quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O HORIZONTE DESVANECIDO – PÓS-MODERNISMO



Introdução: a tentação da superficialidade.

- Para mim, a grande sedução da nossa época, chamada “pós-moderna”, é a superficialidade, que se esconde na defesa do relativismo. Todas as cosmovisões afastam-nos em algum grau do teísmo, e insinuam riscos diversos. Contra todas busco acautelar-me, embora nem sempre com êxito. No que tange ao pós-modernismo, a expressão cultural de uma época histórica, a tentação é a da superficialidade. As cosmovisões estudadas anteriormente afastaram muitos de Deus, tirando-os da Igreja. O pós-modernismo vai além – afasta muitos de Deus, mantendo-os nas Igrejas. Parece-me notavelmente mais insidioso. Em que consiste então sua superficialidade?
  • Superficialidade artística. Não estranha que muitos críticos tenham propugnado por um retorno aos clássicos. Com a relativização dos padrões, afastamo-nos dos excelentes escritores. A certa altura, encontramos bom álibi para a nossa preguiça intelectual. Note-se ainda a desconfiança com o uso da expressão “elite artística”.
  • Superficialidade filosófica. De outro modo não poderia compreender a sedução do “teísmo aberto”. Os seus adeptos posam de intelectuais sofisticados, mas demonstram menos solidez filosófica do que parece. De fato, trocaram Agostinho por algum guru existencialista de última hora. Provavelmente o maior risco para o cristianismo não seja a filosofia, mas a má filosofia, a filosofia superficial. Por sinal, a seu modo C. S. Lewis já tinha sublinhado essa questão.
  • Superficialidade teológica. Esquecemo-nos dos grandes pensadores da nossa Igreja em favor de outros de caráter e teor duvidosos. Uma página de Agostinho, Calvino, Comênio, C. S. Lewis vale certamente mais do que a grande parte dos livros evangélicos que inundam a nossa época – uma superficialidade na qual se destacam brasileiros e norte-americanos. Sendo a nossa vida tão curta, não caberia nos servirmos melhor das nossas leituras?
  • Superficialidade no lazer. Constrange-me o tempo que gastamos em frente à televisão ou em redes sociais. A maior parte dos brasileiros perde quatro a seis horas em frente à televisão. Não é melhor a situação das redes sociais – em que muitos despendem horas a fio em conversas fúteis e comentários tolos. Quando penso no que eu poderia fazer se não estivesse tantas horas em frente à televisão, ou surfando nas águas duvidosas da internet! Não se enganem, não é apenas a pornografia o problema da internet – obviamente isto é gravíssimo. Mas também a banalidade, a futilidade, a irrelevância.
  • Superficialidade política. Especialmente no Brasil, vivenciamos um empobrecimento da espera pública. As discussões políticas encontram-se polarizadas, sem mediação, sem escuta efetiva. Ou aderimos sem reservas, ou rejeitamos sem exame cuidadoso. Ou lemos semanários apologéticos, ou jornalismo de esgoto. Isso não está certo, e não nos conduzirá a um exame criterioso da situação. Império da pequena política. No meio evangélico a situação é ainda mais precária – estão loteando há muito a nossa cidadania. É preciso dizer não a tudo isso, e prosseguir na luta por uma sociedade mais justa, menos autoritária, mais cidadã. Milton Santos tocou no nervo do problema: “as classes médias no Brasil não querem cidadania, e sim privilégios”. Os servos de Cristo têm condições de responder de forma propositiva a tudo isso.

