necessário para se ter convicção que que nasceu de novo.
2 Co 13.5
Não podemos nos  esquecer que a salvação é somente pela graça. É uma obra de Deus. É graça sobre graça. Mas a evidência da conversão não é apenas o exame da nossa sinceridade no momento da conversão. É um fruto permanente em nossa vida.
Afinal as Escrituras afirmam que uma árvore é conhecida por seu fruto.
Mt 7.20
Parte da culpa está nos pregadores. Muitos de nós falamos de muitas coisas e depois lançamos o convite. Dizer simplesmente que Deus ama o pecador e tem um plano maravilhoso para ele é pouco.
Em uma cultura influenciada pela autoestima a pessoa pensa: O que? Deus me ama! Bem, isso é ótimo porque eu também me amo. Eu também tenho um plano maravilhoso para a minha vida.
Isso não é conversão bíblica. Vamos ver como Deus vai a Moisés?
Ex 34.6-8
A evangelização começa com a natureza de Deus. Quem é Deus? Um homem pode reconhecer alguma coisa sobre o seu pecado, se não tem padrões pelos quais pode comparar a si mesmo? Se falamos aos homens somente coisas triviais sobre Deus, coisas que agradam a mente carnal, os homens não serão trazidos genuinamente ao arrependimento e à fé.
1.      Não começamos com: “Deus ama você e tem um plano maravilhoso.” Temos de começar com um discurso sobre todo o ensino a respeito da natureza de Deus. E temos de dizer à pessoa, desde o início, que isso pode lhe custar a vida (Mt 16.24).
2.      Em seguida, devemos levar a pessoa a refletir sobre a sua própria condição. Ela precisa entender o quão pecadora é.  Ela precisa entender que há um mal terrível nela e que o julgamento está vindo. Devemos levar a pessoa a odiar o pecado e a fugir dele.
3.      Devemos levar a pessoa a ver provas de conversão nela mesma. O que acontece hoje? As crianças vão para uma EBD ou uma EBF e ouvem a expressão: “Jesus é maravilhoso. Quem ama a Jesus? Quem quer ter Jesus no coração?”
Quando chegam aos 15 ou 16 anos começam a romper os laços. Começam a viver na impiedade.  Se afastam da igreja. Acabam a faculdade e muitos voltam para a igreja, se unem à membresia e vivem uma falsa moralidade cristã que envolve o igrejismo.  E muitos deste ouvirão Mt 7.23.
E aí agente fala prá essa pessoa: mas você é tão bravo, maledicente, fofoqueiro, consumista, etc. A pessoa diz: Não tenho o direito de ser?
Não devemos perguntar: você que ir para o céu? Todo mundo quer. Só não querem que Deus esteja no céu quando eles chegarem lá.
A pergunta certa é: Você quer Deus? Já parou de odiar Deus? Cristo se tornou precioso para você? Você deseja a Cristo?
Então a pergunta não deve ser se a pessoa quer ir para o céu e ter tudo lá, mas se ela quer Deus, se Cristo se tornou precioso para ela.
Devemos perguntar: Você deseja a Cristo, você vê o seu próprio pecado?
E, então, devemos examinar alguma passagens bíblicas  que explicam o que é arrependimento e confiança em Cristo.
Temos autoridade para anunciar aos homens o evangelho, para dizer-lhes como podem ser salvos e autoridades para ensinar-lhes princípios bíblicos de segurança. Mas não temos nenhuma autoridade para dizer aos homens que eles são salvos. Isso é obra do Espírito Santo de Deus!
Como funciona a evangelização hoje?
“Você convidou Jesus a entra em seu coração?”
“Sim”, ele responde.
“Você está sendo sincero?”
“Sim.”
“Você acha que Cristo o salvou?”
“Não sei.”
“É claro que ele o salvou porque você foi sincero. E ele prometeu que, se você pedisse que entrasse em seu coração, ele entraria. Portanto, você está salvo.”
Depois de cinco minutos de aconselhamento eles saem da igreja, mas ele está perdido.
Isto é um convite antibíblico. Pessoas convertidas vivem em crescimento, mesmo em um contexto de uma igreja sem crescimento. E ai entramos no mito do crente carnal. Essa doutrina é muito perigosa.
Os crentes lutam contra o pecado? Sim.
Um crente pode cair em pecado? Sim.
Mas um crente pode viver em um estado permanente de carnalidade, todos os dias de sua vida, não produzindo fruto, e ser um verdadeiro crente? Não, de modo nenhum. Porque se assim for algumas passagens seriam mentirosas.
Hb 12.6; Lc 6.44
Ler trecho do livro de Paul Washer (pg. 54).
O conceito do crente carnal envolve o entendimento de que na igreja existiriam muitos que permanecem em um estágio inferior e primitivo de espiritualidade mantendo um comportamento virtualmente similar ao do incrédulo. 

Essa idéia é perigosa, por que refletimos com ela a tendência renitente (mas não bíblica) de categorizarmos as pessoas em três classes [1] , quanto ao status espiritual dessas perante o soberano criador.  No conceito do "crente carnal", essa divisão tríplice seria: 
(1) os incrédulos, (2) os crentes carnais e (3) os crentes espirituais.

O incrédulo, dispensa descrição. O crente espiritual seria uma superior categoria de crentes, dissociada do crente carnal - a categoria inferior. Crente espiritual não representaria, meramente, uma descrição dos salvos por Cristo, uma vez que os "carnais" também o seriam, mas identificaria aqueles que deram o segundo passo de aceitação, em direção a Deus. Já haviam aceito a Cristo como Salvador, mas, em um segundo passo e em uma segunda experiência, o aceitam como Senhor.

