quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

LIÇÃO 08 – O UNIVERSO SEPARADO: A NOVA ERA




Introdução

Os cristãos por vezes acham fácil pôr de lado o movimento da Nova Era, tachando-o de fútil que sobrou da contracultura dos anos sessenta. Mas semelhante atitude seria subavaliação perigosa. O âmago do movimento é uma religião panteísta, derivada de uma tendência religiosa extraordinariamente ampla que surge em quase toda época e cultura — no Ocidente, no Oriente e no Oriente Médio (islamismo). Em conseqüência do 11 de setembro, quando o mundo concentrou a atenção nas culturas islâmicas, os cristãos precisam estar preparados para identificar esta tendência religiosa mais ampla a fim de entender os atuais acontecimentos culturais e políticos.
Começando com o Ocidente, as idéias quase-panteístas de que estamos falando criaram raízes no século III com os gregos antigos. Este era um período em que as religiões asiáticas eram a moda na antiga cultura grega, muito semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos nos anos sessenta. O resultado foi uma escola de pensamento conhecida por neoplatonismo, que fundiu a filosofia de Platão com o panteísmo indiano. Neo quer dizer "novo", é claro, pelo que devemos reputá-lo como a forma do mundo antigo do movimento da Nova Era.
O principal porta-voz desta fusão do Oriente e do Ocidente foi Plotino. Ele ensinou que o mundo era uma "emanação" ou radiação do ser, proveniente de um Espírito ou Absoluto não-pessoal — algo como a luz é radiação do sol. O nível mais baixo desta radiação era a matéria; e por estar no ponto mais distante da Bondade Infinita, isso a tornou má. Em outras palavras, ter um corpo físico e material era considerado um tipo de pecado, algo negativo do qual devemos ser salvos. Como? Por práticas ascéticas que suprimem os desejos físicos. A meta era libertar o espírito da "casa-prisão" do corpo para ser reabsorvido pelo Infinito do qual veio.
Desde o princípio, o neoplatonismo não só era uma filosofia, mas também uma religião mística. Na realidade, foi feito em parte em posição ao cristianismo — como arma a ser brandida pelo paganismo antigo em sua batalha polêmica contra o cristianismo. No século IV, o imperador Juliano, o Apóstata, tentou desalojar o cristianismo como a religião oficial do Império Romano substituindo-o pelo neoplatonismo.

É surpreendente que muitos dos cristãos primitivos fossem simpatizantes do  neoplatonismo e muito influenciados por ele — notavelmente Clemente de Alexandria, Orígenes e Agostinho. Ao término do século V, esta filosofia semi-oriental foi sintetizada com o cristianismo por um escritor desconhecido chamado Dionísio, o Areopagita, que se fez passar por convertido do século I de Paulo. Depois conhecido por pseudo-Dionísio, ele apresentou uma forma cristianizada de neoplatonismo que ficou bastante influente na Idade Média. Seus escritos foram traduzidos para o latim por João Escoto Erigena em meados do século IX, e desde então o neoplatonismo se tornou o principal canal do pensamento grego. para as eras posteriores. Influenciou grandemente muitos movimentos místicos no Ocidente, incluindo os de Meister Eckhart e Jacob Boehme. Era popular entre os humanistas do Renascimento, como Ficino e Pico delia Mirândola. Até muitos dos primeiros cientistas modernos postularam uma filosofia neoplatônica da natureza, que inspirou grande parte do seu trabalho científico.

O que quero dizer com esta pequena pesquisa histórica é que muito antes de os Beatles se tornarem discípulos de Maharishi, várias formas de pensamento quase-panteísta já eram vertentes proeminentes na tradição cultural ocidental. O movimento da Nova Era se tratava meramente de uma expressão mais recente de uma tendência há muito existente de importar o panteísmo oriental para a cultura ocidental, que começou com Plotino e o neoplatonismo.

E quanto ao Oriente Médio? Muitos de nós não percebemos que, historicamente, os pensadores islâmicos se serviram de fontes gregas antigas de forma tão intensa quanto os pensadores ocidentais, de maneira que o neoplatonismo também se espalhou nas culturas árabes. Durante a Era Dourada do Islamismo nos séculos VII e VIII, os exércitos de Maomé devastara tudo desde a Península Árabe, anexando territórios da Espanha à Pérsia. Com esta ação, poderíamos dizer, eles também anexaram as obras de Platão, Aristóteles, Plotino e outros pensadores gregos. Por conseguinte, o mundo árabe tinha uma rica tradição de comentários sobre os filósofos gregos muito antes que a Europa. Nos cursos universitários de história, aprendemos que o Renascimento foi despertado pela recuperação dos antigos escritos clássicos. Mas raramente aprendemos que foram os filósofos muçulmanos que tinham preservado esses documentos e que os reintroduziram no ocidente.