- A profundidade da palavra e da nossa tradição histórica cristã:
  • Diversidade de gêneros e de estilos.
  • Salmos
  • Isaías. Tome-se, por exemplo, 40.12: “Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em balança de precisão?”
  • O sofrimento de Cristo
a.    O nascimento: Deus feito homem – que grande mistério! Isso pode e deve alimentar nossa imaginação e pensamento durante toda a nossa vida.
b.    A ressurreição – que o narrador das Crônicas de Nárnia chama de “a grande magia”. De fato. Convida aqueles homens sôfregos por magia a considerarem a maior de todas: Jesus ressuscitou ao terceiro dia.
è kairós: um tempo oportuno para uma grande virada existencial, com vistas a viver plenamente a suprema revelação do amor de Deus em Cristo.
  • A teologia paulina: Rm 11.33: “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!”
  • Não posso ler Rm 11.36 sem profunda comoção: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”
  • A riqueza imagética do Apocalipse, de algum modo fora preparada nos Salmos e Isaías.
  • Crônicas de Nárnia – posto que seja literatura infanto-juvenil, uma de suas páginas nos alimentaria com mais consistência do que a maior parte dos livros evangélicos que nos rodeiam.
  • Jean Guitton. Conferir Deus e a ciência.
  • Boa música cristã:
a.    Bach
b.    Vencedores por Cristo:
c.    Sérgio Pimenta: “Só quem sofreu”, “Fonte”, “Quando se está só” etc.
d.    João Alexandre: “Olhos no espelho”, “Em nome da justiça”, “Vaidade”, “Canção da madrugada”
e.    Aristeu Pires
f.     Gladir Cabral: “Navio negreiro”
g.    Etc.

- Está claro, parece-me, que o convite do Cristianismo é para vivermos vida agradável, profunda e sincera diante de Deus e dos homens.

 I. Periodização e proposições básicas
- Epígrafe:
  • “O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar: “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? (...) Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? (...) Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? (...) “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens.” (A gaia ciência, §125, “O homem louco”)
 - Nietzsche vislumbrou mudanças profundas em nossa cultura:
  • O centro está abalado
  • Morte de Deus, morte de todos os valores
 - Prefixo problemático:
  • Definir-se por ser “pós”, realmente auxilia? É significativo?
  • Segundo o autor, trata-se tão somente de um moderno conduzido às últimas consequências.
  • Anthony Giddens, em As consequências da modernidade: a pós-modernidade significaria uma radicalização da modernidade (apud p. 361, nota 2)
  • Alguns preferem o termo “hiper-modernidade”
  • O prefixo “pós”: sua insuficiência e provisoriedade
  • Modernidade e modernismo
  • Pós-modernidade
  • Pós-modernismo
 - Vivemos sob um pluralismo que se avizinha da anarquia:
  • “Nossa era, que mais e mais está sendo chamada de pós-moderna, encontra-se à deriva em um mar de perspectivas pluralistas, de possibilidades filosóficas em excesso, porém, sem qualquer noção dominante que indique para onde ir ou como chegar lá. Um futuro de anarquia cultural se avizinha como inevitável.” (p. 264)
  • Talvez haja certo exagero no diagnóstico do autor. Mas uma coisa é certa: em mais de um caso, os resultados desse processo não ensejam otimismo – do ponto de vista artístico, por exemplo, é difícil nos orgulharmos do que obtivemos até o momento.
  • Sinal disso é que nas cosmovisões anteriores contávamos com uma exemplificação rica em grande obras de arte. Escasseia-se agora semelhante amostra.
 - Dificuldades na definição do termo:
  • Muito vago
  • Refere-se a uma época sem um centro. Como definir semelhante movimento?
 - Contribuição de Ihab Hassan:
  • Algumas características comuns:
a.    Fragmentos
b.    Hibridez
c.    Relativismo
d.    Jogo
e.    Paródia
f.     Pastiche
g.    Postura anti-ideológica irônica
h.    Brega e burlesco
  • “fragmentos, hibridez, relativismo, jogo, paródia, pastiche, uma postura anti-ideológica irônica, um caráter beirando o brega e o burlesco.” (p. 265)
 - Especialmente visível em mudanças na arquitetura:
  • Na moderna, a forma seguia a função: “caixas impessoais e sem adornos de concreto, vidro e aço”
  • Na pós-moderna, resistência crítica ao impessoal “modelos e formas mais complexas, resgatando motivos do passado sem considerar o propósito ou função original.” (p. 266)
 - A contribuição de Jean-François Lyotard:
  • Resistência às metanarrativas
  • Resistência às grandes narrativas (grand récit) em favor das pequenas narrativas (pétit récit)
  • “Não há mais aquelas duradouras histórias, cada qual fornecendo uma base de poder para o grupo social que as detêm como suas. Com o advento do pós-modernismo, nenhuma história pode ter mais credibilidade que a outra. Todas elas são igualmente válidas, sendo, assim, validadas pela comunidade que vive por elas.” (p. 266)

