Introdução
Os
cristãos por vezes acham fácil pôr de lado o movimento da Nova Era, tachando-o
de fútil que sobrou da contracultura dos anos sessenta. Mas semelhante atitude
seria subavaliação perigosa. O âmago do movimento é uma religião panteísta,
derivada de uma tendência religiosa extraordinariamente ampla que surge em
quase toda época e cultura — no Ocidente, no Oriente e no Oriente Médio
(islamismo). Em conseqüência do 11 de setembro, quando o mundo concentrou a
atenção nas culturas islâmicas, os cristãos precisam estar preparados para
identificar esta tendência religiosa mais ampla a fim de entender os atuais
acontecimentos culturais e políticos.
Começando
com o Ocidente, as idéias quase-panteístas de que estamos falando criaram
raízes no século III com os gregos antigos. Este era um período em que as
religiões asiáticas eram a moda na antiga cultura grega, muito semelhante ao
que ocorreu nos Estados Unidos nos anos sessenta. O resultado foi uma escola de
pensamento conhecida por neoplatonismo, que fundiu a filosofia de Platão com o
panteísmo indiano. Neo quer dizer "novo", é claro, pelo que devemos
reputá-lo como a forma do mundo antigo do movimento da Nova Era.
O
principal porta-voz desta fusão do Oriente e do Ocidente foi Plotino. Ele
ensinou que o mundo era uma "emanação" ou radiação do ser,
proveniente de um Espírito ou Absoluto não-pessoal — algo como a luz é radiação
do sol. O nível mais baixo desta radiação era a matéria; e por estar no ponto
mais distante da Bondade Infinita, isso a tornou má. Em outras palavras, ter um
corpo físico e material era considerado um tipo de pecado, algo negativo do
qual devemos ser salvos. Como? Por práticas ascéticas que suprimem os desejos
físicos. A meta era libertar o espírito da "casa-prisão" do corpo
para ser reabsorvido pelo Infinito do qual veio.
Desde
o princípio, o neoplatonismo não só era uma filosofia, mas também uma religião
mística. Na realidade, foi feito em parte em posição ao cristianismo — como
arma a ser brandida pelo paganismo antigo em sua batalha polêmica contra o
cristianismo. No século IV, o imperador Juliano, o Apóstata, tentou desalojar o
cristianismo como a religião oficial do Império Romano substituindo-o pelo
neoplatonismo.
É
surpreendente que muitos dos cristãos primitivos fossem simpatizantes do neoplatonismo e muito influenciados por ele —
notavelmente Clemente de Alexandria, Orígenes e Agostinho. Ao término do século
V, esta filosofia semi-oriental foi sintetizada com o cristianismo por um escritor
desconhecido chamado Dionísio, o Areopagita, que se fez passar por convertido
do século I de Paulo. Depois conhecido por pseudo-Dionísio, ele apresentou uma
forma cristianizada de neoplatonismo que ficou bastante influente na Idade
Média. Seus escritos foram traduzidos para o latim por João Escoto Erigena em
meados do século IX, e desde então o neoplatonismo se tornou o principal canal
do pensamento grego. para as eras posteriores. Influenciou grandemente muitos
movimentos místicos no Ocidente, incluindo os de Meister Eckhart e Jacob
Boehme. Era popular entre os humanistas do Renascimento, como Ficino e Pico
delia Mirândola. Até muitos dos primeiros cientistas modernos postularam uma
filosofia neoplatônica da natureza, que inspirou grande parte do seu trabalho
científico.
O que quero dizer com esta
pequena pesquisa histórica é que muito antes de os Beatles se tornarem
discípulos de Maharishi, várias formas de pensamento quase-panteísta já eram
vertentes proeminentes na tradição cultural ocidental. O movimento da Nova Era
se tratava meramente de uma expressão mais recente de uma tendência há muito
existente de importar o panteísmo oriental para a cultura ocidental, que
começou com Plotino e o neoplatonismo.