Essa idéia do "Crente Carnal" procede de uma compreensão superficial das palavras do apóstolo Paulo, em 1 Cor 3.1-4, e foi popularizada nas notas de rodapé da famosa Bíblia de Scofield. Infelizmente, essa "doutrina" encontrou abrigo em nosso meio, o que nos impele a esse esclarecimento maior.
Como imperfeitos e pecadores que somos, até a nossa glorificação, cada um de nós exibe um grau maior ou menor de carnalidade em nossas atitudes. Existe, portanto a possibilidade, nos crentes, de manifestações de comportamento semelhantes ao do incrédulo - isso é carnalidade no sentido ético/moral, utilizado por Paulo. Ela deve ser exposta, reprovada e a convicção de sua presença deve nos levar aos pés de Cristo em arrependimento sincero e genuíno.
Paulo não chega, entretanto, a transmitir a idéia da existência de uma terceira categoria de pessoas nas quais faltaria um passo adicional à salvação. No contexto da primeira carta aos coríntios, ele deixa claro, no cap. 1, que está escrevendo àqueles que foram santificados em Cristo Jesus. No cap. 2, ele descreve os seus leitores omo "recebedores da graça de Deus, enriquecidos em toda palavra e em todo o entendimento" e traça aquela única distinção que é verdadeiramente bíblica: o ser humano natural e o ser humano espiritual - caracterizando o que se encontra ainda morto em delitos e pecados, e aquele que foi alcançado pela graça salvadora de Jesus Cristo.

Esse último, como espiritual que é (isto é: gerado pelo Espírito Santo), tem a possibilidade de discernir o ensinamento do Espírito e de manter sintonia com o Deus Supremo. Por essa razão, o comportamento específico tratado nos versos iniciais do capítulo 3 - partidarismo e espírito de divisão e dissensão (uns de Paulo, outros de Apolo), era incompatível com a fé professada. Paulo vê-se, portanto, forçado a dirigir-se a eles como descrentes procurando-os sacudi-los à racionalidade cristã. Como espirituais, tinham que apresentar crescimento. Não podiam permanecer como crianças e exibir carnalidade.
O ensinamento do "crente carnal" tem o resultado prático de confortar indevidamente aqueles que, mesmo fazendo parte da igreja local, levam uma vida desregrada, fora dos padrões das Escrituras, mas se auto-analisam como pertencentes a essa categoria. Essas pessoas, na realidade, deveriam estar examinando a genuinidade da salvação que professam.

Algumas perguntas fundamentais que precisam ser encaradas são as seguintes:

1.      Somos santificados passivamente?
Isto é, pela fé somente, sem obediência à lei de Deus? Se a santificação é passiva, um ponto de vista representado pelas palavras: “Deixe isso nas mãos de Deus.” Então como poderíamos entender afirmações apostólicas expressadas em palavras como: eu luto, eu corro, subjugo o meu corpo, purifiquemo-nos, esforcemo-nos. Essas afirmações não expressam uma condição passiva.
2.      Será que um apelo ao chamado crente carnal, para que se torne um crente espiritual, não reduz a experiência real de conversão?
2 Co 5.17 essas palavras se referem a uma experiência real de conversão, não a uma segunda experiência.
3.      Será que o crente espiritual, para de crescer na graça?
4.      Quem decide quais são os crentes carnais? Quais os padrões usados para se medir isso? Desde que todos os crentes ainda têm em si algum pecado, e desde que pecam todos os dias, que graus de pecado e quais pecados específicos definiriam esses crentes?
Em Rm 8.1-9 faz-se uma divisão, mas não é entre crentes carnais e espirituais. Mas entre os que andam segundo a carne (não regenerados) e os que pertencem a Cristo. Não existe uma terceira categoria. Em Gl 5.17-24 também vemos que há apenas duas categorias: os que produzem as obras da carte e os que são guiados pelo Espírito.

Aspectos que precisam ser levados em conta:
1-      Sim há crentes bebês em Cristo, e há diferentes estágios entre os bebês, no que se refere à compreensão da verdade divina e no que tange ao crescimento espiritual.
2-      Sim, há um sentido em que todo crente é carnal. Nem todas as características do cristianismo se fazem igualmente visíveis em todos os crentes. O amor, a obediência e a devoção variam no mesmo crente em diferentes períodos de sua experiência cristã; ou seja, existem muitos estágios na santificação. O progresso do crente, em seu crescimento, não é constante e sem perturbações.
Analisando 1 Co 3.1-4
Para entenderemos essa passagem precisamos levar em conta que a Carta de 1 Coríntios não é uma carta doutrinária. Ele contém doutrina, mas não foi escrita com essa finalidade como Romanos. A preocupação primária de Paulo foi tratar problemas práticos em uma igreja nova. No terceiro capítulo ele trata do problema das divisões que surgiu de uma apreciação errada por aqueles que haviam pregado o evangelho os coríntios.
Os crentes em corinto estavam dando atenção a causas secundárias e esquecendo a Deus a quem pertence toda a glória. Ao invés de dizerem: “Somos discípulos de Cristo” e reconhecerem sua união nEle, estavam formando partidos e dizendo: “Nós somos de Paulo, porque ele fundou a igreja em nossa cidade” ou “Apolo é mais eloquente que Paulo e nos edifica mais do que Paulo”; “Nós somos de Pedro”. Assim, partidos opostos haviam se formado.
Portanto, a divisão dentro da igreja era o principal problema tratado no capítulo. Mas esse problema, contudo, tem uma raiz comum a todos os outros problema tratados em 1 Coríntios – a defraudação de um irmão por outro, a desordem na ceia do Senhor, e assim por diante. Todos os problemas eram causados pela carnalidade, a luta interna do coração contra o pecado, descrita em Rm 7.21-23.
Para entendermos melhor o que Paulo quer dizer com carnalidade não devemos nos ater à maneira como ele ser refere aos corintos no capítulo 1, ele afirma que os coríntios são “santificados em Cristo Jesus” , que são recipientes da “graça de Deus”, que são enriquecidos em “toda palavra e todo conhecimento” (1.2-5).
Eles são repreendidos no capitulo três, não por deixarem da alcançar os privilégios que alguns crentes alcançam, mas por agirem, a despeito de seus privilégios, como bebês e como não-regenerados em algumas áreas de suas vidas.
Isso é bem diferente de dizer que o apóstolo reconhece aqui um grupo distinto dentro da igreja chamado de crentes carnal. Paulo só reconhece duas classes de pessoa os naturais e os espirituais (1 Co 2.14,15).
Ao falar dos carnais, Paulo não está dizendo que eles eram caracterizados pela carnalidade, mas reprovando um fruto específico da carnalidade, num certo aspecto. O que é fato é que todos que estão em Cristo são nova criatura (2 Co 5.17).
Temos que ter cuidado em não fazer uma doutrina baseados em um texto das escrituras.  Um dos pais da igreja afirmou: “Se você tem apenas uma passagem em que basear uma doutrina importante, é bem provável que você, depois de um exame cuidadoso, descubra que não tem nenhuma.”
A doutrina do crente carnal, é, afinal, consequência de um evangelismo fraco, antropocêntrico, no qual as decisões são buscadas a qualquer preço e por quaisquer métodos. Quando aqueles que são declarados convertidos não agem como crentes, não amam o que os crentes amam, nem odeiam o que os crentes odeiam, nem servem voluntariamente a Cristo em sua igreja, deve-se encontrar uma outra explicação além de chama-los de crentes carnais, eles devem ser chamados a se decidirem a favor de Cristo, pois não são crentes. Pois ainda não fizeram de Cristo o seu Senhor, não deixaram que ele ocupasse o trono de seus corações. Em geral, a entrada deste tipo de crentes na igreja está ligada a um erro no evangelismo. O evangelismo moderno substitui o arrependimento e a fé salvadora, pela decisão. O perdão é pregado sem a verdade de que o Espírito Santo transforma corações. Sendo assim, decisões são encaradas como se fossem conversões, mesmo não havendo nenhuma evidência de uma operação sobrenatural na vida da pessoa.
Portanto, devemos resgatar o evangelismo neotestamentário, que demonstra que não é suficiente professar ser crente, que não é suficiente chamar Jesus de Senhor (Lc 6.46), são necessárias evidências de um novo nascimento. Temos apenas duas alternativas: a vida natural ou a vida espiritual, o caminho largo ou o caminho estreito. Um coração não transformado levará o homem ao inferno (Ef 5.6).