1.    A primeira questão que o pós-modernismo suscita não é o que está lá ou como sabemos o que lá está, mas como a linguagem funciona para construir significado. Em outras palavras, há uma mudança nas “primeiras coisas” de ser para saber, para construir significado.
  • Duas mudanças importantes:
a.    Do pré-moderno ao moderno – Descartes, por exemplo.
b.    Do moderno ao pós-moderno – Nietzsche, por exemplo.
  • “Houve uma passagem de (1) um interesse “pré-moderno” por uma sociedade justa baseada na revelação de um Deus justo, para (2) uma tentativa “moderna” de utilizar a razão universal como um guia para a justiça, para (3) um desespero “pós-moderno” por qualquer padrão universal de justiça.” (p. 268)
  • O autor detém-se em Descartes. A autonomia da razão nele desenvolvida ocasionaria consequências consideráveis. O progresso científico que então se delineia haveria de julgar-se devedor do esforço da razão, e não da revelação das Escrituras.
  • O poder instrumental liberado por semelhante diretiva filosófica:
a.    Poder sobre a natureza
b.    Poder para submeter tudo à satisfação dos nossos desejos
  • “Na ciência, os resultados foram extraordinários. Na filosofia, entrementes, o movimento do ser para conhecer, da primazia de Deus que cria e revela, para a primazia do eu que conhece por si só, mostrou-se fatal.” (p. 271)
è Ensaio preparatório da filosofia moderna e também da pós-moderna.
è O autor examina em linhas brevíssimas o movimento da filosofia em Hume à Kant à Hegel à Idealismo alemão à Nietzsche
  • Passo radical de Nietzsche: desconfiança do poder da razão humana em conhecer. O eu revela-se uma ilusão – em meio a forças diversas da vontade de poder. Mero efeito de linguagem. O que Foucault chamava de “mestre da suspeita”.

2.    A verdade sobre a própria realidade está para sempre oculta de nós. Tudo o que podemos fazer é contar histórias.
  • Contamos histórias, que são como a “racionalização de desejos”.
  • Verdade segundo Nietzsche: nada mais que metáforas (em Verdade e mentira num sentido extra-moral).
  • Podemos ter significado com as nossas narrativas, mas não podemos ter a verdade.
  • Linguagem e utilidade, não verdade.
  • Verdade: “produzida” mediante a concordância dos colegas e da comunidade – tal “como os “poetas fortes”, Moisés, Jesus, Platão, Freud – nossa história é tão verdadeira como qualquer história o será.” (p. 275)
  • Verdade pragmática X verdade como correspondência
  • Fundamento (na verdade, um sem fundamento...) para o relativismo religioso: “Nenhuma história é mais verdadeira que qualquer outra. A história funciona? Ou seja, ela satisfaz a quem a conta? Ela lhe fornece o que você deseja – digamos, um senso de pertencer, uma paz consigo mesmo, uma esperança no futuro, uma forma de ordenar a sua vida? isso é tudo o que alguém pode perguntar.” (p. 276-77)
  • Passagem:
1.    “noção pré-moderna cristão de uma determinada metanarrativa revelada
2.    Noção “moderna” de autonomia da razão humana com acesso à verdade de correspondência
3.    Noção “pós-moderna” de que criamos a verdade quando construímos linguagem que sirvam aos nossos propósitos, embora essas mesmas linguagens se descontruam sob análise.” (p. 277)

3.    As histórias propiciam às comunidades o seu caráter de coesão.
  • Produzem coesão social: “as histórias possuem um poder de união social enorme; elas edificam comunidades que, caso contrário, seriam um bando díspar de pessoas.” (p. 278)
  • Isso as faz funcionar enquanto metanarrativas, ocultando jogos de poder variados: “em geral, tais histórias, agindo como metanarrativas, mascaram um jogo pelo poder, executado em qualquer sociedade por aqueles que controlam os detalhes e a propagação da história.” (p. 278)
  • Problema: esse quadro explicativo apresentado por Lyotard não seria ele mesmo uma metanarrativa – e assim não crível, não superior às demais? Por que então deveríamos aceitá-lo?