Em conseqüência disso, o neoplatonismo se tornou forte influência no pensamento islâmico. Hoje, os principais filósofos muçulmanos adotam a filosofia perene, com sua fusão do panteísmo ocidental e oriental. Na realidade, os primeiros proponentes desta filosofia, que eram europeus, acabaram se convertendo ao islamismo! Para completar o círculo, a pessoa que lançou a filosofia perene (um francês chamado René Guenon) acreditava que havia um âmago comum que unia todos os três: o neoplatonismo, no Ocidente, o hinduísmo, no Oriente, e o islamismo, no Oriente Médio.

Desde o 11 de setembro, ouvimos repetidas vezes que o islamismo é apenas outra fé abraâmica, algo não muito diferente do cristianismo. Assim, pode ser surpreendente saber que o Deus do islamismo é mais parecido com o Absoluto não-pessoal do neoplatonismo e hinduísmo do que com o Deus da Bíblia. Porém é verdade. E a razão central é que o islamismo rejeita a Trindade. Sem este conceito, não há como advogar a concepção de um Deus inteiramente pessoal. Por que não? Porque muitos atributos da personalidade só podem ser expressos numa relação — coisas como amor, comunicação, empatia e abnegação.

A doutrina cristã tradicional sustenta a concepção de um Deus pessoal, porque ensina que desde a eternidade estes atributos interpessoais foram expressos entre as três Pessoas da Trindade. Um Deus genuinamente pessoal requer "Pessoas" distintas, porque só isso torna possível a existência de amor e comunicação dentro da deidade em si. O islamismo nega a Trindade, fato que significa que não há meio de incluir estes atributos relacionais na concepção que fazem de Deus. (Pelo menos, não até que Ele criasse {o mundo, mas neste caso Ele seria dependente da criação.) É por isso que é correto dizer, como afirmam certos filósofos islâmicos, que o islamismo é parecido com o  neoplatonismo e o hinduísmo.

Esta concepção não-pessoal de Deus também explica por que os muçulmanos expressam sua fé em rituais quase mecânicos: os fiéis muçulmanos recitam o Alcorão repetidamente, em uníssono, palavra por palavra, no original árabe. Eles não oram a Deus como um ser pessoal, derraman-do-lhe o coração como fez Davi, ou debatendo com Ele como fez Jó. Como consta num site muçulmano, "entender [o Alcorão] é inferior" à recitação e ao ritual. Isso só faz sentido se Deus não for um ser pessoal. Como explica o sociólogo Rodney Stark, as religiões com deuses não-pessoais tendem a realçar a precisão no desempenho de rituais e fórmulas sagradas; em contrapartida, as religiões com um Deus altamente pessoal se preocupam menos com tais coisas, pois um Ser pessoal responderá a uma abordagem pessoal feita por súplica improvisada e oração espontânea.

Em nossos esforços em defender o cristianismo, é possível sermos vencidos pelo  norme número de religiões e filosofias apregoadas no cenário público das idéias atualmente. A tarefa fica mais fácil quando percebemos que todas podem ser agrupadas em duas categorias fundamentais: a característica mais crucial se dá entre sistemas que começam com um Deus pessoal e sistemas que começam com uma força ou essência não pessoal.


Tipicamente, usamos o termo não-pessoal para nos referir aos "ismos" seculares, como o naturalismo e o materialismo. Mas devemos ter em mente que a mesma categoria também abrange as crenças religiosas — aquelas que começam com uma essência espiritual não-pessoal. E embora o naturalismo seja a moda entre as pessoas bem instruídas, entre as pessoas comuns talvez haja um espiritualismo genérico e vago muito mais difundido.

O misticismo oriental se apresenta como único caminho para as pessoas no Ocidente que foram apanhadas na encruzilhada tanto do niilismo quanto do naturalismo. Mas o panteísmo oriental é estranho , mesmo sendo suavizado. Desta forma, o ocidente desenvolveu uma nova cosmovisão a da Nova Era ou novos estados de consciência, ou seja, a Nova Era.
No entanto, a cosmovisão da Nova Era é uma cosmovisão em sua adolescência, ela ainda está incompleta, pois ainda possui muitas contradições internas, que serão percebidas no decorrer da aula.

Proposição principal: os seres humanos evoluem pra uma consciência elevada; as sociedades e culturas evoluem para uma maior compatibilidade, há uma nova era chegando.

