quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

LIÇÃO 08 – O UNIVERSO SEPARADO: A NOVA ERA




Introdução

Os cristãos por vezes acham fácil pôr de lado o movimento da Nova Era, tachando-o de fútil que sobrou da contracultura dos anos sessenta. Mas semelhante atitude seria subavaliação perigosa. O âmago do movimento é uma religião panteísta, derivada de uma tendência religiosa extraordinariamente ampla que surge em quase toda época e cultura — no Ocidente, no Oriente e no Oriente Médio (islamismo). Em conseqüência do 11 de setembro, quando o mundo concentrou a atenção nas culturas islâmicas, os cristãos precisam estar preparados para identificar esta tendência religiosa mais ampla a fim de entender os atuais acontecimentos culturais e políticos.
Começando com o Ocidente, as idéias quase-panteístas de que estamos falando criaram raízes no século III com os gregos antigos. Este era um período em que as religiões asiáticas eram a moda na antiga cultura grega, muito semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos nos anos sessenta. O resultado foi uma escola de pensamento conhecida por neoplatonismo, que fundiu a filosofia de Platão com o panteísmo indiano. Neo quer dizer "novo", é claro, pelo que devemos reputá-lo como a forma do mundo antigo do movimento da Nova Era.
O principal porta-voz desta fusão do Oriente e do Ocidente foi Plotino. Ele ensinou que o mundo era uma "emanação" ou radiação do ser, proveniente de um Espírito ou Absoluto não-pessoal — algo como a luz é radiação do sol. O nível mais baixo desta radiação era a matéria; e por estar no ponto mais distante da Bondade Infinita, isso a tornou má. Em outras palavras, ter um corpo físico e material era considerado um tipo de pecado, algo negativo do qual devemos ser salvos. Como? Por práticas ascéticas que suprimem os desejos físicos. A meta era libertar o espírito da "casa-prisão" do corpo para ser reabsorvido pelo Infinito do qual veio.
Desde o princípio, o neoplatonismo não só era uma filosofia, mas também uma religião mística. Na realidade, foi feito em parte em posição ao cristianismo — como arma a ser brandida pelo paganismo antigo em sua batalha polêmica contra o cristianismo. No século IV, o imperador Juliano, o Apóstata, tentou desalojar o cristianismo como a religião oficial do Império Romano substituindo-o pelo neoplatonismo.

É surpreendente que muitos dos cristãos primitivos fossem simpatizantes do  neoplatonismo e muito influenciados por ele — notavelmente Clemente de Alexandria, Orígenes e Agostinho. Ao término do século V, esta filosofia semi-oriental foi sintetizada com o cristianismo por um escritor desconhecido chamado Dionísio, o Areopagita, que se fez passar por convertido do século I de Paulo. Depois conhecido por pseudo-Dionísio, ele apresentou uma forma cristianizada de neoplatonismo que ficou bastante influente na Idade Média. Seus escritos foram traduzidos para o latim por João Escoto Erigena em meados do século IX, e desde então o neoplatonismo se tornou o principal canal do pensamento grego. para as eras posteriores. Influenciou grandemente muitos movimentos místicos no Ocidente, incluindo os de Meister Eckhart e Jacob Boehme. Era popular entre os humanistas do Renascimento, como Ficino e Pico delia Mirândola. Até muitos dos primeiros cientistas modernos postularam uma filosofia neoplatônica da natureza, que inspirou grande parte do seu trabalho científico.

O que quero dizer com esta pequena pesquisa histórica é que muito antes de os Beatles se tornarem discípulos de Maharishi, várias formas de pensamento quase-panteísta já eram vertentes proeminentes na tradição cultural ocidental. O movimento da Nova Era se tratava meramente de uma expressão mais recente de uma tendência há muito existente de importar o panteísmo oriental para a cultura ocidental, que começou com Plotino e o neoplatonismo.