Os Espirituais: Crentes Maduros.

A terceira e última interpretação que desejamos considerar é a de que Paulo, ao usar o termo, refere-se a crentes maduros. Creio que essa é a melhor interpretação da passagem não somente pelos motivos que temos exposto até agora como ainda pelos que se seguem.
O ponto inicial que precisamos observar aqui (e que tem sido negligenciado por Ellis e outros) é que Paulo faz uma distinção entre "nós" e os "maduros/espirituais" em 1 Co 2.6:
Entretanto, [nós] expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada.
A frase poderia ser traduzida como "falamos sabedoria aos maduros,"(50)  como 3.1 sugere:
Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
Esta distinção entre "nós" e os "maduros/espirituais" pode ser mantida em toda a seção (1 Co 1–4), possivelmente com a única exceção de 2.7b, 15-16. Aqueles identificados como "nós" falam a sabedoria de Deus oculta em mistério, e os "maduros/espirituais" ouvem e compreendem, pelo Espírito (2.6,13,14-15).
A primeira pessoa do plural, "nós," na passagem, está refletindo o ministério de Paulo entre os maduros da igreja. Quem são as pessoas às quais ele se associa, usando o pronome? Cremos que Paulo refere-se a si mesmo e aos demais apóstolos.(51)
O passo seguinte na pesquisa é examinar mais de perto o sentido de te/leioj (2.6, "maduro, perfeito"), tendo em vista sua relação óbvia com pneumatiko/j ("espiritual") na passagem. A grande maioria dos críticos concorda que o "espiritual" de 2.13,15 corresponde ao "maduro" de 2.6.(52)  Mas, nem todos estão de acordo se Paulo refere-se aos cristãos em geral, ou a um grupo dentre eles.(53) 
Na nossa opinião, a idéia de crescimento e de maturidade está presente quando Paulo usa o termo te/leioi ("perfeitos") em 2.6. Ele está se referindo, não a todos os crentes, mas àqueles que têm crescido na fé, que têm amadurecido em seu conhecimento e sua conduta, ao ponto de poder captar as implicações da pregação apostólica da sabedoria oculta de Deus, Cristo crucificado. Paulo está fazendo uma distinção, não entre crentes e descrentes, mas uma distinção interna na comunidade, entre crentes maduros e aqueles crentes que não são maduros.
É certo que Paulo às vezes emprega te/leioj ("maduro", "perfeito") no sentido escatológico, referindo-se a todos os crentes como já desfrutando das bênçãos escatológicas e futuras de Deus (ver Fp 3.12).(54)  Neste sentido, os crentes são "perfeitos", ou tem sido "aperfeiçoados" por Cristo. Mas aqui em 1 Co 2.6 está claro que o sentido não é escatológico. Paulo está fazendo uma distinção intramuros.(55)
Essa distinção, entretanto, não deve ser exagerada. Ela não é fixa e determinada, como se Paulo reconhecesse duas classes de crentes. Essa distinção é apenas em termos de conhecimento e compreensão. O contraste entre pneumatikoj/te/leioj e sarkiko/j/nh/pioi em 3.1-2, e entre ga/ la ("leite") e brw=ma ("comida sólida," ver Hb 5.11-14), claramente sugere um progresso no entendimento e no comportamento dos cristãos.(56) 
Além disso, o contraste entre um entendimento infantil e um entendimento adulto ocorre mais duas vezes na carta (13:10-11, 14:20), e, em ambos os casos, a idéia de níveis de entendimento espiritual, refletindo diferentes estágios no processo de crescimento, está presente.
Em 1 Co 13.10, apesar de te/leion ("perfeitos") ter provavelmente uma conotação escatológica, o contraste nh/pioj/a)nh/r ("menino/homem") no verso seguinte (13.11) retém a idéia de dois níveis distintos de compreensão espiritual. Em 14.20, onde Paulo contrasta paidi/a ("meninos") e te/leioi ("maduros"), a idéia é ainda mais evidente. Du Plessis conclui: "A distinção é entre uma percepção de criança e aquela de um homem adulto."(57) Sugerimos que a distinção é a mesma em 1 Co 3.1.(58)
O fato de que Paulo faz uma distinção entre os cristãos ("espirituais" e "carnais") não significa que ele tinha, necessariamente, uma mensagem de sabedoria reservada para aqueles poucos "iluminados," distinta do seukerygma habitual, como sugere Scroggs.(59)  O conteúdo do kerygma de Paulo, e mesmo da sophia que ele tem para compartilhar com os mais experimentados, é Cristo crucificado (1.17, 23-24, 30; 2.1-2; 2.8).(60)
Concluindo, quando Paulo usa o adjetivo pneumatiko/j em 1 Coríntios 1–3, a expressão significa simplesmente os cristãos como os que têm um entendimento iluminado pelo Espírito Santo, já que Paulo não está fazendo na passagem uma distinção soteriológica entre aqueles que têm o Espírito (crentes) e os que não o têm (perdidos). A forte concentração em 1 Co 2.6-16 de palavras do domínio semântico de "saber, conhecer" confirma isso (sofi/a, ginw/skw, oi)/da, a)pokalu/ptw, sugkri/nw, a)nakri/nw).
Podemos dizer que em todas as ocorrências do masculino em 1 Coríntios (2.13[?],15; 3.1 e 14.37)(61)  não há qualquer razão irrefutável para que não interpretemos pneumatiko/j no seu sentido mais amplo e geral, ou seja, "pessoas com entendimento dado pelo Espírito Santo."
Talvez a única exceção seja 14.37, onde Paulo associa pneumatiko/j com profhth/j. Alguns estudiosos entendem que os dois termos aqui ("espiritual" e "profeta") designam a mesma pessoa.(62)  Esse é o pensamento de Ellis, embora aqui e acolá ele tente estabelecer uma distinção, como já vimos acima. Outros fazem uma distinção entre o "espiritual" e o "profeta", mas consideram o "espiritual" como sendo o que fala em línguas, como Gillespie(63)  e Painter.(64)  Mesmo assim, ainda seria possível, como Meyer sugere, entender o termo como se referindo ao Geistbegabter ("o que tem o Espírito"), do qual o profeta seria uma subespécie.(65) 
Também é possível que Paulo esteja usando o termo ironicamente, no sentido em que os coríntios o compreendiam. Ainda assim, o pneumatiko/j pode ainda ser entendido como alguém espiritualmente maduro.(66)  Em nossa opinião, esse é o sentido em 14.37, e também em 2.6-16. Paulo está se referindo ao que é espiritualmente maduro, e nada mais.
Nossa conclusão é que pneumatiko/j em 1 Co 2.6-16 significa ser maduro no entendimento e na conduta, uma condição aberta a todos os crentes.

