segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SÉRIE: DEZ ACUSAÇÕES CONTRA A IGREJA MODERNA.



1 Tm 4.1

Precisamos de avivamento! Precisamos de um despertamento. No entanto, não podemos simplesmente ficar sentados e esperar que o Espírito Santo venha e arrume toda a bagunça que temos feito. Temos instruções claras da Palavra de Deus  sobre o que ele fez por meio de Cristo, como ele espera que vivamos, como espera que organizemos a igreja.
Quando examinamos o AT, vemos que Moísés recebeu uma explicação detalhada de como construir o Tabernáculo. Isso nos mostra que Deus é específico em sua vontade, e não devemos imaginar que podemos pegar o menor detalhe e ignorá-lo.
Portanto, vamos às três primeiras acusações:
1 – Uma negação da suficiência da Escritura.
1 Tm 3.15-17
Um erro que afeta muitas igrejas em nossos dias: uma negação prática da suficiência da Escritura.  Em geral, não se questiona se a Bíblia é inspirada ou inerrante. Mas se ela é suficiente ou se temos de introduzir todas as supostas ciências sociais e estudo cultural para sabermos como conduzir uma igreja! Hoje em dia, as ciências sociais tem tomado precedência sobre a Palavra de Deus, de tal modo que a maioria de nós não pode nem mesmo perceber isso. Psicologia, antropologia e sociologia se tornaram influências primarias nas igrejas.
Porque a evangelização, missões e o “chamado crescimento de igreja” são mais moldados pela antropologia, sociologia e economia do que pela Palavra de Deus.
Porque o aconselhamento é mais baseado na Psicologia do que na Palavra de Deus. Essas áreas na igreja e tudo que fazemos devem fluir do teólogo e do exegeta – o homem que abre a sua Bíblia e tem uma única pergunta: ó Deus, qual é a tua vontade? Não devemos perguntar a ímpios como a igreja deve funcionar, o maior interessado no bem estar da igreja é Deus. Se nós queremos ser agradáveis a alguém, se queremos nos acomodar a alguém, devemos nos acomodar à glória de Deus, ainda que sejamos rejeitados pelos demais. Não somos chamados a construir impérios. Somos chamados a glorificar a Deus. E se quisermos ser diferentes temos que querer o que Deus quer.
Tt 2.1; 1 Pe 2.9
Is 8.19-20