E quanto ao Oriente Médio? Muitos de nós não percebemos que, historicamente, os pensadores islâmicos se serviram de fontes gregas antigas de forma tão intensa quanto os pensadores ocidentais, de maneira que o neoplatonismo também se espalhou nas culturas árabes. Durante a Era Dourada do Islamismo nos séculos VII e VIII, os exércitos de Maomé devastara tudo desde a Península Árabe, anexando territórios da Espanha à Pérsia. Com esta ação, poderíamos dizer, eles também anexaram as obras de Platão, Aristóteles, Plotino e outros pensadores gregos. Por conseguinte, o mundo árabe tinha uma rica tradição de comentários sobre os filósofos gregos muito antes que a Europa. Nos cursos universitários de história, aprendemos que o Renascimento foi despertado pela recuperação dos antigos escritos clássicos. Mas raramente aprendemos que foram os filósofos muçulmanos que tinham preservado esses documentos e que os reintroduziram no ocidente.

Em conseqüência disso, o neoplatonismo se tornou forte influência no pensamento islâmico. Hoje, os principais filósofos muçulmanos adotam a filosofia perene, com sua fusão do panteísmo ocidental e oriental. Na realidade, os primeiros proponentes desta filosofia, que eram europeus, acabaram se convertendo ao islamismo! Para completar o círculo, a pessoa que lançou a filosofia perene (um francês chamado René Guenon) acreditava que havia um âmago comum que unia todos os três: o neoplatonismo, no Ocidente, o hinduísmo, no Oriente, e o islamismo, no Oriente Médio.

Desde o 11 de setembro, ouvimos repetidas vezes que o islamismo é apenas outra fé abraâmica, algo não muito diferente do cristianismo. Assim, pode ser surpreendente saber que o Deus do islamismo é mais parecido com o Absoluto não-pessoal do neoplatonismo e hinduísmo do que com o Deus da Bíblia. Porém é verdade. E a razão central é que o islamismo rejeita a Trindade. Sem este conceito, não há como advogar a concepção de um Deus inteiramente pessoal. Por que não? Porque muitos atributos da personalidade só podem ser expressos numa relação — coisas como amor, comunicação, empatia e abnegação.

A doutrina cristã tradicional sustenta a concepção de um Deus pessoal, porque ensina que desde a eternidade estes atributos interpessoais foram expressos entre as três Pessoas da Trindade. Um Deus genuinamente pessoal requer "Pessoas" distintas, porque só isso torna possível a existência de amor e comunicação dentro da deidade em si. O islamismo nega a Trindade, fato que significa que não há meio de incluir estes atributos relacionais na concepção que fazem de Deus. (Pelo menos, não até que Ele criasse {o mundo, mas neste caso Ele seria dependente da criação.) É por isso que é correto dizer, como afirmam certos filósofos islâmicos, que o islamismo é parecido com o  neoplatonismo e o hinduísmo.

Esta concepção não-pessoal de Deus também explica por que os muçulmanos expressam sua fé em rituais quase mecânicos: os fiéis muçulmanos recitam o Alcorão repetidamente, em uníssono, palavra por palavra, no original árabe. Eles não oram a Deus como um ser pessoal, derraman-do-lhe o coração como fez Davi, ou debatendo com Ele como fez Jó. Como consta num site muçulmano, "entender [o Alcorão] é inferior" à recitação e ao ritual. Isso só faz sentido se Deus não for um ser pessoal. Como explica o sociólogo Rodney Stark, as religiões com deuses não-pessoais tendem a realçar a precisão no desempenho de rituais e fórmulas sagradas; em contrapartida, as religiões com um Deus altamente pessoal se preocupam menos com tais coisas, pois um Ser pessoal responderá a uma abordagem pessoal feita por súplica improvisada e oração espontânea.

Em nossos esforços em defender o cristianismo, é possível sermos vencidos pelo  norme número de religiões e filosofias apregoadas no cenário público das idéias atualmente. A tarefa fica mais fácil quando percebemos que todas podem ser agrupadas em duas categorias fundamentais: a característica mais crucial se dá entre sistemas que começam com um Deus pessoal e sistemas que começam com uma força ou essência não pessoal.