Conclusões

O termo pneumatiko/j foi usado por Paulo em 1 Co 2.13,15 e 3.1 em sua crítica pastoral de que os coríntios eram sarkikoi/ ("carnais", 3.1,3). O contexto das passagens e a associação de pneumatiko/j com te/leiojmostram que Paulo não está se referindo a uma classe de cooperadores seus (profetas cristãos), mas a cristãos comuns, que haviam atingido, no processo normal de santificação e crescimento, um nível de maturidade espiritual no qual podiam entender claramente a mensagem do apóstolo, que era Cristo crucificado, a sabedoria de Deus.
Quais são as implicações da nossa pesquisa para o debate atual acerca da espiritualidade? Creio que duas podem ser enfatizadas.

1. Espiritualidade tem a ver Primariamente com Maturidade Espiritual
Os coríntios pensavam de si mesmos como crentes espirituais, em virtude das manifestações carismáticas — especialmente a glossolália — que ocorriam durante o culto. Esse conceito levou-os até mesmo a se gloriarem contra Paulo e a se julgarem superiores ao apóstolo, apesar de estarem divididos em várias facções internas, e de permitirem na igreja pessoas de comportamento imoral e até mesmo quem negasse uma doutrina tão básica quanto a ressurreição dos mortos. Paulo os considera não como espirituais, mas como carnais. Em vez de serem crentes amadurecidos, eram meninos em Cristo, apesar do tempo decorrido desde sua conversão. A falha dos coríntios em perceber as implicações éticas, morais e práticas da cruz de Cristo demonstrava que não eram espirituais, mas carnais. Ser espiritual, diz Paulo, é ter a mente de Cristo. Portanto, a busca da espiritualidade "carismática" como se fosse aquela ensinada pela Bíblia é equivocada. É repetir os erros dos coríntios.

2. Espiritualidade é o Resultado do Crescimento Progressivo na Graça de Deus
Os que desejam ser realmente espirituais devem procurar o crescimento espiritual equilibrado pela santificação, crescendo na graça e no conhecimento de Cristo, amadurecendo no conhecimento e na fé. Muito mais do que crentes "carismáticos," hoje a igreja evangélica no Brasil precisa de crentes maduros, adultos, sóbrios, equilibrados, firmes na fé. E isso não acontece da noite para o dia — é o resultado de um processo, por vezes longo, de treinamento espiritual, de disciplina espiritual, de constância e do uso regular dos meios de graça. Não há atalho para a maturidade.

BIBLIOGRAFIA
Washer, Paul. 10 Acusações contra a Igreja Moderna. Fiel.
Reisinger, Ernest. Existe Mesmo o Crente Carnal? Fiel.
Portela, Solano. Crente Carnal?  (Artigo)]
Nicodemus, Augustus. Paulo e os Espirituais de Corinto. Fides Reformata.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SÉRIE: DEZ ACUSAÇÕES CONTRA A IGREJA MODERNA.



