quarta-feira, 28 de novembro de 2012

MARCO ZERO: NIILISMO.


 Introdução

- Mais um sentimento, que uma filosofia:

  • “Sendo mais preciso, o niilismo, de forma alguma, é uma filosofia, mas uma negação dela, da possibilidade de conhecimento e de tudo aquilo que possui valor.” (p. 109)
- O termo “niilismo”:

  • Nihil: nada.
 - Gratuidade e negação:

  • “o niilismo é a negação de todas as coisas – conhecimento, ética, beleza, realidade. No niilismo nenhuma afirmação possui validade; nada tem significado. Antes, tudo é gratuito, dispensável, isto é, apenas existe.” (p. 110)
- Sentimentos associados a essa cosmovisão:

  • Ansiedade
  • Desespero
  • Tédio
- Filme Imensidão azul:

  • A beleza da paisagem não conforta, não concede significado satisfatório.
  • Gratuidade e sofrimento.
  • A imensidão é a metáfora de uma totalidade cuja significação íntima nos escapa.
- Conferir Alister Macgraith: formas pelas quais o cristão relaciona-se com a cultura:

  • Afastamento radical
  • Incorporação acrítica
  • Apreciação crítica: “reter o que é bom”.
è Apenas assim estaremos em condições de contribuir enquanto cristãos.


- Rosa intui o cerne da fragilidade do processo de significação:

  • “Nada pega significado em certas horas” (Grande sertão).

- Na arte, nenhuma obra seria completamente niilista. Incorpora, é certo, alguns dos seus elementos. Mas ao consubstanciar-se enquanto objeto, já nega a negação radical niilista.

  • Conferir “A fonte”, de Marcel Duchamp
"Como você sabe, eu gosto de ver o lado intelectual das coisas, mas não gosto da palavra “intelecto”. Para mim, intelecto é uma palavra seca demais, inexpressiva demais. Gosto da palavra “crença”. Geralmente quando as pessoas dizem “eu sei”, elas não sabem, elas acreditam. Bem, quanto a mim, acredito que a arte é a única atividade do homem em que ele se mostra de fato um ser capaz de ultrapassar sua condição animal. A arte é uma forma de fugir para regiões não governadas pelo espaço e pelo tempo. Viver é acreditar, essa é a minha crença." (TOMKINS, C. Duchamp – uma biografia. São Paulo: Cosac e Naify, 2004, p. 437)

Esperando Godot, de Samuel Beckett.

- Angústia do vazio humano, numa época deprimente.

- O niilismo seria consequência do naturalismo:

  • Hipótese razoável, mas não inteiramente satisfatória.

I. A primeira ponte – necessidade e acaso

- Retomando algumas proposições peculiares ao naturalismo:

  • “a matéria existe eternamente e é tudo o que há”
  • “o cosmo opera como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado”
- Consequências:

  • “Isso significa que o ser humano é parte de um sistema.” (p. 114)
  • Segundo Nietzsche, isso implica a perda de dignidade do homem.
- Dificuldade de articulação entre liberdade e naturalismo:

  • “Ao tempo em que indaguei se era livre para agir conforme desejasse, já estava tão moldado pela natureza e pela minha educação que o próprio fato de a questão ter surgido em minha mente foi determinado. Isto é, o meu eu foi determinado por forças externas.” (p. 116)
  • “Nietzsche está certo: “O delírio do homem sobre si mesmo, sua suposição de que o livre-arbítrio existe, também faz parte do mecanismo de cálculo.” (p. 116)

- Se o universo é fechado:

  • “então a sua atividade pode apenas ser governada por dentro.” (p. 116)

- A liberdade torna-se assim em problema:

  • “Para uma pessoa comum, o determinismo não parece ser problema. Em geral, percebemo-nos como agentes livres, porém a nossa percepção é uma ilusão. Apenas não sabemos qual a “causa” que nos levou a decidir.” (p. 117)
- O ser humano é parte dessas forças impessoais do universo.

  • Assim, não há espaço para responsabilidade moral.
  • “A sua “vontade” é a vontade do cosmo.” (p. 118)
  • Alguns desses elementos estão presentes em nosso cotidiano, quando estamos sempre em busca de condicionamentos atenuadores das nossas ações.
  • O ser humano é assaz complexo. Compreendê-lo implica recusar a hipótese de uma ação inteiramente livre de condicionamentos. Mas a abolição completa da responsabilidade é não menos limitadora. A questão posta em toda a sua dramaticidade é esta: há condicionamentos, mas ainda assim somos responsáveis por nossas escolhas.