2 – Uma ignorância a respeito de Deus.
At 17.30
Quando a igreja fala sobre Deus ela não pode se esquecer de todos os seus atributos. Devemos falar sobre a justiça de Deus, sobre a soberania, mas também sobre a ira, a supremacia e a glória de Deus. Muitas vezes nós adoramos a um Deus criado pela nossa própria imaginação.
Jr 9.23-24, Sl 50.21-22
Você sabe porque todas as livrarias evangélicas estão cheiras de livros de auto-ajuda ou livros que falam de cinco maneiras de fazer isso ou aquilo, seis maneiras de ser piedoso e dez maneiras de não fracassar? Porque as pessoa não conhecem a Deus. Por isso, procuram técnicas humanas para viverem.
1 Co 15.34
Qual foi a última vez que você assistiu a uma conferência sobre atributos de Deus? A vida eterna não começa quando você morre, mas quando você é convertido. E a vida eterna é conhecer a Deus. Portanto, comece a conhecer Deus agora. Ele de revela na Bíblia, estude-as para conhecer a Deus.
Muitas vezes o culto dominical se torna idólatra porque parte das pessoas não está adorando o Deus única e verdadeiro,  mas sim um Deus que formaram em seus próprios corações, um Deus que parece mais com Papai Noel do que com Jeová.  Sem conhecimento de Deus não há temor do Senhor.
O que é temer ao Senhor?
Não é somente medo, mas inclui o medo. Porque? Porque somos pessoas impuras, e compareceremos diante do todo-poderoso Deus que é moralmente puro.  Nós nos sentimos envergonhados, e com razão diante dEle, e o castigo seria totalmente justo. O pavor é a nossa reação natural e  correta.
Ninguém está excluído desse medo, crentes e incrédulos. Para os crentes esse medo vai diminuindo, para os incrédulos ele é sempre crescente, para muitas pessoas ele é demonstrado por meio de uma ansiedade descontrolada, baixa auto-estima e várias outras enfermidades modernas. Porque está chegando o dia em que todos vão se curvar diante de Deus.
Mas para o crente o temor significa uma submissão reverente que conduz à obediência (adoração).A consciência do próprio pecado e do merecimento da ira de Deus misturada ao entendimento do perdão , misericórdia e amor a Deus nos levam a um temor-adoração. Isso nos coduz a Deus mais do que nos faz fugir Dele.
1 Jo 4.18
O povo de Deus não é mais guiado pelo temor-medo, mas o temor-adoração que é motivado pelo amor e honra devidos a Deus.  Esses dois temores deixam bem claro que o Santo de Israel reina sobre todas as coisas.
O que significa santo?
Separado, colocado de lado, diferente, não contaminado.  Isso significa que Deus é diferente de nós, ele não pode ser comparado com ninguém mais. O seu caráter é inigualável. Santidade é a essência de Deus. Ele tem uma sabedoria santa, uma majestade santo, um amor santo.
Is 40.25, Sl 77.13, Os 11.9, Is 57.15
Mas esse Deus santo se aproxima da sua criação.
Lv 26.12, Hb 13.5, Jo 15.14, Cl 1.27
O que se opõe ao temor ao Senhor?
O nosso coração pecaminoso, e ele é influenciado pelo mundo e pelo Diabo. O nosso coração tem milhares de estratégias para evitar o temor o Senhor.
1 – Viver uma religião de aparências: Nos enquadramos em certos comportamentos, quando isso ocorre nos esquecemos das intenções do coração  e nos sentimos bons, pois não somos adúlteros, não matamos, não roubamos, etc. Nos achamos relativamente bons, por isso, Deus se torna irrelevante. Eu me sinto independente de Deus, nesse caso o temor de Deus se torna irrelevante.  Muitas vezes o pecado vem montado em coisas boa, o trabalho, dinheiro,
O mundo pega essas tendências e as racionaliza. O mundo nos faz lembrar que, sejam quais forem os nossos pecados ou fraquezas, nós somos apenas seres humanos. Todos os  outros estão fazendo a mesma coisa. O certo e o errado são determinados pelo voto popular.
O mundo sugere que Deus é real, mas distante. Ele deu início a todas as coisas, mas está sentado, deixando as coisas acontecerem.
O Diabo coloca qualquer coisa que possa exaltar o verdadeiro  Deus. Sempre que tememos alguma coisa Satanás está minimizando o nosso pecado, sugere que Deus está distante e que não podemos confiar de fato na Palavra de Deus. Na verdade, ele sugere que Deus está nos segurando, nos afastando das coisas boas.
Com esses adversários crescer no temor do Senhor não é fácil, é um caminho de lutas. Devemos odiar a nossa própria natureza pecaminosa, odiar a Satanás, e o mundo.  Por isso precisamos de recursos poderosos: a palavra, o Espírito e o corpo de Cristo.
2 – Um fracasso em abordar o mal do homem.
Rm 3.10-12
Os três primeiros capítulos da carta aos Romanos Paulo trata de deixar claro que todos os homens estão sob condenação.  E o entendimento de que estamos sob condenação é o meido que Deus usa para nos mostrar o evangelho de salvação. A evangelização deve trazer os homens a um conhecimento de si mesmos, antes de se renderem a Deus. Os homens estão caídos de tal maneira que temos de remover deles toda esperança na carne, antes de serem trazidos a Deus.
Quando tratamos o pecado de maneira superficial lutamos contra o Espírito Santo.
Jo 16.8
Há muitos pregadores que estão mais preocupados em dar as pessoas o melhor da vida agora do que preocupados com a eternidade. Por isso, não mencionam o pecado em  suas pregações. O ministério fundamental do Espírito Santo é vir e convencer o mundo do pecado.
Somos enganadores quando lidamos levianamente com o mal do homem, como os pastores nos dias de Jesus.
Jr 6.14
Quando fazemos isso também somos imorais. Como um médico que nega o seu juramento porque não quer dar a ninguém as más notícias pois acha que a pessoa ficará irada com ele ou ficará triste. Por isso, ele não conta às pessoas as notícias mais necessárias para salvar a sua vida. Alguns pastores afirmam que as pessoas não podem suportar o que pregamos. Ninguém jamais foi capaz de suportar a pregação do evangelho. Ou as pessoas se voltarão contra o evangelho com fúria de um animal, ou serão convertidas. Nosso mundo está tomado por essa moléstia chamada auto-estima. Nosso grande problem é que estimamos o “eu” mais do que estimamos a Deus.
Mas também somos ladrões quando não falamos muito sobre pecado. Quando nos recusamos a ensinar sobre a depravação total dos homens, é impossível que glorifiquemos a Deus, a Cristo a cruz – porque a cruz de Cristo e são glória são mais exaltadas quando colocadas diante do pano de fundo de nossa depravação.
Ef
Sem os homens conhecerem a sua própria impiedade eles não podem conhecer o amor de Deus. Quando não falamos sobre o pecado roubamos do homem a oportunidade de gloriarem-se não em si mesmos mas no Senhor.
2 Co 10.17
Hoje em dia vivemos às voltas com o conceito de auto-estima. O que seus defensores defendem?
Que não há pessoas ruins, apenas pessoas que têm uma visão ruim de si mesmas. Para eles, as pessoas que se sentem bem consigo mesmas, haverão de se comportar melhor, terão menos problemas emocionais e realizarão mais.  Portanto, para eles, elevar a auto-estima das pessoas é a solução para qualquer mal que incomoda.
Ilustração:
Um estudo recente, um teste de matemática padronizado foi dado a estudantes de países diferentes. Além das questões de matemática o teste pedia que os alunos respondessem à seguinte pergunta: “Sou bom em matemática”?  Os alunos americanos ficaram atrás, no teste, dos alunos coreanos. No entanto, mais de ¾ dos alunos coreanos responderam não à pergunta, já os americanos 68% deles disseram que eram bons em matemática (MacArthur, 124).
Pesquisas afirma que a sociedade mundial atingiu o nível moral mais baixo da história. Mas os norte-americanos, por exemplo, nunca se sentiram tão bem com eles mesmos. Em 1940,11% das mulheres e 20% dos homens afirmaram em uma pesquisa que se sentiam pessoas importantes, já na década de 90 esse grupo aumentou para 66% entre as mulheres e 62% entre os homens. Parece que todo pensamento positivo sobre nós mesmos parece não estar conseguindo elevar a cultura ou motivar as pessoas a terem uma vida melhor.
E a pergunta que temos que nos fazer é: será que o problema das pessoas hoje é a baixo auto-estima?
Precisamos pensar seriamente se fazer com que o ser humano se sinta melhor acerca de si mesmo tem, de fato, ajudado a diminuir os problemas ligados à criminalidade, decadência moral, divórcio, abuso infantil, delinquência juvenil, dependência de drogas, e todos os outros males que vêm afundando a sociedade.
Um artigo da revista Newsweek sugeriu que a defesa da auto-estima é uma questão mais ligada à fé do que à pedagogia científica – fé que pensamentos positivos são capazes de tornar manifesta a bondade inerente em qualquer um.
A doutrina da auto-estima baseia-se na crença de que as pessoas são basicamente boas e precisam reconhecer a sua própria bondade.
E a Igreja, como tem lidado com esse pensamento?
A igreja não fez uma leitura bíblica deste pensamento e o integrou às suas práticas.  Mas na verdade a doutrina da auto-estima é o fruto do casamento entre o liberalismo teológico e a neo-ortodoxia.
Atualmente, grande parte dos livros evangélicos mais vendidos promovem a auto-estima e o pensamento positivo.  À medida que os evangélicos tornam-se cada vez mais receptivos ao aconselhamento psicológico, ficam mais vulneráveis aos perigos propostos pelos ensinamentos da auto-estima.