Para eles algumas pessoas já alcançaram essa consciência evoluída: Jesus Cristo, Buda, Zoroastro.
Literatura de divulgação: Conspiração aguariana (Marilyn Ferguson), O ponto de mutação (Fritjof Capra), Uma Breve História de Todas as Coisas  (Ken Wilber).


Expressão da cosmovisão no Cinema: Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Série Guerra nas Estrelas (força = Deus impessoal,  gurus, mestres.

Relacionamento com outras cosmovisões: A Cosmovisão da Nova Era é extremamente sincrética, ela possui elementos do panteísmo oritental, do animismo, do naturalismo. Naturalismo: nega a existência de um Deus transcendente, não há nenhum Senhor do Universo. Há apenas o universo fechado.  Também toma emprestado do naturalismo a esperança de uma evolução  para um novo ser, a evolução se encarregará da transformação.

Panteísmo oriental:  pega o conceito de que o indivíduo possui grande valor. Também a noção de integração com o Todo, se no panteísmo oriental a alma individual é apenas uma emanação da alma cósmica, na Nova Era perceber a unidade da realidade é tudo o que representa a vida. Como no Oriente, a Nova Consciência rejeita a razão como um guia para a realidade,  o mundo é irracional e existem novos estados de apreensão da realidade, como, por exemplo , o uso de drogas.

Animismo:  afirmam que o universo é habitado por incontáveis seres espirituais, dispostos de forma hierárquica, e no topo esta o  Deus-Céu (lembrando o deu deísta). O universo possui uma dimensão espiritual, mas não um Deus soberano. Esses seres espirituais variam de temperamento, temos desde  os viciados aos cômicos. Esses deuses devem ser apaziguados por meio de cerimônias, presentes e encantamentos.  Quem faz isso? Bruxos, feiticeiros, que são treinados nessa tarefa, e assim, aprendem a controlar o mundo dos espíritos. Afirmam ainda que há uma unidade para toda a vida, pois os animais podem ser os ancestrais dos homens, as pessoas podem se transformar em animais. A nova era  possui vários desse elementos do animismo.

Principais proposições da Nova Era:

1 – Qual que seja a natureza do ser o eu é a mola mestra – a realidade primeira.  A raça humana está as portas de uma mudança radical , e alguns já seres mais evoluídos já podem ser conhecidos.
O Eu (alma, essência individual) é a realidade primeira. O eu é onde reside o problema. É uma idéia, um espírito, um campo psicomagnético, ou a unidade que une a diversidade da energia cósmica. O eu é, na verdade. O universo externo existe não para ser manipulado dos exterior por um Deus transcendente, mas para ser manipulado pelo eu interior.

O eu está no controle de toda a realidade.

“Se eu criei a minha própria realidade, então – em algum nível e dimensão que não entendo – criei tudo o que vi, ouvi, toquei, cheirei, provei, tudo o que amei, odiei, honrei, detestei, tudo o que respondi para alguém , ou que responderam para mim. Então, criei tudo o que conheci. Fui, portanto, responsável por tudo o que houve em minha realidade. Se isso foi verdadeiro, então eu fui tudo, como os antigos textos ensinavam. Fui meu próprio universo. Isso também não significou que criei Deu e criei a vida e a morte? Aquilo que aconteceu porque eu era tudo o que havia? Assumir a responsabilidade pelo poder de alguém seria a expressão final do que chamamos de Deus-força. Seria isso o que significava a declaração Eu Sou que Sou!”
Shirley MacLaine
2 – O cosmo, unificado no eu, manifestas-se em mais duas dimensões: universo visível (acessível pela consciência comum), universo invisível, acessível através de estados alterados de consciência.

O eu está rodeado pelo universo visível ao qual ele tem acesso direto através dos cinco sentidos, mas também tem acesso ao universo invisível pelas portas da percepção , como drogas, meditação, transe, acupuntura, dança ritualizada, músicas, etc.
O eu reordena o universo, por exemplo, a cura física pode ser efetuada e os inimigos podem ser mortos, amaldiçoados e atingidos por sofrimentos físicos ou mentais.

3 – O ápice da experiência da Nova Era é a consciência cósmica, na qual as categorias comuns de espaço, tempo e moralidade tendem a desaparecer. 