1 Tm 4.1

Precisamos de avivamento! Precisamos de um despertamento. No entanto, não podemos simplesmente ficar sentados e esperar que o Espírito Santo venha e arrume toda a bagunça que temos feito. Temos instruções claras da Palavra de Deus  sobre o que ele fez por meio de Cristo, como ele espera que vivamos, como espera que organizemos a igreja.
Quando examinamos o AT, vemos que Moísés recebeu uma explicação detalhada de como construir o Tabernáculo. Isso nos mostra que Deus é específico em sua vontade, e não devemos imaginar que podemos pegar o menor detalhe e ignorá-lo.
Portanto, vamos às três primeiras acusações:
1 – Uma negação da suficiência da Escritura.
1 Tm 3.15-17
Um erro que afeta muitas igrejas em nossos dias: uma negação prática da suficiência da Escritura.  Em geral, não se questiona se a Bíblia é inspirada ou inerrante. Mas se ela é suficiente ou se temos de introduzir todas as supostas ciências sociais e estudo cultural para sabermos como conduzir uma igreja! Hoje em dia, as ciências sociais tem tomado precedência sobre a Palavra de Deus, de tal modo que a maioria de nós não pode nem mesmo perceber isso. Psicologia, antropologia e sociologia se tornaram influências primarias nas igrejas.
Porque a evangelização, missões e o “chamado crescimento de igreja” são mais moldados pela antropologia, sociologia e economia do que pela Palavra de Deus.
Porque o aconselhamento é mais baseado na Psicologia do que na Palavra de Deus. Essas áreas na igreja e tudo que fazemos devem fluir do teólogo e do exegeta – o homem que abre a sua Bíblia e tem uma única pergunta: ó Deus, qual é a tua vontade? Não devemos perguntar a ímpios como a igreja deve funcionar, o maior interessado no bem estar da igreja é Deus. Se nós queremos ser agradáveis a alguém, se queremos nos acomodar a alguém, devemos nos acomodar à glória de Deus, ainda que sejamos rejeitados pelos demais. Não somos chamados a construir impérios. Somos chamados a glorificar a Deus. E se quisermos ser diferentes temos que querer o que Deus quer.
Tt 2.1; 1 Pe 2.9
Is 8.19-20