Cristãos influenciados pela doutrina da auto-estima dificilmente se encontram em posição para lidar com transgressões como o pecado contra Deus ou para informar as pessoas já influenciadas por esse pensamento de que elas são, na verdade, pecadores carentes de salvação espiritual.
Perguntas que um conselheiro bíblico deve se fazer antes de começar um aconselhamento: será que Deus realmente deseja que todas as pessoas sintam-se bem acerca de si mesmas? Ou será que Ele primeiro convoca os pecadores a reconhecerem seu estado próprio de extrema incapacidade?
Vamos, então, à doutrina que questiona esse pensamento: a doutrina da depravação total.
1 – Entendendo a doutrina da depravação total.
O que é depravação total?
As Escrituras ensinam que toda a humanidade está totalmente depravada.
Ef 2.1-3, 12
Nessas passagens Paulo descreve o estado dos incrédulos que estão separados de Deus. Eles odeiam a Deus.
Rm 3.18; 5.8,10; 7.5
Cl 1.21
Fomos corrompidos pelo pecado em todo o nosso ser. Éramos corruptos, perversos, completamente pecaminosos.
Isso não significa que os descrentes são sempre tão ruins quanto poderiam ser (Lc 6.33; Rm 2.14). Nem sempre a depravação total é vivida em sua plenitude. Muitos descrentes são capazes de atos de bondade, benevolência, boa vontade, ou altruísmo.   E também conseguem apreciar a bondade, a beleza, a honestidade, a decência ou a excelência. No entanto, nada disso possui qualquer mérito diante de Deus.
Depravado também significa que o mal contaminou cada aspecto da nossa humanidade – nosso coração e corpo (Jr 17.9; Jo 8.44). Pecadores não redimidos são incapazes de fazer qualquer coisa para agradar a Deus (Is 64.6). São incapazes de amar genuinamente a Deus, obedecer de coração, com motivações corretas, de entender as verdades espirituais, de ter uma fé genuína, de agradar a Deus ou busca-lo verdadeiramente (Hb 11.1).
Depravação total significa que os pecadores não têm capacidade de fazer o bem espiritual ou de fazer algo em prol de sua própria salvação quanto ao pecado.
1 Co 2.14
Como toda a humanidade foi contaminada por ela?
Por causa do pecado de Adão esse estado de morte espiritual passou a toda a humanidade (pecado original).
Rm 5.12-19; 1 Co 15.22
Portanto, já nascemos com uma natureza depravada e pecadora. Pecamos porque somos pecadores.
Mc 7.21-23; Ef 2.3
Lloyd Jones afirma:
“Porque o homem sempre escolhe pecar? A resposta é que o homem se afastou de Deus, e em decorrência disso, sua natureza se tornou totalmente pervertida e pecaminosa. Toda inclinação do homem vai no rumo oposto ao de Deus. Por natureza, ele odeia a Deus e sente que Deus se opõe a ele. Seu deus é ele mesmo, suas próprias habilidades e poderes, seus próprios desejos. Ele se opõe a todo conceito de Deus e às exigências que Deus faz a ele... Além disso, o homem gosta e cobiça as coisas que Deus proíbe, e desaprova as coisas e o tipo de vida que Deus o convoca a ter. Não existem afirmações simplesmente dogmáticas. Elas são fatos... Elas por si só explicam a desordem moral e a feiura que tão bem caracteriza a vida nos dias de hoje.”
A salvação do pecado original vem somente por intermédio da cruz de Cristo.
Rm 5.19
Nascemos no pecado (Sl 51.5) e se desejarmos nos tornar filhos de Deus e entrar em seu reino, precisamos nascer novamente pelo Espírito de Deus (Jo 3.3-8).
Sendo assim, a doutrina da depravação total se choca diretamente com a doutrina da auto-estima, não há como conciliar a duas. Pois para a doutrina da auto-estima homens e mulheres são bons. Mas, exatamente o oposto é verdadeiro. Todos somos inimigos de Deus por natureza, pecadores, amantes de nós mesmos, e escravos do nosso próprio pecado. Estamos cegos, surdos e mortos para questões espirituais. Somos orgulhosos.  Essa é a nossa autoimagem adequada.
É por isso que Jesus elogiou o publicano ao invés de reprova-lo por sua “baixo auto-estima” (Lc 18.13,14). O homem finalmente chegou ao ponto de enxergar exatamente o que era.
Todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Quando alguém vem para um aconselhamento, geralmente, ele sabe que há algo profundamente errado com ele, sua consciência o confronta com a sua pecaminosidade. Por mais que tentem prejudicar os outros, ou procurem ajuda psicológica, não podem fugir da realidade. Não podem negar a própria consciência.
Sentem culpa porque são culpados. Somente a cruz de Cristo pode acabar com essa vergonha pelo pecado. A auto-estima pode mascarar esse sentimento, varrendo a sujeira para debaixo do tapete, buscar outros relacionamentos ou culpar outros pode até dar um certo alívio, mas isso é superficial.
A verdadeira culpa tem somente uma causa: o pecado.  Até que o pecado seja tratado a consciência o acusará. E foi o pecado e não a baixo auto-estima que Cristo veio derrotar. Paulo deixa claro isso no livro de Romanos: em Rm 1.18-32 ele demonstra a culpa dos gentios, em Rm 2.1-16 ele demonstra a culpa dos moralistas que violam o mesmo padrão que pelo qual ele julga os outros. Em Rm 2.17-3.8 estabelece a culpa dos judeus. Conclusão, todos pecara, ninguém tem vantagem alguma (Rm 3.9).
Essa doutrina é assustadora e inacreditável para os que se encontram mimados pela doutrina da auto-estima.
A prova.
Paulo continua nos provando a doutrina, destacando a universalidade do pecado. Rm 3.10-17
O argumento de Paulo é construído em três partes:
1)      O pecado corrompe o caráter (Rm 3.10-12). Ele faz seis acusações: o ser humano é mau, espiritualmente ignorante, rebelde, obstinado, espiritualmente imprestável e moralmente corrupto. Portanto, o ensinamento da auto-estima é a expressão máxima de orgulho. Fazer um selvagem sentir-se bem acerca de si mesmo apenas aumenta sua periculosidade. Como alguém pode se sentir bem acerca de si mesmo, quando o próprio Deus o declara digno de ira? Qual é a grande necessidade das pessoas? Não é a auto-estima ou o pensamento positivo, mas a redenção de seu pecado orgulhoso.
2)      O Pecado corrompe a nossa fala (Rm 3.13,14). A fala perversa, uma expressão da impiedade do coração, corrompe a pessoa por completo (Mt 15.11).
3)      O pecado corrompe a conduta (Rm 3.15-17). Os pecadores são naturalmente atraídos para o ódio e para seu fruto de sangue. O problema do homem não é a baixo auto-estima, mas o orgulho que nos conduz ao pecado, incluindo ódio, hostilidade e os homicídios. O amor pelo derramamento de sangue invade e domina o coração da humanidade pecaminosa. Remova as restrições morais da sociedade, e o resultado inevitável será o aumento dos homicídios e violência – não importa quão bem as pessoas se sintam a respeito de si mesmas.