- Consequência para os niilistas:

  • “Os seres humanos são máquinas conscientes sem a capacidade de afetar os seus próprios destinos ou realizar algo significativo; portanto, os seres humanos como seres de valor estão mortos. A vida deles é o “fôlego” da peça de Beckett, não a vida que Deus “soprou” no primeiro homem, no jardim do Éden (Gênesis 2.7).” (p. 119)

- O “gatilho” do acaso:

  • Afastamento de qualquer finalidade maior.
  • “O acaso é sem causa, sem propósito e sem direção. É um inesperado gratuito – gratuidade encarnada em tempo e espaço.” (p. 120)
  • “O acaso abre o universo não para a razão, o sentido e o propósito, mas ao absurdo.” (p. 120)
  • Se é assim, não contradiz os princípios mesmos da evolução?

II. A segunda ponte: a grande nuvem do desconhecido

- O problema do niilismo epistemológico:

  • “o naturalismo nos coloca como seres humanos em uma caixa. Porém, para termos qualquer confiança de que nosso conhecimento sobre estarmos dentro de uma caixa é verdadeiro, precisamos nos posicionar fora da coisa ou receber essa informação de qualquer outro ser fora da caixa (os teólogos chamam a isso de “revelação”). Ocorre que não há ninguém fora da caixa para nos fornecer revelação, e não podemos transcender a caixa. Por conseguinte, niilismo epistemológico.” (p. 125)

- Um problema também lógico: como posso saber que não sei? Como provar que o conhecimento é impossível, a não ser pelo conhecimento?


III. A terceira ponte: ser e dever

- A maioria dos naturalistas não é imoral. O problema não é este, e sim o de que lhes falta fundamento para a sua “crença”.

- O naturalista trata do que é. Mas a base da moralidade é normativa – o que deve ser. Como fundamentar este segundo nível?
- O relativismo cultural e a confusão entre ser e dever ser:

  • Problema: os rebeldes. Por que o seu ser não deveria aceitar-se?
- Falta de critérios para julgar os conflitos de valores:

  • “O naturalismo nos coloca como seres humanos em uma caixa eticamente relativa. Para conhecermos que valores dentro daquela caixa são valores reais, necessitamos de uma medida a nós imposta de fora da caixa; precisamos de um prumo moral por meio do qual seja possível avaliar os valores morais conflitantes que observamos em nós e nas demais pessoas. Contudo, não há nada fora da caixa; não existe nenhum prumo moral ou qualquer padrão de valor imutável e supremo. Logo: niilismo ético.” (p. 130)
IV. A perda de significado

- Estamos imersos num universo impessoal.

- Conferir Blade runner: o caçador de androides:

  • O encontro com o criador não é nada animador.
  • Ainda assim, o caçador é salvo pelo androide Roy, que não resiste, e concede misericórdia no final. Mas não parece um ato heroico, e sim algo resignado e triste.
  • Todos parecem em busca do caminho de casa, mas incertos quando ao destino a seguir.

- Nietzsche, morte de Deus e relativismo:

  • “Não há fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.” (Além do bem e do mal)
- Se fossem consistentes, os naturalistas deveriam assumir o niilismo. Mas recusam-se a fazê-lo.

 V. Tensões internas no niilismo

- Não é possível viver uma vida consistente com o niilismo.
- Razões pelas quais o niilismo impossibilita a vida:

  1. “Nada procede da falta de significado, ou melhor, qualquer coisa procede.” (p. 134)

  • Pode-se responder à falta de sentido mediante qualquer ação.
  • Mas qualquer escolha de ação, já implica ajuizamento e valoração, assim negando os pressupostos do niilismo.

  1. “Toda vez que os niilistas pensam e confiam em seu pensamento, eles estão sendo inconsistentes, pois têm negado que aquele pensamento possui valor ou que pode levar ao conhecimento.” (p. 135)

  • Autocontradição: “não existe significado no universo”. Então nem mesmo esta frase tem significado.