Tipicamente, usamos o termo não-pessoal para nos referir aos "ismos" seculares, como o naturalismo e o materialismo. Mas devemos ter em mente que a mesma categoria também abrange as crenças religiosas — aquelas que começam com uma essência espiritual não-pessoal. E embora o naturalismo seja a moda entre as pessoas bem instruídas, entre as pessoas comuns talvez haja um espiritualismo genérico e vago muito mais difundido.

O misticismo oriental se apresenta como único caminho para as pessoas no Ocidente que foram apanhadas na encruzilhada tanto do niilismo quanto do naturalismo. Mas o panteísmo oriental é estranho , mesmo sendo suavizado. Desta forma, o ocidente desenvolveu uma nova cosmovisão a da Nova Era ou novos estados de consciência, ou seja, a Nova Era.
No entanto, a cosmovisão da Nova Era é uma cosmovisão em sua adolescência, ela ainda está incompleta, pois ainda possui muitas contradições internas, que serão percebidas no decorrer da aula.

Proposição principal: os seres humanos evoluem pra uma consciência elevada; as sociedades e culturas evoluem para uma maior compatibilidade, há uma nova era chegando.

Para eles algumas pessoas já alcançaram essa consciência evoluída: Jesus Cristo, Buda, Zoroastro.
Literatura de divulgação: Conspiração aguariana (Marilyn Ferguson), O ponto de mutação (Fritjof Capra), Uma Breve História de Todas as Coisas  (Ken Wilber).


Expressão da cosmovisão no Cinema: Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Série Guerra nas Estrelas (força = Deus impessoal,  gurus, mestres.

Relacionamento com outras cosmovisões: A Cosmovisão da Nova Era é extremamente sincrética, ela possui elementos do panteísmo oritental, do animismo, do naturalismo. Naturalismo: nega a existência de um Deus transcendente, não há nenhum Senhor do Universo. Há apenas o universo fechado.  Também toma emprestado do naturalismo a esperança de uma evolução  para um novo ser, a evolução se encarregará da transformação.

Panteísmo oriental:  pega o conceito de que o indivíduo possui grande valor. Também a noção de integração com o Todo, se no panteísmo oriental a alma individual é apenas uma emanação da alma cósmica, na Nova Era perceber a unidade da realidade é tudo o que representa a vida. Como no Oriente, a Nova Consciência rejeita a razão como um guia para a realidade,  o mundo é irracional e existem novos estados de apreensão da realidade, como, por exemplo , o uso de drogas.

Animismo:  afirmam que o universo é habitado por incontáveis seres espirituais, dispostos de forma hierárquica, e no topo esta o  Deus-Céu (lembrando o deu deísta). O universo possui uma dimensão espiritual, mas não um Deus soberano. Esses seres espirituais variam de temperamento, temos desde  os viciados aos cômicos. Esses deuses devem ser apaziguados por meio de cerimônias, presentes e encantamentos.  Quem faz isso? Bruxos, feiticeiros, que são treinados nessa tarefa, e assim, aprendem a controlar o mundo dos espíritos. Afirmam ainda que há uma unidade para toda a vida, pois os animais podem ser os ancestrais dos homens, as pessoas podem se transformar em animais. A nova era  possui vários desse elementos do animismo.

Principais proposições da Nova Era:

1 – Qual que seja a natureza do ser o eu é a mola mestra – a realidade primeira.  A raça humana está as portas de uma mudança radical , e alguns já seres mais evoluídos já podem ser conhecidos.
O Eu (alma, essência individual) é a realidade primeira. O eu é onde reside o problema. É uma idéia, um espírito, um campo psicomagnético, ou a unidade que une a diversidade da energia cósmica. O eu é, na verdade. O universo externo existe não para ser manipulado dos exterior por um Deus transcendente, mas para ser manipulado pelo eu interior.

O eu está no controle de toda a realidade.