Não ouvimos muito acerca de temer a Deus nos dias atuais. Até mesmo muitos cristãos parecem sentir que a linguagem do temor é de alguma forma muito áspera ou muito negativa. Quão mais fácil é falar do amor de Deus e de Sua infinita misericórdia. Mas longanimidade, bondade e tais atributos são exaltados no meio cristão hoje. Isso faz com que a maioria das pessoas não pensam em Deus como alguém a ser temido. Não percebem que ele odeia o orgulho e pune os malfeitores. São presunçosos em relação à graça de Deus. Temem mais o que as pessoa pensam do que com o que Deus pensa.
Encorajar o temor do Senhor elimina a doutrina da auto-estima. Como é que podemos encorajar o temor do Senhor e a o mesmo tempo incentiva as pessoas que se amem mais.
O Veredicto.
Rm 3.19
Tanto judeus que tinham a lei escrita de Deus, quanto gentios que tinha a lei na consciência (Rm 2.11-15) são culpados. Não há defesa. A humanidade não redimida é culpada.
A auto-estima não é a solução para a depravação humana. Ela só a agrava! Os problemas da nossa cultura – angústia, medo, ansiedade – não serão resolvidos por meio do engano de fazer com que as pessoas se sintam melhores acerca de si mesmas, ou se amem mais. As pessoas são de fato pecaminosas, no mais íntimo do seu ser. A culpa e a vergonha que sentimos como pecadores é legítima, natural e até boa. Ela nos leva a conhecermos mais a nossa própria pecaminosidade e o Senhor que a redime.

Consequências das crenças na doutrina da auto-estima.
1 – A atribuição do mal a causas externas. Para muitos, já que as pessoas são basicamente boas, o mal que elas fazem deve ser causado por alguma força exterior.  Que pode ser o ambiente social, circunstâncias econômicas, família disfuncional, influencia nas escolas, violência na TV, armas, racismo, bullyng, o diabo, impostos abusivos e até mesmo a corrupção do país. Para eles, as pessoas não são responsáveis pelo mal que cometem. De acordo com a palavra os maus comportamentos procedem do coração pecaminoso, nada o justifica.
2 – Negação do mal. Se o bem é natural, então o mal não deve ser natural, doentio. As categorias morais têm sido substituídas pelas categorias psicológicas. Não existe mais bom e mau, apenas normal e doentio.
3 – Nem os pais nem as escolas leva a sério a responsabilidade de ensinar bondade às crianças. Porque ensinar o que vem naturalmente? Somente aqueles que reconhecem que as pessoas não são basicamente boas percebem a necessidade de se ensinar a bondade.
4 – Já que grande parte da sociedade crê que o mal vem de fora das pessoas, ela parou de procurar mudar os valores das pessoas e em lugar disso concentra-se em mudar forças externas. As pessoas cometem crimes? Não é com o desenvolvimento dos valores e do caráter que precisamos nos preocupar; precisamos mudar o ambiente socioeconômico que produz estupradores e assassinos. Homens irresponsáveis engravidam mulheres irresponsáveis? Não é de valores melhores que necessitam, mas de uma educação sexual melhor e um acesso maior a preservativos e abortos.
5 – Se as pessoas são boas, elas não precisa se sentir culpadas de seus pecados. As pessoas não precisam sentir responsabilidade diante de Deus ou de uma religião, somente para consigo mesmas.
J.C Ryle diz:
“O ponto de vista bíblico do pecado é um dos melhores antídotos para aquele tipo vago, nebuloso e indefinido de teologia, tão dolorosamente popular nesta época. É inútil cerrar os olhos para o fato de que há um cristianismo muito abundante distorcido, mas que, a despeito disso, não oferece boa medida e peso certo de mil gramas para aquilo. Trata-se de um cristianismo, no qual, inegavelmente, há “algo de Cristo, algo de graça, algo de fé, algo de arrependimento e algo da santificação”, mas que não é “mercadoria legítima” conforme encontramos na Bíblia. As coisas encontram-se fora de lugar e fora de proporções. Conforme diria Latimer, trata-se de uma espécie de “mistura esquisita” que não traz bem algum. Não exerce influência sobre a conduta diária, não consola a vida nem confere paz por ocasião da morte. Aqueles que a defendem, com frequência despertam tarde demais para descobrir que nada têm de sólido sob os pés. Ora, acredito que a maneira mais certa de curar e corrigir essa modalidade defeituosa de religião consista em destacar com maior proeminência as antigas verdades bíblicas sobre a pecaminosidade do pecado.”