2 – Uma ignorância a respeito de Deus.
At 17.30
Quando a igreja fala sobre Deus ela não pode se esquecer de todos os seus atributos. Devemos falar sobre a justiça de Deus, sobre a soberania, mas também sobre a ira, a supremacia e a glória de Deus. Muitas vezes nós adoramos a um Deus criado pela nossa própria imaginação.
Jr 9.23-24, Sl 50.21-22
Você sabe porque todas as livrarias evangélicas estão cheiras de livros de auto-ajuda ou livros que falam de cinco maneiras de fazer isso ou aquilo, seis maneiras de ser piedoso e dez maneiras de não fracassar? Porque as pessoa não conhecem a Deus. Por isso, procuram técnicas humanas para viverem.
1 Co 15.34
Qual foi a última vez que você assistiu a uma conferência sobre atributos de Deus? A vida eterna não começa quando você morre, mas quando você é convertido. E a vida eterna é conhecer a Deus. Portanto, comece a conhecer Deus agora. Ele de revela na Bíblia, estude-as para conhecer a Deus.
Muitas vezes o culto dominical se torna idólatra porque parte das pessoas não está adorando o Deus única e verdadeiro,  mas sim um Deus que formaram em seus próprios corações, um Deus que parece mais com Papai Noel do que com Jeová.  Sem conhecimento de Deus não há temor do Senhor.
O que é temer ao Senhor?
Não é somente medo, mas inclui o medo. Porque? Porque somos pessoas impuras, e compareceremos diante do todo-poderoso Deus que é moralmente puro.  Nós nos sentimos envergonhados, e com razão diante dEle, e o castigo seria totalmente justo. O pavor é a nossa reação natural e  correta.
Ninguém está excluído desse medo, crentes e incrédulos. Para os crentes esse medo vai diminuindo, para os incrédulos ele é sempre crescente, para muitas pessoas ele é demonstrado por meio de uma ansiedade descontrolada, baixa auto-estima e várias outras enfermidades modernas. Porque está chegando o dia em que todos vão se curvar diante de Deus.
Mas para o crente o temor significa uma submissão reverente que conduz à obediência (adoração).A consciência do próprio pecado e do merecimento da ira de Deus misturada ao entendimento do perdão , misericórdia e amor a Deus nos levam a um temor-adoração. Isso nos coduz a Deus mais do que nos faz fugir Dele.
1 Jo 4.18
O povo de Deus não é mais guiado pelo temor-medo, mas o temor-adoração que é motivado pelo amor e honra devidos a Deus.  Esses dois temores deixam bem claro que o Santo de Israel reina sobre todas as coisas.
O que significa santo?
Separado, colocado de lado, diferente, não contaminado.  Isso significa que Deus é diferente de nós, ele não pode ser comparado com ninguém mais. O seu caráter é inigualável. Santidade é a essência de Deus. Ele tem uma sabedoria santa, uma majestade santo, um amor santo.
Is 40.25, Sl 77.13, Os 11.9, Is 57.15
Mas esse Deus santo se aproxima da sua criação.
Lv 26.12, Hb 13.5, Jo 15.14, Cl 1.27
O que se opõe ao temor ao Senhor?
O nosso coração pecaminoso, e ele é influenciado pelo mundo e pelo Diabo. O nosso coração tem milhares de estratégias para evitar o temor o Senhor.
1 – Viver uma religião de aparências: Nos enquadramos em certos comportamentos, quando isso ocorre nos esquecemos das intenções do coração  e nos sentimos bons, pois não somos adúlteros, não matamos, não roubamos, etc. Nos achamos relativamente bons, por isso, Deus se torna irrelevante. Eu me sinto independente de Deus, nesse caso o temor de Deus se torna irrelevante.  Muitas vezes o pecado vem montado em coisas boa, o trabalho, dinheiro,
O mundo pega essas tendências e as racionaliza. O mundo nos faz lembrar que, sejam quais forem os nossos pecados ou fraquezas, nós somos apenas seres humanos. Todos os  outros estão fazendo a mesma coisa. O certo e o errado são determinados pelo voto popular.
O mundo sugere que Deus é real, mas distante. Ele deu início a todas as coisas, mas está sentado, deixando as coisas acontecerem.
O Diabo coloca qualquer coisa que possa exaltar o verdadeiro  Deus. Sempre que tememos alguma coisa Satanás está minimizando o nosso pecado, sugere que Deus está distante e que não podemos confiar de fato na Palavra de Deus. Na verdade, ele sugere que Deus está nos segurando, nos afastando das coisas boas.
Com esses adversários crescer no temor do Senhor não é fácil, é um caminho de lutas. Devemos odiar a nossa própria natureza pecaminosa, odiar a Satanás, e o mundo.  Por isso precisamos de recursos poderosos: a palavra, o Espírito e o corpo de Cristo.
2 – Um fracasso em abordar o mal do homem.
Rm 3.10-12
Os três primeiros capítulos da carta aos Romanos Paulo trata de deixar claro que todos os homens estão sob condenação.  E o entendimento de que estamos sob condenação é o meido que Deus usa para nos mostrar o evangelho de salvação. A evangelização deve trazer os homens a um conhecimento de si mesmos, antes de se renderem a Deus. Os homens estão caídos de tal maneira que temos de remover deles toda esperança na carne, antes de serem trazidos a Deus.
Quando tratamos o pecado de maneira superficial lutamos contra o Espírito Santo.
Jo 16.8
Há muitos pregadores que estão mais preocupados em dar as pessoas o melhor da vida agora do que preocupados com a eternidade. Por isso, não mencionam o pecado em  suas pregações. O ministério fundamental do Espírito Santo é vir e convencer o mundo do pecado.
Somos enganadores quando lidamos levianamente com o mal do homem, como os pastores nos dias de Jesus.
Jr 6.14
Quando fazemos isso também somos imorais. Como um médico que nega o seu juramento porque não quer dar a ninguém as más notícias pois acha que a pessoa ficará irada com ele ou ficará triste. Por isso, ele não conta às pessoas as notícias mais necessárias para salvar a sua vida. Alguns pastores afirmam que as pessoas não podem suportar o que pregamos. Ninguém jamais foi capaz de suportar a pregação do evangelho. Ou as pessoas se voltarão contra o evangelho com fúria de um animal, ou serão convertidas. Nosso mundo está tomado por essa moléstia chamada auto-estima. Nosso grande problem é que estimamos o “eu” mais do que estimamos a Deus.
Mas também somos ladrões quando não falamos muito sobre pecado. Quando nos recusamos a ensinar sobre a depravação total dos homens, é impossível que glorifiquemos a Deus, a Cristo a cruz – porque a cruz de Cristo e são glória são mais exaltadas quando colocadas diante do pano de fundo de nossa depravação.
Ef
Sem os homens conhecerem a sua própria impiedade eles não podem conhecer o amor de Deus. Quando não falamos sobre o pecado roubamos do homem a oportunidade de gloriarem-se não em si mesmos mas no Senhor.
2 Co 10.17
Hoje em dia vivemos às voltas com o conceito de auto-estima. O que seus defensores defendem?
Que não há pessoas ruins, apenas pessoas que têm uma visão ruim de si mesmas. Para eles, as pessoas que se sentem bem consigo mesmas, haverão de se comportar melhor, terão menos problemas emocionais e realizarão mais.  Portanto, para eles, elevar a auto-estima das pessoas é a solução para qualquer mal que incomoda.
Ilustração:
Um estudo recente, um teste de matemática padronizado foi dado a estudantes de países diferentes. Além das questões de matemática o teste pedia que os alunos respondessem à seguinte pergunta: “Sou bom em matemática”?  Os alunos americanos ficaram atrás, no teste, dos alunos coreanos. No entanto, mais de ¾ dos alunos coreanos responderam não à pergunta, já os americanos 68% deles disseram que eram bons em matemática (MacArthur, 124).
Pesquisas afirma que a sociedade mundial atingiu o nível moral mais baixo da história. Mas os norte-americanos, por exemplo, nunca se sentiram tão bem com eles mesmos. Em 1940,11% das mulheres e 20% dos homens afirmaram em uma pesquisa que se sentiam pessoas importantes, já na década de 90 esse grupo aumentou para 66% entre as mulheres e 62% entre os homens. Parece que todo pensamento positivo sobre nós mesmos parece não estar conseguindo elevar a cultura ou motivar as pessoas a terem uma vida melhor.
E a pergunta que temos que nos fazer é: será que o problema das pessoas hoje é a baixo auto-estima?
Precisamos pensar seriamente se fazer com que o ser humano se sinta melhor acerca de si mesmo tem, de fato, ajudado a diminuir os problemas ligados à criminalidade, decadência moral, divórcio, abuso infantil, delinquência juvenil, dependência de drogas, e todos os outros males que vêm afundando a sociedade.
Um artigo da revista Newsweek sugeriu que a defesa da auto-estima é uma questão mais ligada à fé do que à pedagogia científica – fé que pensamentos positivos são capazes de tornar manifesta a bondade inerente em qualquer um.
A doutrina da auto-estima baseia-se na crença de que as pessoas são basicamente boas e precisam reconhecer a sua própria bondade.
E a Igreja, como tem lidado com esse pensamento?
A igreja não fez uma leitura bíblica deste pensamento e o integrou às suas práticas.  Mas na verdade a doutrina da auto-estima é o fruto do casamento entre o liberalismo teológico e a neo-ortodoxia.
Atualmente, grande parte dos livros evangélicos mais vendidos promovem a auto-estima e o pensamento positivo.  À medida que os evangélicos tornam-se cada vez mais receptivos ao aconselhamento psicológico, ficam mais vulneráveis aos perigos propostos pelos ensinamentos da auto-estima.