  1. “para se negar a Deus é preciso haver um Deus para ser negado. A fim de ser um niilista praticante, deve haver algo contra o qual batalhar. Tal niilista praticante é um parasita em significado. Ele fica sem energia quando não se há mais nada a ser negado.” (p. 136)


  1. “A quarta razão é que o niilismo significa a morte da arte.” (p. 137)

·         Uma contradição: parte da arte moderna acolhe em seu interior precisamente o niilismo.

·         A estrutura artística já implica um significado, e portanto, uma recusa, em última instância, ao niilismo.

·         “se um trabalho artístico for dotado de estrutura, ele possui significado e, portanto, não é niilista.” (p. 137)


  1. “o niilismo apresenta severos problemas psicológicos. As pessoas não conseguem viver com isso porque o niilismo nega o fato de que cada fibra de seu ser desperto clama por sentido, valor, significância, dignidade, valia.” (p. 138)
- “Ninguém que não tenha investigado o desespero dos niilistas, ouvida suas palavras, sentido o que eles sentiram – mesmo vicariamente, por meio de sua arte – consegue entre o século passado.” (p. 138-9)

  • Necessitamos conceder a devida atenção aos niilistas: seu clamor é intenso.
- Exame da contribuição de Ernesto Sábato em Antes do fim.

- Nosso mundo parece menos sensível a argumentos:

  • Precisamos tê-los, obviamente.
  • Mas também muita sensibilidade.
  • Sabedoria.
- Há questões em aberto:

  • O niilismo ativo de Nietzsche, por exemplo.
  • Também a provocação nietzschiana de que o niilismo proviria do próprio cristianismo.
  • Para muitos outros, proviria do próprio desenvolvimento do capitalismo e da técnica.
  • É necessário revisitar clássicos do pensamento brasileiro (Oswald de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa).
  • Sem isso, nosso quadro será deficiente.

 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NATURALISMO: O Silêncio do espaço finito.

O Deísmo é uma cosmovisão transitória entre o teísmo e o naturalismo. No teísmo Deus é Criador infinito-pessoal e sustentador do cosmo. No deísmo, Deus é “reduzido” (ele começa a perder a sua pessoalidade, embora permaneça como criador e (por implicação) sustentador do cosmo. No naturalismo, Deus é ainda mais “reduzido”; ele perde sua própria existência.

Pressupostos básicos:

1 – A matéria é tudo o que existe. Deus não existe.

No naturalismo, é a natureza do cosmo que é promordial, pois no momento em que o Deus-criador é deixado de lado, o próprio cosmo se torna eterno – sempre existindo, embora não necessariamente na sua forma presente, na verdade, sem dúvida não em sua forma presente.
Nada vem do nada. Alguma coisa existe. Portanto, alguma coisa sempre existiu. Mas essa alguma coisa, dizem os naturalistas, não é um criador transcendente, mas a própria matéria do cosmo. De alguma forma toda a matéria do universo sempre existiu.
2 – O cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado.

O universo é fechado (sistema). Ele não está aberto à intervenção externa – ou de um ser transcendente.

3 – Os seres humanos são “máquinas” complexas; a personalidade é uma inte-relação de propriedades químicas e físicas que ainda não entendemos completamente.

Para os naturalistas a mente é uma função desta máquina.  Como seres humanos somos simplesmente parte do cosmo. No cosmo há apenas uma substância  a matéria. Somos feitos dela e somente dela. As leis que se aplicam à matéria aplicam-se também a nós. De nenhum modo transcendemos o universo.
Eles admitem que somos máquinas complexas e que nosso mecanismo ainda não foi muito bem entendido. A humanidade é meramente um objeto entre muitos outros.

4 – A morte é a extinção da personalidade e da individualidade.

Essa talvez é a mais dura proposição do naturalismo para as pessoas aceitarem. Homens e mulheres são feitos de matéria e nada mais, quando essa matéria que contribuiu para formar um indivíduo é desorganizada na morte, então a pessoa desaparece.

5 – A história é uma corrente linear de eventos vinculada por causa e efeito, mas sem proposta abrangente.