E
quanto ao Oriente Médio? Muitos de nós não percebemos que, historicamente, os
pensadores islâmicos se serviram de fontes gregas antigas de forma tão intensa
quanto os pensadores ocidentais, de maneira que o neoplatonismo também se
espalhou nas culturas árabes. Durante a Era Dourada do Islamismo nos séculos
VII e VIII, os exércitos de Maomé devastara tudo desde a Península Árabe,
anexando territórios da Espanha à Pérsia. Com esta ação, poderíamos dizer, eles
também anexaram as obras de Platão, Aristóteles, Plotino e outros pensadores
gregos. Por conseguinte, o mundo árabe tinha uma rica tradição de comentários
sobre os filósofos gregos muito antes que a Europa. Nos cursos universitários
de história, aprendemos que o Renascimento foi despertado pela recuperação dos
antigos escritos clássicos. Mas raramente aprendemos que foram os filósofos muçulmanos
que tinham preservado esses documentos e que os reintroduziram no ocidente.
Em
conseqüência disso, o neoplatonismo se tornou forte influência no pensamento islâmico.
Hoje, os principais filósofos muçulmanos adotam a filosofia perene, com sua fusão
do panteísmo ocidental e oriental. Na realidade, os primeiros proponentes desta
filosofia, que eram europeus, acabaram se convertendo ao islamismo! Para
completar o círculo, a pessoa que lançou a filosofia perene (um francês chamado
René Guenon) acreditava que havia um âmago comum que unia todos os três: o
neoplatonismo, no Ocidente, o hinduísmo, no Oriente, e o islamismo, no Oriente
Médio.
Desde
o 11 de setembro, ouvimos repetidas vezes que o islamismo é apenas outra fé
abraâmica, algo não muito diferente do cristianismo. Assim, pode ser
surpreendente saber que o Deus do islamismo é mais parecido com o Absoluto
não-pessoal do neoplatonismo e hinduísmo do que com o Deus da Bíblia. Porém é
verdade. E a razão central é que o islamismo rejeita a Trindade. Sem este
conceito, não há como advogar a concepção de um Deus inteiramente pessoal. Por
que não? Porque muitos atributos da personalidade só podem ser expressos numa
relação — coisas como amor, comunicação, empatia e abnegação.
A
doutrina cristã tradicional sustenta a concepção de um Deus pessoal, porque
ensina que desde a eternidade estes atributos interpessoais foram expressos
entre as três Pessoas da Trindade. Um Deus genuinamente pessoal requer
"Pessoas" distintas, porque só isso torna possível a existência de
amor e comunicação dentro da deidade em si. O islamismo nega a Trindade, fato
que significa que não há meio de incluir estes atributos relacionais na
concepção que fazem de Deus. (Pelo menos, não até que Ele criasse {o mundo, mas
neste caso Ele seria dependente da criação.) É por isso que é correto dizer, como
afirmam certos filósofos islâmicos, que o islamismo é parecido com o neoplatonismo e o hinduísmo.
Esta
concepção não-pessoal de Deus também explica por que os muçulmanos expressam
sua fé em rituais quase mecânicos: os fiéis muçulmanos recitam o Alcorão repetidamente,
em uníssono, palavra por palavra, no original árabe. Eles não oram a Deus como
um ser pessoal, derraman-do-lhe o coração como fez Davi, ou debatendo com Ele como
fez Jó. Como consta num site muçulmano, "entender [o Alcorão] é
inferior" à recitação e ao ritual. Isso só faz sentido se Deus não for um
ser pessoal. Como explica o sociólogo Rodney Stark, as religiões com deuses
não-pessoais tendem a realçar a precisão no desempenho de rituais e fórmulas
sagradas; em contrapartida, as religiões com um Deus altamente pessoal se
preocupam menos com tais coisas, pois um Ser pessoal responderá a uma abordagem
pessoal feita por súplica improvisada e oração espontânea.
Em
nossos esforços em defender o cristianismo, é possível sermos vencidos pelo norme número de religiões e filosofias
apregoadas no cenário público das idéias atualmente. A tarefa fica mais fácil
quando percebemos que todas podem ser agrupadas em duas categorias
fundamentais: a característica mais crucial se dá entre sistemas que começam
com um Deus pessoal e sistemas que começam com uma força ou essência não pessoal.