Cristãos influenciados pela doutrina da auto-estima dificilmente se encontram em posição para lidar com transgressões como o pecado contra Deus ou para informar as pessoas já influenciadas por esse pensamento de que elas são, na verdade, pecadores carentes de salvação espiritual.
Perguntas que um conselheiro bíblico deve se fazer antes de começar um aconselhamento: será que Deus realmente deseja que todas as pessoas sintam-se bem acerca de si mesmas? Ou será que Ele primeiro convoca os pecadores a reconhecerem seu estado próprio de extrema incapacidade?
Vamos, então, à doutrina que questiona esse pensamento: a doutrina da depravação total.
1 – Entendendo a doutrina da depravação total.
O que é depravação total?
As Escrituras ensinam que toda a humanidade está totalmente depravada.
Ef 2.1-3, 12
Nessas passagens Paulo descreve o estado dos incrédulos que estão separados de Deus. Eles odeiam a Deus.
Rm 3.18; 5.8,10; 7.5
Cl 1.21
Fomos corrompidos pelo pecado em todo o nosso ser. Éramos corruptos, perversos, completamente pecaminosos.
Isso não significa que os descrentes são sempre tão ruins quanto poderiam ser (Lc 6.33; Rm 2.14). Nem sempre a depravação total é vivida em sua plenitude. Muitos descrentes são capazes de atos de bondade, benevolência, boa vontade, ou altruísmo.   E também conseguem apreciar a bondade, a beleza, a honestidade, a decência ou a excelência. No entanto, nada disso possui qualquer mérito diante de Deus.
Depravado também significa que o mal contaminou cada aspecto da nossa humanidade – nosso coração e corpo (Jr 17.9; Jo 8.44). Pecadores não redimidos são incapazes de fazer qualquer coisa para agradar a Deus (Is 64.6). São incapazes de amar genuinamente a Deus, obedecer de coração, com motivações corretas, de entender as verdades espirituais, de ter uma fé genuína, de agradar a Deus ou busca-lo verdadeiramente (Hb 11.1).
Depravação total significa que os pecadores não têm capacidade de fazer o bem espiritual ou de fazer algo em prol de sua própria salvação quanto ao pecado.
1 Co 2.14
Como toda a humanidade foi contaminada por ela?
Por causa do pecado de Adão esse estado de morte espiritual passou a toda a humanidade (pecado original).
Rm 5.12-19; 1 Co 15.22
Portanto, já nascemos com uma natureza depravada e pecadora. Pecamos porque somos pecadores.
Mc 7.21-23; Ef 2.3
Lloyd Jones afirma:
“Porque o homem sempre escolhe pecar? A resposta é que o homem se afastou de Deus, e em decorrência disso, sua natureza se tornou totalmente pervertida e pecaminosa. Toda inclinação do homem vai no rumo oposto ao de Deus. Por natureza, ele odeia a Deus e sente que Deus se opõe a ele. Seu deus é ele mesmo, suas próprias habilidades e poderes, seus próprios desejos. Ele se opõe a todo conceito de Deus e às exigências que Deus faz a ele... Além disso, o homem gosta e cobiça as coisas que Deus proíbe, e desaprova as coisas e o tipo de vida que Deus o convoca a ter. Não existem afirmações simplesmente dogmáticas. Elas são fatos... Elas por si só explicam a desordem moral e a feiura que tão bem caracteriza a vida nos dias de hoje.”
A salvação do pecado original vem somente por intermédio da cruz de Cristo.
Rm 5.19
Nascemos no pecado (Sl 51.5) e se desejarmos nos tornar filhos de Deus e entrar em seu reino, precisamos nascer novamente pelo Espírito de Deus (Jo 3.3-8).
Sendo assim, a doutrina da depravação total se choca diretamente com a doutrina da auto-estima, não há como conciliar a duas. Pois para a doutrina da auto-estima homens e mulheres são bons. Mas, exatamente o oposto é verdadeiro. Todos somos inimigos de Deus por natureza, pecadores, amantes de nós mesmos, e escravos do nosso próprio pecado. Estamos cegos, surdos e mortos para questões espirituais. Somos orgulhosos.  Essa é a nossa autoimagem adequada.
É por isso que Jesus elogiou o publicano ao invés de reprova-lo por sua “baixo auto-estima” (Lc 18.13,14). O homem finalmente chegou ao ponto de enxergar exatamente o que era.
Todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Quando alguém vem para um aconselhamento, geralmente, ele sabe que há algo profundamente errado com ele, sua consciência o confronta com a sua pecaminosidade. Por mais que tentem prejudicar os outros, ou procurem ajuda psicológica, não podem fugir da realidade. Não podem negar a própria consciência.
Sentem culpa porque são culpados. Somente a cruz de Cristo pode acabar com essa vergonha pelo pecado. A auto-estima pode mascarar esse sentimento, varrendo a sujeira para debaixo do tapete, buscar outros relacionamentos ou culpar outros pode até dar um certo alívio, mas isso é superficial.
A verdadeira culpa tem somente uma causa: o pecado.  Até que o pecado seja tratado a consciência o acusará. E foi o pecado e não a baixo auto-estima que Cristo veio derrotar. Paulo deixa claro isso no livro de Romanos: em Rm 1.18-32 ele demonstra a culpa dos gentios, em Rm 2.1-16 ele demonstra a culpa dos moralistas que violam o mesmo padrão que pelo qual ele julga os outros. Em Rm 2.17-3.8 estabelece a culpa dos judeus. Conclusão, todos pecara, ninguém tem vantagem alguma (Rm 3.9).
Essa doutrina é assustadora e inacreditável para os que se encontram mimados pela doutrina da auto-estima.
A prova.
Paulo continua nos provando a doutrina, destacando a universalidade do pecado. Rm 3.10-17
O argumento de Paulo é construído em três partes:
1)      O pecado corrompe o caráter (Rm 3.10-12). Ele faz seis acusações: o ser humano é mau, espiritualmente ignorante, rebelde, obstinado, espiritualmente imprestável e moralmente corrupto. Portanto, o ensinamento da auto-estima é a expressão máxima de orgulho. Fazer um selvagem sentir-se bem acerca de si mesmo apenas aumenta sua periculosidade. Como alguém pode se sentir bem acerca de si mesmo, quando o próprio Deus o declara digno de ira? Qual é a grande necessidade das pessoas? Não é a auto-estima ou o pensamento positivo, mas a redenção de seu pecado orgulhoso.
2)      O Pecado corrompe a nossa fala (Rm 3.13,14). A fala perversa, uma expressão da impiedade do coração, corrompe a pessoa por completo (Mt 15.11).
3)      O pecado corrompe a conduta (Rm 3.15-17). Os pecadores são naturalmente atraídos para o ódio e para seu fruto de sangue. O problema do homem não é a baixo auto-estima, mas o orgulho que nos conduz ao pecado, incluindo ódio, hostilidade e os homicídios. O amor pelo derramamento de sangue invade e domina o coração da humanidade pecaminosa. Remova as restrições morais da sociedade, e o resultado inevitável será o aumento dos homicídios e violência – não importa quão bem as pessoas se sintam a respeito de si mesmas.