Para a Nova Era perceber é ser; qualquer coisa que o eu vê, percebe, concebe, imagina ou acredita, existe. Existe porque o eu está no comando de tudo o que existe.  A aparência é a realidade, não existe distinção. Não há ilusão. Essa percepção tem duas formas, uma para o universo visível, outra para o universo invisível.
O alvo final é reconhecer que você é Deus, que você é o universo.
Os adeptos da Nova Era fazem incursões ao universo invisível e para que essa viagens sejam  bem sucedidas eles devem ter a presença de um guia durante as primeiras tentativas de experiência da consciência cósmica.
O eu é o verdadeiro Deus, mas o eu nem sempre percebe isso, e a evolução se dá com essa percepção.

4 – A morte física não é o fim do ser; o medo da morte é removido.

Não somos apenas nossos corpos físicos, os seres humanos são uma unidade além do corpo. A morte é apenas uma transição para uma outra forma de vida é, contudo, a noção que a consciência é mais do que a manifestação física de alguém. Se o indivíduo é o todo ou o criador de tudo, e se isso é “conhecido” intuitivamente, então a pessoa com certeza não tem nenhuma necessidade de temer a morte.
Os adeptos da Nova Era constantemente relatam experiência vividas fora do corpo, onde eles entram em contato com a quinta dimensão, existem, na verdade, quatro (três de espaço: altura, largura e volume; e uma de tempo). Estima-se que existam pelo menos cinco vezes mais matéria escura do que matéria "normal", aquela com que nossos corpos, as estrelas e tudo o mais é feito. Mas onde entra a tal quinta dimensão nessa história? Para alguns cientistas, ela é um atalho de espessura milimétrica em dobras no espaço por onde escapa a gravidade de galáxias muito distantes, tão longínquas que não podem ser vistas da Terra. Elas é que seriam, na verdade, a misteriosa matéria escura.

5 – A moralidade na Nova Era.

Muitos assumem que a sobrevivência da raça humana é o valor primordial e , insistem em que, a menos que a humanidade evolua, a  menos que as pessoa se tornem radicalmente transformadas, a humanidade desaparecerá. Mas poucos discutem questões éticas, e alguns admitem que na Nova Era as categorias de bem e mal desaparecem, assim como as categorias de espaço, de ilusão e de realidade. A sobrevivência  humana significa submissão uma nova elite, para sobreviver as pessoas vão ter que abandonar as noções tradicionais de liberdade e dignidade.
Se o eu é rei, porque se preocupar com questões éticas? O rei não faz nada errado, se o eu está satisfeito, então isso é suficiente. O que ´é real? O que o eu decide aceitar como real, ele se isolam do diálogo pois criam o seu próprio universo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

JORNADA PARA O ORIENTE: MONISMO PANTEÍSTA ORIENTAL.



No curso do pensamento ocidental, finalmente chegamos a um impasse.
Naturalismo – niilismo – existencialismo ateísta.
O teísmo é a melhor alternativa, mas para um naturalista ele não serve. Além do mais ele é a cosmovisão da moderna cristandade, que tem sérios problemas pois em grande parte é hipócrita, fala de compaixão, mas não tem compaixão, sendo, portanto, um pobre testemunho para a vitalidade do teísmo.
Portanto, para alguns, o Oriente apresenta um caminho melhor.
Como essa busca pela cosmovisão oriental  começou?
Pela rejeição dos valores da classe média através da geração jovem da década de 60.
Essa geração se decepcionou com seus ídolos: a tecnologia (isto é a aplicação prática da razão) que tornou possível o bem estar social, mas também a destruição em massa de vidas (I, II Guerra Mundial, Guerra do Vietnã), mas que também não conseguiu erradicar com a pobreza e as epidemias. Sendo assim, houve uma expressão de abandono da razão, e a economia que levou à opressão de uma maioria por uma minoria, essa geração rejeitou as pressuposições a partir da qual esse sistema se desenvolveu; a religião ocidental mostrou-se generosa em apoiar aqueles que estavam no controle da tecnologia e da economia.
Aconteceu, então, uma fuga para a religiosidade oriental. O que ela oferecia?
Antiracionalismo, quietismo, sincretismo, falta de tecnologia, estilo de vida simples, estrutura religiosa radicalmente diferente, tradição bem mais antiga, e uma cosmovisão diametralmente oposta.
Não é tão fácil categorizar a cosmovisão oriental, pois ela é mais rica que a cosmovisão ocidental. Portanto, vamos falar da cosmovisão mais popular: o panteísmo monista.
As religiões que melhor vão expressar essa cosmovisão são o hinduísmo e o budismo.