Tipicamente,
usamos o termo não-pessoal para nos referir aos "ismos" seculares, como
o naturalismo e o materialismo. Mas devemos ter em mente que a mesma categoria também
abrange as crenças religiosas — aquelas que começam com uma essência espiritual
não-pessoal. E embora o naturalismo seja a moda entre as pessoas bem
instruídas, entre as pessoas comuns talvez haja um espiritualismo genérico e
vago muito mais difundido.
O
misticismo oriental se apresenta como único caminho para as pessoas no Ocidente
que foram apanhadas na encruzilhada tanto do niilismo quanto do naturalismo.
Mas o panteísmo oriental é estranho , mesmo sendo suavizado. Desta forma, o
ocidente desenvolveu uma nova cosmovisão a da Nova Era ou novos estados de
consciência, ou seja, a Nova Era.
No
entanto, a cosmovisão da Nova Era é uma cosmovisão em sua adolescência, ela
ainda está incompleta, pois ainda possui muitas contradições internas, que
serão percebidas no decorrer da aula.
Proposição principal: os seres
humanos evoluem pra uma consciência elevada; as sociedades e culturas evoluem
para uma maior compatibilidade, há uma nova era chegando.
Para
eles algumas pessoas já alcançaram essa consciência evoluída: Jesus Cristo,
Buda, Zoroastro.
Literatura
de divulgação: Conspiração aguariana (Marilyn Ferguson), O ponto de mutação
(Fritjof Capra), Uma Breve História de Todas as Coisas (Ken Wilber).
Expressão
da cosmovisão no Cinema: Contatos Imediatos do Terceiro Grau,
Série Guerra nas Estrelas (força = Deus impessoal, gurus, mestres.
Relacionamento
com outras cosmovisões: A
Cosmovisão da Nova Era é extremamente sincrética, ela possui elementos do
panteísmo oritental, do animismo, do naturalismo. Naturalismo:
nega a existência de um Deus transcendente, não há nenhum Senhor do Universo.
Há apenas o universo fechado. Também
toma emprestado do naturalismo a esperança de uma evolução para um novo ser, a evolução se encarregará
da transformação.
Panteísmo
oriental: pega o conceito de que o
indivíduo possui grande valor. Também a noção de integração com o Todo, se no
panteísmo oriental a alma individual é apenas uma emanação da alma cósmica, na
Nova Era perceber a unidade da realidade é tudo o que representa a vida. Como
no Oriente, a Nova Consciência rejeita a razão como um guia para a
realidade, o mundo é irracional e
existem novos estados de apreensão da realidade, como, por exemplo , o uso de
drogas.
Animismo: afirmam que o universo é habitado por
incontáveis seres espirituais, dispostos de forma hierárquica, e no topo esta
o Deus-Céu (lembrando o deu deísta). O
universo possui uma dimensão espiritual, mas não um Deus soberano. Esses seres
espirituais variam de temperamento, temos desde
os viciados aos cômicos. Esses deuses devem ser apaziguados por meio de
cerimônias, presentes e encantamentos.
Quem faz isso? Bruxos, feiticeiros, que são treinados nessa tarefa, e
assim, aprendem a controlar o mundo dos espíritos. Afirmam ainda que há uma
unidade para toda a vida, pois os animais podem ser os ancestrais dos homens,
as pessoas podem se transformar em animais. A nova era possui vários desse elementos do animismo.
Principais proposições da Nova Era:
1 – Qual que seja a natureza do ser
o eu é a mola mestra – a realidade primeira.
A raça humana está as portas de uma mudança radical , e alguns já seres
mais evoluídos já podem ser conhecidos.
O
Eu (alma, essência individual) é a realidade primeira. O eu é onde reside o
problema. É uma idéia, um espírito, um campo psicomagnético, ou a unidade que
une a diversidade da energia cósmica. O eu é, na verdade. O universo externo
existe não para ser manipulado dos exterior por um Deus transcendente, mas para
ser manipulado pelo eu interior.
O
eu está no controle de toda a realidade.