História = história natural/história humana. A origem da família humana está na natureza. Surgimos fora dela e, muito provavelmente , a ela retornaremos (não apenas individualmente, mas como espécie). A história natural começa com a origem do universo. Alguma coisa num tempo muito remoto – um big bang ou um aparecimento súbito – que veio, finalmente, resultar na formação do Universo em que agora habitamos e do qual estamos conscientes. Como os seres humanos vieram a existir é geralmente muito mais aceito do que como o universo veio a existir. A teoria da evolução, durante muito tempo ignorada pelos naturalistas, forneceu o mecanismo que explicou a origem e desenvolvimento do homem. Mas hoje ela á a cosmovisão dominante na explicação da origem da vida. Dificilmente um livro escolar ou acadêmico deixa de proclamar a teoria como um fato. Devemos ser cautelosos, contudo, para não assumirmos que todas as formas de teoria evolucionista são estritamente naturalistas, pois muitos teístas também são evolucionistas.Apesar de a teoria da evolução explicar o que aconteceu, ela não explica o porquê. Não há um motivo para a existência humana, o homem é produto do acaso. Mas a história também não tem nenhum alvo, ela é o que fazemos acontecer. Os eventos humanos tem apenas o significado que as pessoas lhes atribuem quando os escolhem ou recordam. A história caminha em linha reta, mas não tem nenhum objetivo predeterminado, ela simplesmente caminha até durar o mesmo tempo que a consciência humana. Quando partimos a história humana desaparece e a história natural continua sozinha o seu caminho.

6 – A ética está relacionada apenas aos seres humanos.
Considerações éticas não são importantes no naturalismo. Os primeiros naturalistas continuaram adotando os sistemas éticos do cristianismo popular. Havia um respeito à dignidade pessoal, uma proposta de amor, um compromisso com a verdade e honestidade. Hoje em dia, essa ética possui alguma variações pois são a favor da euntanásia, aborto, suicídio, vida sexual promíscua, no entanto, no mais, teístas e naturalistas possuem posições muito parecidas, mas quando mais o humanismo secular se afasta do cristianismo, mas desacordos há entre teístas e naturalistas. Para os teístas, Deus é o fundamento dos valores. Para um naturalista, os valores são produzidos pelo homem. Se não havia nenhuma consciência anterior aos homens, então não havia nenhum senso anterior de certo e errado.
O manifesto humanista II declara o lugar da ética no naturalismo : “Afirmamos que os valores morais derivam de suas fontes de experiência humana. A ética é autônoma e situacional, não necessitando de sanção teológica ou ideológica. A ética surge da necessidade e interesse humano. Negar isso é distorcer a base completa da vida. A vida humana tem significado porque criamos e desenvolvemos nosso futuro.”
O que é bom?

O que é melhor para o grupo, para a sobrevivência da espécie, a continuidade da vida é o valor universal e  o mais importante.

Exemplo prático:
A psicologia evolucionista e o estupro

Num livro chamado A História Natural do Estupro: bases biológicas da coerção sexual os autores afirmam que o estupro não é uma patologia. É adaptação evolutiva para maximizar o sucesso reprodutivo, ou seja, o homem pode recorrer à coerção para cumprir o imperativo reprodutivo.
Segundo o livro, “O estupro é um fenômeno natural e biológico que é produto da herança evolutiva humana”. Para eles todo comportamento que sobrevive deve ter ganhado certa vantagem evolutiva, do contrário, teria sido extirpado pela seleção natural. Consequentemente, há benefícios no estupro.

A psicologia evolutiva e o infanticídio.

Steven Pinker afirma que temos que entender adolescentes que matam os filhos recé-nascidos, porque o infanticídio é praticado e aceito na maioria das culturas ao longo da história. E se essa ato continua a existir significa que ele foi preservado pela seleção natural.
Pinker afirma:

“Se um recém-nascido está doentio, ou se sua sobrevivência não for promissora, elas podem cortar despesas e favorecer o mais saudável da ninhada ou tentar novamente mais tarde, a capacidade do neonato depende do desígnio de nossas emoções parentais.”
Muitos cientistas afirma que o infanticídio não pode ser considerado anormal, mas é um instinto parental , como os impulsos sexuais e a autodefesa, e até pode ser adaptação benéfica evolutiva.

Darwin afirmou (O descendente do homem) que:

“o assassinato de crianças prevalece em grandíssima escala por todo o mundo, e é encontrado sem repreensão. Na verdade, pensa-se que o infanticídio, sobretudo de meninas, seja bom para a tribo.”

Portanto, a moralidade naturalista é reduzida a fatores de sobrevivência da espécie. Há muitos anos o professor Peter Singer da Universidade de Princenton publicou um artigo chamado animais grávidos onde ele defendia o sexo entre seres humanos e animais. Para ele o homem ter relações sexuais com animais é apenas um cruzamento entre espécies diferentes.