Principais pontos da cosmovisão Panteista:

1 – Atma é Brama; isto é, alma (atma) individual do ser humano, é a Brama (Alma do Cosmos).
Atma (essencial da alma de cada pessoa) é Brama (a essência, a Alma do universo).
O que é um ser humano? De forma bem resumida o ser humano é Deus.
Deus é o um, o infinito pessoal, a realidade final. Deus é o cosmo. Deus é tudo o que existe; nada existe que não seja Deus. Se alguma coisa que não seja Deus vem à existência, então essa coisa é maya (ilusão) e não existe verdadeiramente.
No Ocidente não estamos acostumados a esse tipo de sistema. Diferenciar é pensar. As leis do pensamento exigem diferenciação: A é A, mas A não é – A. Conhecer a realidade é diferenciar uma da outra, classifica-la, cataloga-la, reconhecer suas relações sutis aos outros objetos do cosmos. No Oriente conhecer a realidade é passar além da diferenciação, perceber que todos são um.
Portanto, para eles existe apenas uma substância, e que todos, em última instância, a diversidade é irreal.

2 – Algumas coisas são mais únicas do que outras.
 A realidade é uma hierarquia de aparências, algumas aparências ou ilusões, estão mais próximas do que outras de ser um com o Um.
Hierarquia:
A matéria pura e simples é menos real, depois a vida vegetal, a vida animal, e finalmente a humanidade. Mas a humanidade também é hierarquia; algumas pessoas estão mais próxima da unidade do que outras, são os metres, os iluminados, os gurus são os seres humanos mais próximos do ser puro.

3 – Muitos (se não todos) os caminhos levam ao Um.
Conquistar a unidade com o Um não é uma questão de descobrir o único caminho verdadeiro. Há muitos caminhos. Cada pessoa pode ir por um caminho. O problema não é estar com outro no mesmo caminho, mas trilhar na direção certa nosso próprio caminho. Isto é, devemos ser orientados corretamente. No final todas as religiões conduzem ao mesmo fim.
A orientação não é tanto uma questão de doutrina, mas de técnica. Sobre isso o Oriente é inflexível.  Alguns gurus enfatizam o cântico de mantras – palavras sem significado, outros recomendam a meditação sobre uma mandala (símbolo da totalidade da realidade), outros exigem repetições intermináveis de orações ou atos de reverência.
Essas técnicas exigem quietude e solidão. São métodos de meditanão intelectualmente desprovidos de conteúdo. Eles levam a pessoa a ter contato com a realidade, a fim de se tornar um com a harmonia do cosmo e definitivamente tornar-se o um sólido.
Um dos caminhos mais comuns envolve cantarolar a palavra Om , ou uma frase contendo essa palavra (a palavra é intraduzível, porque não possui significado).

4 – Perceber a unidade de alguém com o cosmo é ultrapassar a personalidade.
Os seres humanos na sua essência são impessoais. Ser á não fazer. A meditação é o principal caminho para o ser, meditação – qualquer que seja o estilo – é uma descrição da quietude. Um símbolo conhecido é o guru hindu sentado de pernas cruzadas no pico de uma rocha numa montanha do Himalaia contemplando.

 5 – Não há amor incondicional, o amor,o bem é autogratificante.
Carma é a noação de que o presente destino de alguém , seja ele bom ou ruim, é resultado de ações passadas, especialmente uma existência anterior. Portanto, carma está relacionado à noção de reencarnação que segue o  princípio geral de que nada é real (isto é, nenhuma alma) tem a mínima chance de existir. Pode levar séculos e séculos até que encontre seu caminho de volta á Unidade, mas nenhuma alma nunca existirá. Toda alma é eterna, pois toda alam é essencialmente Alma .
Em seu caminho de volta à Unidade, contudo, ela esquadrinha qualquer que seja a série de formas ilusórias que as suas ações passadas exigem.  Carma é a versão oriental do o que se planta, se colhe.Se você “pecou”, não há um Deus para cancelar o seu débito e perdoá-lo. A confissão não é uma prática, nem está ao alcance.
O fundamento para fazer o bem, não é para que o bem seja estabelecido e que você beneficie outra pessoa. O carma exige que toda alma sofra por seus pecados passados, então não há valor em aliviar o sofrimento. A alma ajudada terá que sofre mais tarde. Não há amor ágape. Alguém pratica boas ações a fim de alcançar a unidade com o Um. Fazer o bem é uma maneira de auto-ajuda na vida.
Tudo é ilusão, a unica realidade real é a realidade final. E ela está além da diferenciação, além do bem e do mal. A distinção entre o bem e o mal desaparece. Tudo é bom, mas o amor ´é a mais importante coisa do mundo.