“Se eu criei a minha própria realidade, então – em algum nível e dimensão que não entendo – criei tudo o que vi, ouvi, toquei, cheirei, provei, tudo o que amei, odiei, honrei, detestei, tudo o que respondi para alguém , ou que responderam para mim. Então, criei tudo o que conheci. Fui, portanto, responsável por tudo o que houve em minha realidade. Se isso foi verdadeiro, então eu fui tudo, como os antigos textos ensinavam. Fui meu próprio universo. Isso também não significou que criei Deu e criei a vida e a morte? Aquilo que aconteceu porque eu era tudo o que havia? Assumir a responsabilidade pelo poder de alguém seria a expressão final do que chamamos de Deus-força. Seria isso o que significava a declaração Eu Sou que Sou!”
Shirley MacLaine
2 – O cosmo, unificado no eu, manifestas-se em mais duas dimensões: universo visível (acessível pela consciência comum), universo invisível, acessível através de estados alterados de consciência.

O eu está rodeado pelo universo visível ao qual ele tem acesso direto através dos cinco sentidos, mas também tem acesso ao universo invisível pelas portas da percepção , como drogas, meditação, transe, acupuntura, dança ritualizada, músicas, etc.
O eu reordena o universo, por exemplo, a cura física pode ser efetuada e os inimigos podem ser mortos, amaldiçoados e atingidos por sofrimentos físicos ou mentais.

3 – O ápice da experiência da Nova Era é a consciência cósmica, na qual as categorias comuns de espaço, tempo e moralidade tendem a desaparecer. 

Para a Nova Era perceber é ser; qualquer coisa que o eu vê, percebe, concebe, imagina ou acredita, existe. Existe porque o eu está no comando de tudo o que existe.  A aparência é a realidade, não existe distinção. Não há ilusão. Essa percepção tem duas formas, uma para o universo visível, outra para o universo invisível.
O alvo final é reconhecer que você é Deus, que você é o universo.
Os adeptos da Nova Era fazem incursões ao universo invisível e para que essa viagens sejam  bem sucedidas eles devem ter a presença de um guia durante as primeiras tentativas de experiência da consciência cósmica.
O eu é o verdadeiro Deus, mas o eu nem sempre percebe isso, e a evolução se dá com essa percepção.

4 – A morte física não é o fim do ser; o medo da morte é removido.

Não somos apenas nossos corpos físicos, os seres humanos são uma unidade além do corpo. A morte é apenas uma transição para uma outra forma de vida é, contudo, a noção que a consciência é mais do que a manifestação física de alguém. Se o indivíduo é o todo ou o criador de tudo, e se isso é “conhecido” intuitivamente, então a pessoa com certeza não tem nenhuma necessidade de temer a morte.
Os adeptos da Nova Era constantemente relatam experiência vividas fora do corpo, onde eles entram em contato com a quinta dimensão, existem, na verdade, quatro (três de espaço: altura, largura e volume; e uma de tempo). Estima-se que existam pelo menos cinco vezes mais matéria escura do que matéria "normal", aquela com que nossos corpos, as estrelas e tudo o mais é feito. Mas onde entra a tal quinta dimensão nessa história? Para alguns cientistas, ela é um atalho de espessura milimétrica em dobras no espaço por onde escapa a gravidade de galáxias muito distantes, tão longínquas que não podem ser vistas da Terra. Elas é que seriam, na verdade, a misteriosa matéria escura.

5 – A moralidade na Nova Era.

Muitos assumem que a sobrevivência da raça humana é o valor primordial e , insistem em que, a menos que a humanidade evolua, a  menos que as pessoa se tornem radicalmente transformadas, a humanidade desaparecerá. Mas poucos discutem questões éticas, e alguns admitem que na Nova Era as categorias de bem e mal desaparecem, assim como as categorias de espaço, de ilusão e de realidade. A sobrevivência  humana significa submissão uma nova elite, para sobreviver as pessoas vão ter que abandonar as noções tradicionais de liberdade e dignidade.
Se o eu é rei, porque se preocupar com questões éticas? O rei não faz nada errado, se o eu está satisfeito, então isso é suficiente. O que ´é real? O que o eu decide aceitar como real, ele se isolam do diálogo pois criam o seu próprio universo.

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