Expressão nas artes.
Em 2002, a peça teatral da Broadway A cabra, ou: quem é Sylvia mostra um arquiteto bem sucedido que confessa à esposa que ele se apaixonou por uma cabra chamada Sylvia.

Ela foi traduzida por Jô Soares e sucesso de público no Brasil o engenheiro foi interpretado por José Wilker. A peça ganhou os principais prêmio de sucesso teatral do ano.

Uma música do grupo Bolldhound Ganga (The Bad Touch) foi a 17ª de Billboard. O refrão da música é:
Você e eu Baby, somos meros mamíferos; então, vamos fazer sexo como eles fazem no Canal da Discovery. O clipe mostrava os membros da banda fantasiados de macaco em posições sexuais grotescas.

Expressões do Naturalismo:

1 – O humanismo secular.
O humanismo é uma atitude global em que os seres humanos são de especial valor, suas aspirações, seus pensamentos, seus anseios são significativos.

Manifesta humanista afirma:
1 - O conhecimento do mundo deriva da observação, experimentação e  análise racional.
2 - Os humanos são parte integral da Natureza, o resultado de uma mudança evolutiva não guiada.
3 - Os valores éticos derivam das necessidades e interesse humano como é confirmado pela experiência.
4 - A realização da vida emerge da participação individual no serviço dos Ideais humanos.
5 - Os humanos são sociais por natureza e encontram sentido nos relacionamentos.
6 - O trabalho em benefício da sociedade maximiza a felicidade indivídual.

2 – Pragmatismo.

O pragmatismo é a visão darwinista de conhecimento. Os pragmatistas perguntam: O que significa o naturalismo darwinista para o modo como entendemos a mente humana? E respondem: significa que a mente nada mais é que parte da natureza. Eles rejeitam a visão mais antiga que dizia que a mente humana é transcendente á matéria, para os darwinistas a mente é produzida pela matéria. Para os teístas a mente é anterior à matéria (Deus). Portanto, os pragmáticos entendem que as funções mentais são meras adaptações para solucionar problemas do ambiente. A ideias que sobrevivem e se tornam crenças firmes são as necessárias para a preservação da espécie. Então as boas decisões dessa mente são as decisões que trazem bons resultados, que funcionam, se cumprem a sua função de preservação e evolução da espécie.

3 – Marxismo.

O Marxismo é uma cosmovisão baseada no naturalismo. Para Marx o poder criativo supremo era a questão em si. Na verdade é uma forma de materialismo filosófico. Marx faz uma proposta de um universo material não estático, mas dinâmico, contendo em si mesmo o poder de movimento, mudança e desenvolvimento.  Marx faz da matéria Deus. O universo é uma máquina auto-originada, auto-operante, movendo-se para o seu grande final que é uma sociedade sem classes.  Como qualquer cosmovisão Marx faz uma proposta de criação, queda e redenção. Criação: o correlativo de Marx do Jardim do Éden era o estado de comunismo primitivo. E como foi que a humanidade caiu deste estado de inocência para a escravidão e tirania? Pela criação da propriedade privada. Dessa queda econômica surgiram todos os males de exploração ou luta de classe. No marxismo o homem é definido pelo modo como se relaciona com a matéria, o modo como a manipula e faz coisa, a partir dela, para satisfazer as suas necessidades. Em suma, pelo meio de produção.

Qual é o conceito do marxismo para a criação, a origem suprema de tudo?

A matéria autocriada e autoprodutiva.
Queda: propriedade privada.
Qual é a versão do marxismo para a queda, a origem do sofrimento e tirania?
O surgimento da propriedade privada.

Redenção: a destruição da propriedade privada. O proletariado é o redentor, eles devem se revoltar contra seus opressores capitalistas. O marxismo acredita que a natureza humana poder ser transformada mudando as estruturas sociais externas. O dia do julgamento no marxismo é o dia da revolução. Marx até usa uma expressão bíblica ele chama de Dia da Ira.
Qual o método que marxismo propõe para por o mundo em ordem outra vez?