6 – A morte é o fim do indivíduo, da existência pessoal.
A morte significa o fim de uma pessoa, mas não da Alma que é indestrutível. O indivíduo morre, mas a alma sobrevive porque ela á impessoal, quando ela é reencarnada torna-se uma outra pessoa. Há uma imortalidade da alma, mas não da pessoa.

Inlfuências do Panteísmo na cultura ocidental:

Meditação.
Yoga.
Promessas de paz, sentido e significado.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ALÉM DO NIILISMO: EXISTENCIALISMO.


EXISTENCIALISMO

- Palavra central:

  • Liberdade

è Conferir observação de John Stott, segundo o qual esta deveria ser nossa palavra de ordem na evangelização.

  • E também significação.
  • Talvez não seja exagerado dizer que o existencialismo é uma filosofia que se rebela contra a indiferença com o homem no mundo moderno.
- Retomada do sentido das nossas aulas:

  • Defesa da fé – o cristianismo não é anti-intelectualismo. Tampouco é uma religião alienada e desinteressa da reflexão e da cultura – embora algumas expressões do cristianismo o tenham sido.
  • Mas se ganharmos debates, sem ganharmos os corações, de nada adiantará. É necessário demonstrar que há amor, liberdade e vida abundante em nosso cotidiano.
  • Intolerância e arrogância com feições algo diabólicas.
  • Queremos alcançar os corações e mentes. O Evangelho exige isso de nós.
- Muitas coisas roubam-nos a liberdade:

  • Sistemas políticas
  • Ortodoxia morta
  • Consumismo

è Não é difícil aqui conceder razão aos existencialistas.

Além do niilismo: existencialismo

- Epígrafe:

  • “Tudo o que existe nasce sem razão, prolonga sua existência, apesar da fragilidade, e morre por acaso. Reclinei-me e fechei meus olhos. As imagens, pressentidas, imediatamente saltaram e encheram meus olhos fechados com existências: existência é a plenitude que o homem jamais pode abandonar... Eu sabia que isso era o Mundo, o Mundo nu subitamente, revelando-se a si mesmo, e eu, calçado com raiva diante desse ser rude e absurdo.” (Sartre, Náusea)
- O existencialismo leva a sério o niilismo:

  • É uma resposta a ele. Busca transcendê-lo.
- Duas formas:

  • Existencialismo ateu – parasita do naturalismo
  • Existencialismo teísta – parasita do teísmo
- Alguns elementos presentes em Nietzsche:

  • O “super-homem”, além-do-homem (Übermensch)
  • Elogio da solidão e da aventura
  • Há muitos tópicos instigantes em sua filosofia
  • Embora a questão da liberdade nele seja muito complexa
  • Assim não se trata de um existencialista strictu sensu, mas de alguém que delineia temas que serão acolhidos pelos existencialistas
 - Um evento histórico importante para a compreensão desse movimento: a Primeira Guerra Mundial.

  • Após isso, nazismo – que se robustece na década de 30 –, quebra da bolsa etc.
  • Gera intensa frustração e desencanto cultural
- Em nossa época: vazio deixado pelo desaparecimento das utopias e da ditadura do consumo.

- Pinturas:

  • “O grito”, de Munch
  • “A chave dos campos”, de Magritte.
I. Existencialismo ateísta básico

- Aceita quase todas as proposições do naturalismo:

  • “A matéria existe para sempre
  • Deus não existe
  • O cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito, em um sistema fechado
  • A história é uma corrente linear de eventos conectados por causa e efeito, mas sem um propósito abrangente
  • A ética é relacionada apenas a seres humanos” (p. 144)
- Exceções:

  • Natureza humana
  • Modo como nos relacionamos com o cosmos (p. 144)

è “como podemos ser significantes num mundo insignificante” (p. 144) 

  1. O universo é composto apenas de matéria, porém para o ser humano a realidade se apresenta em duas formas – subjetiva e objetiva.

  • O mundo preexiste aos homens
  • “O mundo simplesmente existe” (p. 144)
  • Surgimento dos seres humanos:

a.    Distinguem ele e ela de isto

b.    “determinados a determinar o seu próprio destino, a questionar, a ponderar a maravilhar-se, a buscar sentido, a dotar o mundo exterior com um valor especial, a criar deuses.” (p. 144)

  • O mundo objetivo:

a.    Coisas materiais

b.    Lei inexorável de causa e efeito

c.    Ciência e lógica são aqui úteis

  • Mundo subjetivo:

a.    Mente, consciência

b.    Liberdade

c.    Ciência e lógica “não penetram esse domínio” (p. 145)

  • O naturalismo defendia a unidade dos dois mundos.
  • O existencialismo opera a disjunção dos dois mundos.
  • Podemos ter significado no mundo.