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O HORIZONTE DESVANECIDO – PÓS-MODERNISMO



Introdução: a tentação da superficialidade.

- Para mim, a grande sedução da nossa época, chamada “pós-moderna”, é a superficialidade, que se esconde na defesa do relativismo. Todas as cosmovisões afastam-nos em algum grau do teísmo, e insinuam riscos diversos. Contra todas busco acautelar-me, embora nem sempre com êxito. No que tange ao pós-modernismo, a expressão cultural de uma época histórica, a tentação é a da superficialidade. As cosmovisões estudadas anteriormente afastaram muitos de Deus, tirando-os da Igreja. O pós-modernismo vai além – afasta muitos de Deus, mantendo-os nas Igrejas. Parece-me notavelmente mais insidioso. Em que consiste então sua superficialidade?
  • Superficialidade artística. Não estranha que muitos críticos tenham propugnado por um retorno aos clássicos. Com a relativização dos padrões, afastamo-nos dos excelentes escritores. A certa altura, encontramos bom álibi para a nossa preguiça intelectual. Note-se ainda a desconfiança com o uso da expressão “elite artística”.
  • Superficialidade filosófica. De outro modo não poderia compreender a sedução do “teísmo aberto”. Os seus adeptos posam de intelectuais sofisticados, mas demonstram menos solidez filosófica do que parece. De fato, trocaram Agostinho por algum guru existencialista de última hora. Provavelmente o maior risco para o cristianismo não seja a filosofia, mas a má filosofia, a filosofia superficial. Por sinal, a seu modo C. S. Lewis já tinha sublinhado essa questão.
  • Superficialidade teológica. Esquecemo-nos dos grandes pensadores da nossa Igreja em favor de outros de caráter e teor duvidosos. Uma página de Agostinho, Calvino, Comênio, C. S. Lewis vale certamente mais do que a grande parte dos livros evangélicos que inundam a nossa época – uma superficialidade na qual se destacam brasileiros e norte-americanos. Sendo a nossa vida tão curta, não caberia nos servirmos melhor das nossas leituras?
  • Superficialidade no lazer. Constrange-me o tempo que gastamos em frente à televisão ou em redes sociais. A maior parte dos brasileiros perde quatro a seis horas em frente à televisão. Não é melhor a situação das redes sociais – em que muitos despendem horas a fio em conversas fúteis e comentários tolos. Quando penso no que eu poderia fazer se não estivesse tantas horas em frente à televisão, ou surfando nas águas duvidosas da internet! Não se enganem, não é apenas a pornografia o problema da internet – obviamente isto é gravíssimo. Mas também a banalidade, a futilidade, a irrelevância.
  • Superficialidade política. Especialmente no Brasil, vivenciamos um empobrecimento da espera pública. As discussões políticas encontram-se polarizadas, sem mediação, sem escuta efetiva. Ou aderimos sem reservas, ou rejeitamos sem exame cuidadoso. Ou lemos semanários apologéticos, ou jornalismo de esgoto. Isso não está certo, e não nos conduzirá a um exame criterioso da situação. Império da pequena política. No meio evangélico a situação é ainda mais precária – estão loteando há muito a nossa cidadania. É preciso dizer não a tudo isso, e prosseguir na luta por uma sociedade mais justa, menos autoritária, mais cidadã. Milton Santos tocou no nervo do problema: “as classes médias no Brasil não querem cidadania, e sim privilégios”. Os servos de Cristo têm condições de responder de forma propositiva a tudo isso.

- A profundidade da palavra e da nossa tradição histórica cristã:
  • Diversidade de gêneros e de estilos.
  • Salmos
  • Isaías. Tome-se, por exemplo, 40.12: “Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão?”
  • O sofrimento de Cristo
a.    O nascimento: Deus feito homem – que grande mistério! Isso pode e deve alimentar nossa imaginação e pensamento durante toda a nossa vida.
b.    A ressurreição – que o narrador das Crônicas de Nárnia chama de “a grande magia”. De fato. Convida aqueles homens sôfregos por magia a considerarem a maior de todas: Jesus ressuscitou ao terceiro dia.
è kairós: um tempo oportuno para uma grande virada existencial, com vistas a viver plenamente a suprema revelação do amor de Deus em Cristo.
  • A teologia paulina: Rm 11.33: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!”
  • Não posso ler Rm 11.36 sem profunda comoção: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”
  • A riqueza imagética do Apocalipse, de algum modo fora preparada nos Salmos e Isaías.
  • Crônicas de Nárnia – posto que seja literatura infanto-juvenil, uma de suas páginas nos alimentaria com mais consistência do que a maior parte dos livros evangélicos que nos rodeiam.
  • Jean Guitton. Conferir Deus e a ciência.
  • Boa música cristã:
a.    Bach
b.    Vencedores por Cristo:
c.    Sérgio Pimenta: “Só quem sofreu”, “Fonte”, “Quando se está só” etc.
d.    João Alexandre: “Olhos no espelho”, “Em nome da justiça”, “Vaidade”, “Canção da madrugada”
e.    Aristeu Pires
f.     Gladir Cabral: “Navio negreiro”
g.    Etc.