Revolução! Derrubem os tiranos e recriem o paraíso original do comunismo primitivo.
Qual é o nosso problema?
O problema básico dos cristãos nos últimos oitenta anos, quanto à sociedade e governo, é que têm observado as coisas em pedaços e partículas, ao invés de ver a totalidade. Aos poucos eles ficaram perturbados com a permissividade, pornografia, os problemas das escolas públicas, o desmoronamento da família, e finalmente, o aborto. Mas não viram essas coisas como um todo – cada qual uma parte, um sintoma de um problema ainda maior. Fracassaram em ver que tudo isso veio a acontecer devido a uma mudança de visão do mundo – isto é, através de uma mudança fundamental na maneira global em que as pessoas pensam e vêem o mundo e a vida como um todo. Esta mudança tem sido um afastamento de uma visão do mundo, que era pelo menos vagamente cristã na memória das pessoas (mesmo que estas como indivíduos não fossem cristãs), em direção a algo  ompletamente contrário: uma visão do mundo baseada na idéia de que a realidade final é matéria ou energia mpessoal posta na forma presente pelo acaso impessoal. Não viram que esta visão do mundo tomou o lugar da que antes dominava a cultura do norte da Europa, inclusive os Estados Unidos, que pelo menos na memória era um país cristão, mesmo que as pessoas como indivíduos não fossem cristãs.
Estas duas visões do mundo permanecem na sua totalidade, em antítese completa uma à outra, tanto no conteúdo como nos resultados naturais – inclusive os resultados sociológicos e governamentais e, especificamente, incluindo a lei. Por que os cristãos têm sido tão lerdos em compreender isto? Há várias razões, mas o centro está numa visão deturpada do cristianismo. Isto começou no movimento pietista sob a liderança de P. J. Spenger no século dezessete. O pietismo teve início com um protesto saudável contra o formalismo e contra um cristianismo por demais abstrato. Mas tinha uma espiritualidade deficiente, “platônica”. Era platônica no sentido de que o Pietismo fazia forte diferenciação entre o mundo “espiritual” e o mundo “material” – dando ao mundo material pouca ou nenhuma importância. De modo especial, negligenciava a dimensão intelectual do cristianismo. O cristianismo e a espiritualidade foram fechados dentro de uma pequena e isolada parte da vida. A realidade total foi ignorada pelo pensamento pietista. Permitam-me dizer rapidamente que num certo sentido os cristãos devem ser pietistas: no aspecto em que o cristianismo não é apenas um conjunto de doutrinas, mesmo que de doutrinas certas. Toda doutrina de alguma forma tem que ter efeito sobre as nossas vidas. Mas o lado fraco do pietismo, isto é, seu modo platônico de enfocar as coisas, tem sido uma tragédia não só sobre as vidas, individualmente, como também na totalidade de nossa cultura. A verdadeira espiritualidade cobre toda a realidade. Existem coisas que a Bíblia nos diz como absolutas, que são pecados – não se conformam com o caráter de Deus. Mas além destas, o Senhorio de Cristo cobre toda a vida e a cobre por igual. Não é apenas que a verdadeira espiritualidade cobre toda a vida, mas cobre todas as partes do espectro da vida, mas cobre todas as partes do espectro da vida, de forma igual. Neste sentido não existe nada na realidade que não seja espiritual. Relacionado a isto, está o fato de que muitos cristãos não querem dizer o mesmo que eu, quando digo que o cristianismo é verdade, ou A Verdade. São cristãos, e crêem, digamos, na verdade da criação, do nascimento virginal de Cristo, dos milagres de Jesus, de Sua morte expiatória e Sua volta. Mas param aí com essas e outras verdades. Quando digo que o cristianismo é verdadeiro, digo que é verdade em relação à realidade total – a totalidade que existe, a começar com a realidade central, a existência objetiva do Deus infinito e pessoal. O cristianismo não é apenas uma série de verdades mas é a Verdade – a Verdade sobre a realidade. A apreensão intelectual dessa verdade – e, a seguir, o viver baseado nesta verdade, a verdade daquilo que é – produz não apenas algum tipo de resultado pessoal, mas também produz conseqüências na lei e no governo. O enfoque humanista do mundo, entretanto, inclui milhares de adeptos e controla hoje o consenso da sociedade, grande parte dos meios de comunicação, mito do que é ensinado em nossas escolas, e muitas das leis arbitrárias produzidas pelos diversos setores do governo. 

Quais são os resultados dessa cosmovisão na vida dos crentes?