  1. Para os seres humanos a existência precede a essência; as pessoas fazem de si mesmas o que são.

  • Sartre: “Antes de tudo, o homem existe, cresce, surge em cena e, somente depois, é que se define.” (p. 147)
  • Mundo objetivo: tudo traz sua essência: sal é sal, mar é mar etc.
  • Mundo subjetivo:

a.    Os homens não são homens antes de se fazerem assim.

b.    Rosa: “Criatura gente é não e questão”

  • Exemplo do soldado que tem de tornar-se corajoso.

  1. Cada pessoa é totalmente livre com respeito à sua natureza e ao destino.

  • Temos soberania em nosso universo subjetivo.
  • Conferir Sartre, O existencialismo é um humanismo.
  • Conferir Sloterdijk sobre Sarte.

  1. O altamente elaborado e firmemente organizado mundo objetivo se coloca contra os seres humanos e parece absurdo.

  • O mundo objetivo se nos afigura absurdo.
  • “somos todos estrangeiros em uma terra estranha, e quanto mais cedo aprendermos a aceitar esse fato, tanto mais cedo transcendemos nossa alienação e superamos o desespero.” (p. 149)
  • O desafio da morte: o absurdo final. 

  1. No pleno reconhecimento e contra o absurdo do mundo objetivo, a pessoa autêntica deve revoltar-se e criar valores.

  • Enquanto seres conscientes, criamos valores.
  • “A pessoa que vive uma autêntica existência é aquela que se mantém cônscia da condição absurda do cosmo, mas que se rebela contra essa condição, criando significado.” (p. 150)
  • Dostoievski: “O significado da vida de um homem consiste em provar todo o tempo a si mesmo que ele é um homem, e não uma tecla de piano” (p. 151)
  • O mal é a passividade, a ausência de escolha. Por conseguinte, é o bem a escolha.
  • Semelhante diretiva é satisfatória? Que sentido teria o bem em semelhante argumentação?
  • Como julgar estes atos?

a.    Massacre de judeus pelos nazistas

b.    Massacre de palestinos por judeus

c.    Atentado terrorista aos EUA em 11/9/2001

d.    A destruição do Iraque pelos EUA

  • Como distinguir o moral do imoral? Como fazer sentido ao sentimento inato de que o outro tem direitos assim como eu? 

Um santo sem Deus

- Dostoievski, Irmãos Karamazovi:

  • “Se Deus está morto, tudo é permitido”
  • Não há santos, nem pecadores.
  • Não há moral, nem imoral.
  • Não há base para a ética.
- Albert Camus, A peste:

  • 1947.
  • Seu espaço é a cidade de Oran, na África do Norte.
  • Algumas personagens, entre as quais o Dr. Rieux e Jean Tarrou, buscam encetar ações boas em meio a um mundo absurdo.
  • Problema: a partir de que bases podemos julgar suas ações preferíveis às das outras personagens? 

Consegue o existencialismo transcender o niilismo?

- Divórcio realidade objetiva e subjetiva.

 - A questão da morte, à qual os existencialistas não concederam solução adequada.

  “O existencialismo ateísta vai além do niilismo apenas para alcançar o solipcismo, o eu solitário que existe por 87 anos (se não contrair a peste mais cedo), então cessa de existir. Muitos diriam que isso não é, de forma alguma, ir além do niilismo; significa apenas vestir uma máscara chamada valor, uma máscara despida pela morte.” (p. 160)

 II. Existencialismo teísta básico (20’)

- A resposta de Kierkegaard a uma ortodoxia fria e vazia – a conduzir ao niilismo teológico.

 - “Deus havia sido reduzido a Jesus que, por sua vez, foi reduzido a um homem puro e simples.” (p. 161)

 - Karl Barth, Emil Brunner e Reinhold Niebuhr:

  • Neo-ortodoxia.
- Em parte considerável das discussões teológicas, mormente em seus pontos mais polêmicos, falta amor, e sobra presunção e intolerância. Verdadeira obsessão (algo demoníaca) por heresia. O espírito da caça às bruxas ainda nos assombra. Não estranha que, a contrapelo do seu zelo por salva a pureza das doutrinas eclesiásticas, alguns cristãos assustem as pessoas, e findem por expulsá-las precisamente do Evangelho a que deveriam acolhê-las. Devemos ser exemplares na doutrina e também na acolhida amorosa.