- Está claro, parece-me, que o convite do Cristianismo é para vivermos vida agradável, profunda e sincera diante de Deus e dos homens.

 I. Periodização e proposições básicas
- Epígrafe:
  • “O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar: “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? (...) Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? (...) Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? (...) “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens.” (A gaia ciência, §125, “O homem louco”)
 - Nietzsche vislumbrou mudanças profundas em nossa cultura:
  • O centro está abalado
  • Morte de Deus, morte de todos os valores
 - Prefixo problemático:
  • Definir-se por ser “pós”, realmente auxilia? É significativo?
  • Segundo o autor, trata-se tão somente de um moderno conduzido às últimas consequências.
  • Anthony Giddens, em As consequências da modernidade: a pós-modernidade significaria uma radicalização da modernidade (apud p. 361, nota 2)
  • Alguns preferem o termo “hiper-modernidade”
  • O prefixo “pós”: sua insuficiência e provisoriedade
  • Modernidade e modernismo
  • Pós-modernidade
  • Pós-modernismo
 - Vivemos sob um pluralismo que se avizinha da anarquia:
  • “Nossa era, que mais e mais está sendo chamada de pós-moderna, encontra-se à deriva em um mar de perspectivas pluralistas, de possibilidades filosóficas em excesso, porém, sem qualquer noção dominante que indique para onde ir ou como chegar lá. Um futuro de anarquia cultural se avizinha como inevitável.” (p. 264)
  • Talvez haja certo exagero no diagnóstico do autor. Mas uma coisa é certa: em mais de um caso, os resultados desse processo não ensejam otimismo – do ponto de vista artístico, por exemplo, é difícil nos orgulharmos do que obtivemos até o momento.
  • Sinal disso é que nas cosmovisões anteriores contávamos com uma exemplificação rica em grande obras de arte. Escasseia-se agora semelhante amostra.
 - Dificuldades na definição do termo:
  • Muito vago
  • Refere-se a uma época sem um centro. Como definir semelhante movimento?
 - Contribuição de Ihab Hassan:
  • Algumas características comuns:
a.    Fragmentos
b.    Hibridez
c.    Relativismo
d.    Jogo
e.    Paródia
f.     Pastiche
g.    Postura anti-ideológica irônica
h.    Brega e burlesco
  • “fragmentos, hibridez, relativismo, jogo, paródia, pastiche, uma postura anti-ideológica irônica, um caráter beirando o brega e o burlesco.” (p. 265)
 - Especialmente visível em mudanças na arquitetura:
  • Na moderna, a forma seguia a função: “caixas impessoais e sem adornos de concreto, vidro e aço”
  • Na pós-moderna, resistência crítica ao impessoal “modelos e formas mais complexas, resgatando motivos do passado sem considerar o propósito ou função original.” (p. 266)
 - A contribuição de Jean-François Lyotard:
  • Resistência às metanarrativas
  • Resistência às grandes narrativas (grand récit) em favor das pequenas narrativas (pétit récit)
  • “Não há mais aquelas duradouras histórias, cada qual fornecendo uma base de poder para o grupo social que as detêm como suas. Com o advento do pós-modernismo, nenhuma história pode ter mais credibilidade que a outra. Todas elas são igualmente válidas, sendo, assim, validadas pela comunidade que vive por elas.” (p. 266)

1.    A primeira questão que o pós-modernismo suscita não é o que está lá ou como sabemos o que lá está, mas como a linguagem funciona para construir significado. Em outras palavras, há uma mudança nas “primeiras coisas” de ser para saber, para construir significado.
  • Duas mudanças importantes:
a.    Do pré-moderno ao moderno – Descartes, por exemplo.
b.    Do moderno ao pós-moderno – Nietzsche, por exemplo.
  • “Houve uma passagem de (1) um interesse “pré-moderno” por uma sociedade justa baseada na revelação de um Deus justo, para (2) uma tentativa “moderna” de utilizar a razão universal como um guia para a justiça, para (3) um desespero “pós-moderno” por qualquer padrão universal de justiça.” (p. 268)
  • O autor detém-se em Descartes. A autonomia da razão nele desenvolvida ocasionaria consequências consideráveis. O progresso científico que então se delineia haveria de julgar-se devedor do esforço da razão, e não da revelação das Escrituras.
  • O poder instrumental liberado por semelhante diretiva filosófica:
a.    Poder sobre a natureza
b.    Poder para submeter tudo à satisfação dos nossos desejos
  • “Na ciência, os resultados foram extraordinários. Na filosofia, entrementes, o movimento do ser para conhecer, da primazia de Deus que cria e revela, para a primazia do eu que conhece por si só, mostrou-se fatal.” (p. 271)
è Ensaio preparatório da filosofia moderna e também da pós-moderna.
è O autor examina em linhas brevíssimas o movimento da filosofia em Hume à Kant à Hegel à Idealismo alemão à Nietzsche
  • Passo radical de Nietzsche: desconfiança do poder da razão humana em conhecer. O eu revela-se uma ilusão – em meio a forças diversas da vontade de poder. Mero efeito de linguagem. O que Foucault chamava de “mestre da suspeita”.