Não ouvimos muito acerca de temer a Deus nos dias atuais. Até mesmo muitos cristãos parecem sentir que a linguagem do temor é de alguma forma muito áspera ou muito negativa. Quão mais fácil é falar do amor de Deus e de Sua infinita misericórdia. Mas longanimidade, bondade e tais atributos são exaltados no meio cristão hoje. Isso faz com que a maioria das pessoas não pensam em Deus como alguém a ser temido. Não percebem que ele odeia o orgulho e pune os malfeitores. São presunçosos em relação à graça de Deus. Temem mais o que as pessoa pensam do que com o que Deus pensa.
Encorajar o temor do Senhor elimina a doutrina da auto-estima. Como é que podemos encorajar o temor do Senhor e a o mesmo tempo incentiva as pessoas que se amem mais.
O Veredicto.
Rm 3.19
Tanto judeus que tinham a lei escrita de Deus, quanto gentios que tinha a lei na consciência (Rm 2.11-15) são culpados. Não há defesa. A humanidade não redimida é culpada.
A auto-estima não é a solução para a depravação humana. Ela só a agrava! Os problemas da nossa cultura – angústia, medo, ansiedade – não serão resolvidos por meio do engano de fazer com que as pessoas se sintam melhores acerca de si mesmas, ou se amem mais. As pessoas são de fato pecaminosas, no mais íntimo do seu ser. A culpa e a vergonha que sentimos como pecadores é legítima, natural e até boa. Ela nos leva a conhecermos mais a nossa própria pecaminosidade e o Senhor que a redime.

Consequências das crenças na doutrina da auto-estima.
1 – A atribuição do mal a causas externas. Para muitos, já que as pessoas são basicamente boas, o mal que elas fazem deve ser causado por alguma força exterior.  Que pode ser o ambiente social, circunstâncias econômicas, família disfuncional, influencia nas escolas, violência na TV, armas, racismo, bullyng, o diabo, impostos abusivos e até mesmo a corrupção do país. Para eles, as pessoas não são responsáveis pelo mal que cometem. De acordo com a palavra os maus comportamentos procedem do coração pecaminoso, nada o justifica.
2 – Negação do mal. Se o bem é natural, então o mal não deve ser natural, doentio. As categorias morais têm sido substituídas pelas categorias psicológicas. Não existe mais bom e mau, apenas normal e doentio.
3 – Nem os pais nem as escolas leva a sério a responsabilidade de ensinar bondade às crianças. Porque ensinar o que vem naturalmente? Somente aqueles que reconhecem que as pessoas não são basicamente boas percebem a necessidade de se ensinar a bondade.
4 – Já que grande parte da sociedade crê que o mal vem de fora das pessoas, ela parou de procurar mudar os valores das pessoas e em lugar disso concentra-se em mudar forças externas. As pessoas cometem crimes? Não é com o desenvolvimento dos valores e do caráter que precisamos nos preocupar; precisamos mudar o ambiente socioeconômico que produz estupradores e assassinos. Homens irresponsáveis engravidam mulheres irresponsáveis? Não é de valores melhores que necessitam, mas de uma educação sexual melhor e um acesso maior a preservativos e abortos.
5 – Se as pessoas são boas, elas não precisa se sentir culpadas de seus pecados. As pessoas não precisam sentir responsabilidade diante de Deus ou de uma religião, somente para consigo mesmas.
J.C Ryle diz:
“O ponto de vista bíblico do pecado é um dos melhores antídotos para aquele tipo vago, nebuloso e indefinido de teologia, tão dolorosamente popular nesta época. É inútil cerrar os olhos para o fato de que há um cristianismo muito abundante distorcido, mas que, a despeito disso, não oferece boa medida e peso certo de mil gramas para aquilo. Trata-se de um cristianismo, no qual, inegavelmente, há “algo de Cristo, algo de graça, algo de fé, algo de arrependimento e algo da santificação”, mas que não é “mercadoria legítima” conforme encontramos na Bíblia. As coisas encontram-se fora de lugar e fora de proporções. Conforme diria Latimer, trata-se de uma espécie de “mistura esquisita” que não traz bem algum. Não exerce influência sobre a conduta diária, não consola a vida nem confere paz por ocasião da morte. Aqueles que a defendem, com frequência despertam tarde demais para descobrir que nada têm de sólido sob os pés. Ora, acredito que a maneira mais certa de curar e corrigir essa modalidade defeituosa de religião consista em destacar com maior proeminência as antigas verdades bíblicas sobre a pecaminosidade do pecado.”