 - Do teísmo, o existencialismo teísta aceita estas premissas:

  • “Deus é infinito e pessoal (trino).
  • É transcendente, imanente, onisciente, soberano e bom.
  • Deus criou o cosmo ex nihilo para operar com uma uniformidade de causa e efeito em um sistema aberto.
  • Os seres humanos são criados à imagem de Deus, assim podem conhecer algo de Deus e do cosmo e podem agir com significado.
  • Deus pode e se comunica conosco.
  • Nós fomos criados bons, mas agora somos decaídos e precisamos ser restaurados por Deus por meio de Cristo.
  • Para os seres humanos, a morte é ou o portão para a vida com Deus e seu povo ou para sempre separada de Deus.
  • A ética é transcendente e baseada no caráter de Deus.” (p. 161-2)
- Ênfase na natureza humana e em nossa relação com o cosmo e com Deus:

  1. Os seres humanos são seres pessoais que, quando chegam à plena consciência, descobrem-se em um universo hostil; se Deus existe ou não é uma questão difícil a ser resolvida, não pela razão, mas por meio da fé.
  • O existencialismo teísta não começa com Deus, mas com a escolha humana.
  • O caráter ambivalente do universo: ordem e, por vezes, ausência de sentido.
  • Amor e bondade, por vezes; e, não raro, violência.
  • Salto da fé – crer em Deus apesar do absurdo.
  • “cada pessoa, na solidão de sua própria subjetividade, envolta muito mais em trevas que em luz, deve escolher. E essa escolha deve ser um ato radical de fé.” (p. 164)

  1. O pessoal é que possui valor.

  • “os existencialistas teístas enfatizam o pessoal como valor primário.” (p. 166)
  • Conferir o quadro que se segue – contraste entre ortodoxia morta e existencialismo cristão:

 
Despersonalizado
Personalizado
Pecado
Quebrar uma regra
Trair um relacionamento
Arrependimento
Admitir a culpa
Tristeza quanto à traição pessoal
Perdão
Suspender a penalidade
Renovar a amizade
Crer em um conjto de proposições
Comprometer-se c. uma pessoa
Vida cristã
Obedecer às regras
Agradar ao Senhor, uma pessoa

 - Avaliação:

  • Possível reação dos teístas:

1.    A segunda coluna demanda a existência da primeira.

2.    O teísmo sempre incluiu a segunda coluna em seu sistema.

  • Problemas:

a.    Nem sempre o teísmo é bem compreendido.

b.    As igrejas não raro se concentram na primeira coluna.

  • “Isso levou o existencialismo a resgatar muitos teístas com respeito ao pleno reconhecimento da riqueza de seu próprio sistema.” (p. 167)
  • Necessidade de autocrítica – sob pena de recairmos numa presunção diabólica. Sentirmo-nos os campeões da ortodoxia.

  1. O conhecimento é subjetividade; a verdade total é com frequência, paradoxal.

  • A semelhante processo, pelos extremos a que conduz (pelagianismo ou hipercalvinismo), pode-se resistir quando assumimos que se somos criados à imagem de Deus, alguma parcela de verdade nos é dado conhecer.

  1. A história como registro de eventos é incerta, sem importância, mas a história como modelo, tipo ou mito a ser feito presente e vivenciado é de suprema importância.
  • A alta crítica do século XIX: desconfiança quanto à existência dos milagre – de que decorre afirmar-se a perda de credibilidade das Escrituras.
  • Em vez de então abandonarem a fé cristã, passam a tomar a narrativa bíblica enquanto instância que proveria modelos morais de comportamento.
  • “Os fatos registrados no texto bíblico não eram importantes, mas os seus exemplos de um bom viver e suas imortais verdades morais é que o eram.” (p. 172)
  • “Dizia-se sobre a queda que ela não teria ocorrido lá atrás, no tempo e espaço, mas cada pessoa reproduz essa hipótese em sua própria vida.” (p. 174)
  • Boa crítica de Lloyd Geering, em Resurrection: a symbol of hope: “Como pode um não evento [a ressurreição que não aconteceu] ser considerado um símbolo de esperança ou, na verdade, de qualquer outra coisa? Se algo aconteceu, tentamos ver o que significa. Se não aconteceu, a questão não pode ser suscitada. Somos levados de volta para a necessidade de um evento Pascal.” (p. 175)
  • “Deve haver um evento para se haver propósito.” (p. 175)
è Não necessariamente. Os mitos nutrem-se dessa relação não obrigatoriamente simétrica com o plano da faticidade.


- Não tenho dificuldade em acolher diversos elementos do existencialismo. Mas é necessário esclarecer-se os limites dessa cosmovisão, bem como suas consequências nada animadoras.