“Se
eu criei a minha própria realidade, então – em algum nível e dimensão que não
entendo – criei tudo o que vi, ouvi, toquei, cheirei, provei, tudo o que amei,
odiei, honrei, detestei, tudo o que respondi para alguém , ou que responderam
para mim. Então, criei tudo o que conheci. Fui, portanto, responsável por tudo
o que houve em minha realidade. Se isso foi verdadeiro, então eu fui tudo, como
os antigos textos ensinavam. Fui meu próprio universo. Isso também não
significou que criei Deu e criei a vida e a morte? Aquilo que aconteceu porque
eu era tudo o que havia? Assumir a responsabilidade pelo poder de alguém seria a
expressão final do que chamamos de Deus-força. Seria isso o que significava a
declaração Eu Sou que Sou!”
Shirley MacLaine
2 – O cosmo, unificado no eu,
manifestas-se em mais duas dimensões: universo visível (acessível pela
consciência comum), universo invisível, acessível através de estados alterados
de consciência.
O
eu está rodeado pelo universo visível ao qual ele tem acesso direto através dos
cinco sentidos, mas também tem acesso ao universo invisível pelas portas da
percepção , como drogas, meditação, transe, acupuntura, dança ritualizada,
músicas, etc.
O
eu reordena o universo, por exemplo, a cura física pode ser efetuada e os
inimigos podem ser mortos, amaldiçoados e atingidos por sofrimentos físicos ou
mentais.
3 – O ápice da experiência da Nova
Era é a consciência cósmica, na qual as categorias comuns de espaço, tempo e
moralidade tendem a desaparecer.
Para
a Nova Era perceber é ser; qualquer coisa que o eu vê, percebe, concebe,
imagina ou acredita, existe. Existe porque o eu está no comando de tudo o que
existe. A aparência é a realidade, não
existe distinção. Não há ilusão. Essa percepção tem duas formas, uma para o
universo visível, outra para o universo invisível.
O
alvo final é reconhecer que você é Deus, que você é o universo.
Os
adeptos da Nova Era fazem incursões ao universo invisível e para que essa
viagens sejam bem sucedidas eles devem
ter a presença de um guia durante as primeiras tentativas de experiência da
consciência cósmica.
O
eu é o verdadeiro Deus, mas o eu nem sempre percebe isso, e a evolução se dá
com essa percepção.
4 – A morte física não é o fim do
ser; o medo da morte é removido.
Não
somos apenas nossos corpos físicos, os seres humanos são uma unidade além do
corpo. A morte é apenas uma transição para uma outra forma de vida é, contudo,
a noção que a consciência é mais do que a manifestação física de alguém. Se o
indivíduo é o todo ou o criador de tudo, e se isso é “conhecido”
intuitivamente, então a pessoa com certeza não tem nenhuma necessidade de temer
a morte.
Os
adeptos da Nova Era constantemente relatam experiência vividas fora do corpo,
onde eles entram em contato com a quinta dimensão, existem, na verdade, quatro
(três de espaço: altura, largura e volume; e uma de tempo). Estima-se que existam pelo menos cinco
vezes mais matéria escura do que matéria "normal", aquela com que
nossos corpos, as estrelas e tudo o mais é feito. Mas onde entra a tal quinta
dimensão nessa história? Para alguns cientistas, ela é um atalho de espessura
milimétrica em dobras no espaço por onde escapa a gravidade de galáxias muito
distantes, tão longínquas que não podem ser vistas da Terra. Elas é que seriam,
na verdade, a misteriosa matéria escura.
5 – A moralidade na Nova Era.
Muitos
assumem que a sobrevivência da raça humana é o valor primordial e , insistem em
que, a menos que a humanidade evolua, a
menos que as pessoa se tornem radicalmente transformadas, a humanidade
desaparecerá. Mas poucos discutem questões éticas, e alguns admitem que na Nova
Era as categorias de bem e mal desaparecem, assim como as categorias de espaço,
de ilusão e de realidade. A sobrevivência
humana significa submissão uma nova elite, para sobreviver as pessoas
vão ter que abandonar as noções tradicionais de liberdade e dignidade.
Se
o eu é rei, porque se preocupar com questões éticas? O rei não faz nada errado,
se o eu está satisfeito, então isso é suficiente. O que ´é real? O que o eu
decide aceitar como real, ele se isolam do diálogo pois criam o seu próprio
universo.
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