4.    Todas as narrativas mascaram um jogo pelo poder. Qualquer narrativa utilizada como metanarrativas torna-se opressiva.
  • Contribuição de Michel Foucault.
  • Haja vista não possuirmos critérios objetivos para distinguir loucura e sanidade, tudo o de que dispomos é das definições impostas, não sem opressão e violência, pela sociedade.
  • Não é difícil conceder certa razão a Foucault. Sua tese, no entanto, se tomada em sua totalidade, conduziria à anarquia.
  • Relatar o caso de um estudante que tive, obcecado por violência.
  • Metanarrativas e jogos de poder.
  • Passagem:
1.    “uma aceitação “pré-moderna” de uma metanarrativa escrita por Deus e revelada na Escritura
2.    Uma metanarrativa “moderna” de razão universal gerando verdades sobre realidade
3.    Uma redução “pós-moderna” de todas as metanarrativas a meros jogos de poder. (p. 279-80)

5.    Não há eu substancial. Os seres humanos fazem de si mesmos o que são pelas linguagens construídas sobre eles mesmos.
  • Certos elementos existencialistas aqui.
  • “O eu não é uma substância, tampouco uma atividade, mas uma construção flutuante, dependente da linguagem que ele utiliza. Se somos “poetas fortes”, criamos novas maneiras de falar ou modificar a linguagem de nossa sociedade. Freud, por exemplo, foi um poeta forte. Ele levou toda uma sociedade a falar sobre a realidade humana em termos como “o complexo de Édipo” ou “id, o ego e o superego”. Jung criou o “inconsciente coletivo”.” (p. 280)
  • Nosso eu é mera construção de linguagem
  • Nietzsche e a defesa de um eu enquanto Übermensch (sobre-homem, além-do-homem – também traduzido, por vezes, como “super-homem”)para além do convencionalismo do rebanho e de consolos metafísicos.
  • Passagem:
1.    “Noção teísta “pré-moderna” de que os seres humanos são dignificados por serem criados à imagem de Deus
2.    Noção “moderna” de que os seres humanos são o produto do modelo de DNA, o que em si mesmo é o resultado de uma evolução não-planejada baseada nas mutações aleatórias e a sobrevivência do mais apto
3.    Noção “pós-moderna” de um eu não substancial, construído pela linguagem que ele utiliza para descrever a si mesmo.” (p. 281)


6.    A ética, como o conhecimento, é uma construção linguística. O bem social é tudo aquilo que a sociedade assume ser.
  • Relativismo cultural + a verdade é o que decidimos que ela seja.
  • Claramente insatisfatória para quem esforça por seguir vida reta.
  • Richard Rorty.
  • Como então decidir-se? A partir de que critério?
  • O caso Foucault:
a.    Bem por excelência: a liberdade individual, com o objetivo de se obter o maior prazer possível.
b.    Temor de que as instâncias repressivas da sociedade roubassem ao indivíduo esse bem.
c.    Lei = repressão. Descriminalização = liberdade. (p. 283)
  • Valor da obra literário: interação obra/leitor. Seria, assim, meramente contingente.
  • Passagem:
1.    Ética teísta “pré-moderna” fundamentada no caráter de um Deus transcendente que é bom e que tem revelado essa bondade a nós
2.    Ética “moderna” baseada em uma noção de razão e experiência humana universal, e na capacidade humana de discernir o objetivo certo do errado
3.    Noção “pós-moderna” de que a moralidade é a multiplicidade de linguagens utilizadas para discernir o certo do errado.” (p. 283-4)

7.    O pós-modernismo é instável.
  • História do desenvolvimento do pós-modernismo, em traços gerais:
a.    Relevância teórica concedida a partir da década de 60 aos estudos literários.
b.    Marx e Freud influenciando o New Criticism
c.    Antropologia (Lévi-Strauss)
d.    Sociologia (Foucault, Lyotard)
e.    Feminismo (Kate Millet, Elaine Showalter)
f.     Linguística (Saussure)
g.    Derrida
h.    Stanley Fish
i.      Críticos literários tornam-se em celebridades intelectuais
j.      Proeminência dos estudos culturais em departamentos de língua inglesa
è Isso sublinha o caráter limitado da abordagem do autor – a cena apresenta matizes diferentes em outras culturas.
  • Importante crítica de John M. Ellis, Against deconstruction:
a.    Literatura enquanto literatura
b.    Liderou a Association of Literary Scholars (ALSC)
c.    “Essa organização ainda está ativa em sua ênfase no estudo tradicional de literatura como “literatura”, não como linguística, política ou um instrumento de mudança social.” (p. 286)
d.    Algo dessa inquietação também se manifesta num crítico literário não cristão – Harold Bloom (conferir O cânone ocidental).
  • Conferir ainda The death of the truth, de Dennis MacCallum. Útil coletânea de ensaios críticos ao pós-modernismo, escritos por especialistas em diversas áreas do conhecimento.
  • Muitas contradições internas.
  • Muitas reações críticas começam a discernir-se.
  • G.: O caso Allan Sokal