2.    A verdade sobre a própria realidade está para sempre oculta de nós. Tudo o que podemos fazer é contar histórias.
  • Contamos histórias, que são como a “racionalização de desejos”.
  • Verdade segundo Nietzsche: nada mais que metáforas (em Verdade e mentira num sentido extra-moral).
  • Podemos ter significado com as nossas narrativas, mas não podemos ter a verdade.
  • Linguagem e utilidade, não verdade.
  • Verdade: “produzida” mediante a concordância dos colegas e da comunidade – tal “como os “poetas fortes”, Moisés, Jesus, Platão, Freud – nossa história é tão verdadeira como qualquer história o será.” (p. 275)
  • Verdade pragmática X verdade como correspondência
  • Fundamento (na verdade, um sem fundamento...) para o relativismo religioso: “Nenhuma história é mais verdadeira que qualquer outra. A história funciona? Ou seja, ela satisfaz a quem a conta? Ela lhe fornece o que você deseja – digamos, um senso de pertencer, uma paz consigo mesmo, uma esperança no futuro, uma forma de ordenar a sua vida? isso é tudo o que alguém pode perguntar.” (p. 276-77)
  • Passagem:
1.    “noção pré-moderna cristão de uma determinada metanarrativa revelada
2.    Noção “moderna” de autonomia da razão humana com acesso à verdade de correspondência
3.    Noção “pós-moderna” de que criamos a verdade quando construímos linguagem que sirvam aos nossos propósitos, embora essas mesmas linguagens se descontruam sob análise.” (p. 277)

3.    As histórias propiciam às comunidades o seu caráter de coesão.
  • Produzem coesão social: “as histórias possuem um poder de união social enorme; elas edificam comunidades que, caso contrário, seriam um bando díspar de pessoas.” (p. 278)
  • Isso as faz funcionar enquanto metanarrativas, ocultando jogos de poder variados: “em geral, tais histórias, agindo como metanarrativas, mascaram um jogo pelo poder, executado em qualquer sociedade por aqueles que controlam os detalhes e a propagação da história.” (p. 278)
  • Problema: esse quadro explicativo apresentado por Lyotard não seria ele mesmo uma metanarrativa – e assim não crível, não superior às demais? Por que então deveríamos aceitá-lo?

4.    Todas as narrativas mascaram um jogo pelo poder. Qualquer narrativa utilizada como metanarrativas torna-se opressiva.
  • Contribuição de Michel Foucault.
  • Haja vista não possuirmos critérios objetivos para distinguir loucura e sanidade, tudo o de que dispomos é das definições impostas, não sem opressão e violência, pela sociedade.
  • Não é difícil conceder certa razão a Foucault. Sua tese, no entanto, se tomada em sua totalidade, conduziria à anarquia.
  • Relatar o caso de um estudante que tive, obcecado por violência.
  • Metanarrativas e jogos de poder.
  • Passagem:
1.    “uma aceitação “pré-moderna” de uma metanarrativa escrita por Deus e revelada na Escritura
2.    Uma metanarrativa “moderna” de razão universal gerando verdades sobre realidade
3.    Uma redução “pós-moderna” de todas as metanarrativas a meros jogos de poder. (p. 279-80)

5.    Não há eu substancial. Os seres humanos fazem de si mesmos o que são pelas linguagens construídas sobre eles mesmos.
  • Certos elementos existencialistas aqui.
  • “O eu não é uma substância, tampouco uma atividade, mas uma construção flutuante, dependente da linguagem que ele utiliza. Se somos “poetas fortes”, criamos novas maneiras de falar ou modificar a linguagem de nossa sociedade. Freud, por exemplo, foi um poeta forte. Ele levou toda uma sociedade a falar sobre a realidade humana em termos como “o complexo de Édipo” ou “id, o ego e o superego”. Jung criou o “inconsciente coletivo”.” (p. 280)
  • Nosso eu é mera construção de linguagem
  • Nietzsche e a defesa de um eu enquanto Übermensch (sobre-homem, além-do-homem – também traduzido, por vezes, como “super-homem”)para além do convencionalismo do rebanho e de consolos metafísicos.
  • Passagem:
1.    “Noção teísta “pré-moderna” de que os seres humanos são dignificados por serem criados à imagem de Deus
2.    Noção “moderna” de que os seres humanos são o produto do modelo de DNA, o que em si mesmo é o resultado de uma evolução não-planejada baseada nas mutações aleatórias e a sobrevivência do mais apto
3.    Noção “pós-moderna” de um eu não substancial, construído pela linguagem que ele utiliza para descrever a si mesmo.” (p. 281)


6.    A ética, como o conhecimento, é uma construção linguística. O bem social é tudo aquilo que a sociedade assume ser.
  • Relativismo cultural + a verdade é o que decidimos que ela seja.
  • Claramente insatisfatória para quem esforça por seguir vida reta.
  • Richard Rorty.
  • Como então decidir-se? A partir de que critério?
  • O caso Foucault:
a.    Bem por excelência: a liberdade individual, com o objetivo de se obter o maior prazer possível.
b.    Temor de que as instâncias repressivas da sociedade roubassem ao indivíduo esse bem.
c.    Lei = repressão. Descriminalização = liberdade. (p. 283)
  • Valor da obra literário: interação obra/leitor. Seria, assim, meramente contingente.
  • Passagem:
1.    Ética teísta “pré-moderna” fundamentada no caráter de um Deus transcendente que é bom e que tem revelado essa bondade a nós
2.    Ética “moderna” baseada em uma noção de razão e experiência humana universal, e na capacidade humana de discernir o objetivo certo do errado
3.    Noção “pós-moderna” de que a moralidade é a multiplicidade de linguagens utilizadas para discernir o certo do errado.” (p. 283-4)