II. Visão panorâmica
- O realismo dos teístas cristãos e dos cientistas contrapõe-se ao antirealismo dos pós-modernistas:
  • “A maioria dos cientistas, naturalistas ou teístas cristãos, é constituída de críticos realistas. Eles acreditam que há um mundo externo a eles mesmos e que as descobertas da ciência descrevem o que o mundo é, com certa precisão. Os pós-modernistas são antirrealistas: eles negam que exista qualquer conexão conhecida ou conhecível entre o que nós pensamos e dizemos com o que na realidade existe.” (p. 288)
 - A linguagem excessivamente obscura de muitos autores pós-modernos:
  • Conferir o “caso Sokal”
  • Físico da CUNY
  • Enviou um artigo ao jornal Social Text, intitulado “Transgredindo os limites: rumo a uma hermenêutica transformativa da gravidade quântica”.
  • Tratava-se de um trote
  • Reação irada de alguns pós-modernistas

- Teologia dividiu-se entre adeptos e críticos do pós-modernismo.

III. Uma crítica
- Elementos aceitáveis no pós-modernismo:
1.    A crítica ao otimismo naturalista:
  • “Excessiva confiança tem sido depositada na razão humana e no método científico.” (p. 292)
  • Descartes substitui pela certeza de si a confiança em Deus. Os resultados se revelariam fatais.

2.    Relação pertinente entre linguagem e poder.
  • “Realmente contamos “histórias”, cremos em “doutrinas”, defendemos “filosofias”, porque elas nos propiciam poder ou o poder de nossa comunidade sobre os demais.” (p. 292)
  • “A aplicação pública de nossas definições sobre loucura, de fato, coloca a saúde mental das pessoas sob vigilância.” (p. 292)
  • Conferir O alienista, de Machado de Assis.
  • Problema: sua radicalidade: “Se todo o discurso, igualmente, for imbuído de preconceito, não há razão para usar uma em detrimento da outra. Isso constitui anarquia moral e intelectual.” (p. 293)
  • McGrath, citado na nota 64, da página 370: “O pós-modernismo, portanto, nega, na prática, o que afirma em teoria. Mesmo a questão casual: ‘O pós-modernismo é verdadeiro’, ingenuamente suscita questões criteriosas fundamentais que o pós-modernismo considera embaraçosamente difíceis de lidar.” (apud p. 370)

3.    Finitude e/da compreensão humana:
  • “a atenção para as condições sociais sob as quais compreendemos o mundo pode nos alertar quanto à limitação de nossa perspectiva como seres humanos finitos.” (p. 293)
  • A sociedade nos molda de maneiras as mais diversas, mas não nos determina. De outro modo, essa afirmação seria fruto da sociedade – não haveria assim condições de criticar precisamente essa sociedade.

- Elementos mais problemáticos:
1.    A rejeição de todas as metanarrativas é, em si mesma, uma metanarrativa.

2.    A ideia de que não temos acesso à realidade é autorreferencialmente incoerente.
  • “Expressa de forma nua e crua, essa ideia não pode explicar a si mesma, pois nos conta algo que, por sua própria natureza, não podemos saber.” (p. 294)

3.    A afirmação da indeterminação (por efeito da sua ambiguidade inescapável) da linguagem é problemática: “existe um paradoxo insolúvel em utilizar a linguagem para declarar que a linguagem não pode fazer declarações não ambíguas” (p. 295)

4.    A crítica pós-modernista à autonomia da razão pressupõe precisamente o que nega – a existência da razão:
  • Quem critica a proposição cartesiana não é o pensamento de Nietzsche? Não pressupõe um sujeito substancial? Ou é mero efeito dos diversos deslocamentos da linguagem? Como escapar a semelhante labirinto? Faz sequer sentido essa formulação – querer sair do labirinto?

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