7.    O pós-modernismo é instável.
  • História do desenvolvimento do pós-modernismo, em traços gerais:
a.    Relevância teórica concedida a partir da década de 60 aos estudos literários.
b.    Marx e Freud influenciando o New Criticism
c.    Antropologia (Lévi-Strauss)
d.    Sociologia (Foucault, Lyotard)
e.    Feminismo (Kate Millet, Elaine Showalter)
f.     Linguística (Saussure)
g.    Derrida
h.    Stanley Fish
i.      Críticos literários tornam-se em celebridades intelectuais
j.      Proeminência dos estudos culturais em departamentos de língua inglesa
è Isso sublinha o caráter limitado da abordagem do autor – a cena apresenta matizes diferentes em outras culturas.
  • Importante crítica de John M. Ellis, Against deconstruction:
a.    Literatura enquanto literatura
b.    Liderou a Association of Literary Scholars (ALSC)
c.    “Essa organização ainda está ativa em sua ênfase no estudo tradicional de literatura como “literatura”, não como linguística, política ou um instrumento de mudança social.” (p. 286)
d.    Algo dessa inquietação também se manifesta num crítico literário não cristão – Harold Bloom (conferir O cânone ocidental).
  • Conferir ainda The death of the truth, de Dennis MacCallum. Útil coletânea de ensaios críticos ao pós-modernismo, escritos por especialistas em diversas áreas do conhecimento.
  • Muitas contradições internas.
  • Muitas reações críticas começam a discernir-se.
  • G.: O caso Allan Sokal

II. Visão panorâmica
- O realismo dos teístas cristãos e dos cientistas contrapõe-se ao antirealismo dos pós-modernistas:
  • “A maioria dos cientistas, naturalistas ou teístas cristãos, é constituída de críticos realistas. Eles acreditam que há um mundo externo a eles mesmos e que as descobertas da ciência descrevem o que o mundo é, com certa precisão. Os pós-modernistas são antirrealistas: eles negam que exista qualquer conexão conhecida ou conhecível entre o que nós pensamos e dizemos com o que na realidade existe.” (p. 288)
 - A linguagem excessivamente obscura de muitos autores pós-modernos:
  • Conferir o “caso Sokal”
  • Físico da CUNY
  • Enviou um artigo ao jornal Social Text, intitulado “Transgredindo os limites: rumo a uma hermenêutica transformativa da gravidade quântica”.
  • Tratava-se de um trote
  • Reação irada de alguns pós-modernistas

- Teologia dividiu-se entre adeptos e críticos do pós-modernismo.

III. Uma crítica
- Elementos aceitáveis no pós-modernismo:
1.    A crítica ao otimismo naturalista:
  • “Excessiva confiança tem sido depositada na razão humana e no método científico.” (p. 292)
  • Descartes substitui pela certeza de si a confiança em Deus. Os resultados se revelariam fatais.

2.    Relação pertinente entre linguagem e poder.
  • “Realmente contamos “histórias”, cremos em “doutrinas”, defendemos “filosofias”, porque elas nos propiciam poder ou o poder de nossa comunidade sobre os demais.” (p. 292)
  • “A aplicação pública de nossas definições sobre loucura, de fato, coloca a saúde mental das pessoas sob vigilância.” (p. 292)
  • Conferir O alienista, de Machado de Assis.
  • Problema: sua radicalidade: “Se todo o discurso, igualmente, for imbuído de preconceito, não há razão para usar uma em detrimento da outra. Isso constitui anarquia moral e intelectual.” (p. 293)
  • McGrath, citado na nota 64, da página 370: “O pós-modernismo, portanto, nega, na prática, o que afirma em teoria. Mesmo a questão casual: ‘O pós-modernismo é verdadeiro’, ingenuamente suscita questões criteriosas fundamentais que o pós-modernismo considera embaraçosamente difíceis de lidar.” (apud p. 370)

3.    Finitude e/da compreensão humana:
  • “a atenção para as condições sociais sob as quais compreendemos o mundo pode nos alertar quanto à limitação de nossa perspectiva como seres humanos finitos.” (p. 293)
  • A sociedade nos molda de maneiras as mais diversas, mas não nos determina. De outro modo, essa afirmação seria fruto da sociedade – não haveria assim condições de criticar precisamente essa sociedade.

- Elementos mais problemáticos:
1.    A rejeição de todas as metanarrativas é, em si mesma, uma metanarrativa.

2.    A ideia de que não temos acesso à realidade é autorreferencialmente incoerente.
  • “Expressa de forma nua e crua, essa ideia não pode explicar a si mesma, pois nos conta algo que, por sua própria natureza, não podemos saber.” (p. 294)

3.    A afirmação da indeterminação (por efeito da sua ambiguidade inescapável) da linguagem é problemática: “existe um paradoxo insolúvel em utilizar a linguagem para declarar que a linguagem não pode fazer declarações não ambíguas” (p. 295)

4.    A crítica pós-modernista à autonomia da razão pressupõe precisamente o que nega – a existência da razão:
  • Quem critica a proposição cartesiana não é o pensamento de Nietzsche? Não pressupõe um sujeito substancial? Ou é mero efeito dos diversos deslocamentos da linguagem? Como escapar a semelhante labirinto? Faz sequer sentido essa formulação – querer sair do labirinto?