1)     Materialismo;
2)     Consumismo;
3)     Imediatismo;
4)     Culto ao corpo;
5)     Falta de diligência na vida espiritual;
6)     Sensualidade.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Deísmo: o universo mecânico

 
I. Apresentação do deísmo
I.1. Observações preliminares
- Definição: religião racional:
  • “Doutrina de uma religião natural ou racional não fundada na revelação histórica, mas na manifestação natural da divindade à razão do homem.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238). 
- Surge no interior do Iluminismo:
  • “O D. é um aspecto do Iluminismo, de que faz parte integrante.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
  • Colin Chapman, Cristianismo: a melhor resposta: “Carl Becker, sumariando crenças típicas a respeito do homem no século XVIII:
1.    O homem não é nativamente depravado;
2.    O fim da vida é a própria vida, a boa vida sobre a terra, ao invés da vida beatífica depois da morte;
3.    O homem é capaz de, guiado exclusivamente pela luz da razão e da experiência, aperfeiçoar a boa vida na terra; e
4.    A primeira condição essencial para a boa vida na terra é a liberação das mentes dos homens das peias da ignorância e da superstição, bem como de seus corpos da opressão arbitrária das autoridades sociais constituídas.” (p. 99)
 - Obra principal do Deísmo inglês:
  • John Toland (1670-1722), Cristianismo sem mistérios (1699)
 - Voltaire usa a palavra “teísmo”
 - Distinção estabelecida por Kant.
 - Teses fundamentais do Deísmo:
  • 1ª. “a religião não contém e não pode conter nada de irracional (tomando por critério de racionalidade a razão lockiana e não a cartesiana)”
  • 2ª. “a verdade da religião revela-se, portanto, à própria razão, e a revelação histórica é supérflua”
  • 3ª. “as crenças da religião natural são poucas e simples: existência de Deus, criação e governo divino do mundo, retribuição do mal e do bem em vida futura.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
 - No que tange ao conceito de Deus, nem todos os deístas estavam de acordo:
  • Ingleses: “atribuem a Deus não só o governo do mundo físico (a garantia da ordem do mundo), mas também o do mundo moral” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
  • Franceses: “a começar por Voltaire, negam que Deus se ocupe dos homens e lhe atribuem a mais radical indiferença quanto ao seu destino” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
  • Caso peculiar: Rousseau: “a “religião natural” de Rousseau é uma forma de D. mais próxima da inglesa porque atribui a Deus também a tarefa de garantir a ordem do mundo” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
 - Sua peculiaridade com relação ao teísmo:
  • Negação da revelação
  • “redução do conceito de Deus às características que lhe podem ser atribuídas pela razão.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
  • Conferir Kant, Crítica da razão pura: Dialética, cap. III, seç. VII:
“O deísta representa, por um tal objecto [Deus], apenas uma causa do mundo; o teísta, um autor do mundo.” (p. 525)
“o deísta crê num Deus, ao passo que o teísta crê num Deus vivo.” (p. 526)
 
 I.2. Teses principais
- Teria surgido enquanto reação às querelas teológicas intermináveis do século XVII:
  • “Após décadas de extenuantes discussões, eclesiásticos luteranos, puritanos e anglicanos poderiam muito bem ter olhado novamente para os pontos de concordância.” (p. 56)
 - O Deísmo nega a revelação especial:
  • “o deísmo nega que Deus pode ser conhecido pela revelação, por atos especiais da autoexpressão, por exemplo, na Escritura ou na encarnação.” (p. 58)
  • “o deísmo passa a ver Deus apenas na “natureza”, termo pelo qual se entendia como o sistema do universo.” (p. 59)
 - Deus enquanto relojoeiro:
  • “E, uma vez que o sistema do universo era visto como o mecanismo de um imenso relógio, Deus passa a ser visto como o relojoeiro.” (p. 59)
  • Conferir Chapman, pág. 30.
 - Não formou propriamente uma escola de pensamento:
  • Muitas são as divergências entre eles.
  • Alguns eram hostis ao cristianismo, outros não.
  • Alguns acreditavam na imortalidade da alma, outros não.
  • Alguns acreditavam em um Deus pessoal, outros não.
 - Proposições básicas:
  1. Um Deus transcendente, como primeira causa, criou o universo, mas então, o deixou funcionar por conta própria. Deus é, portanto, não imanente, não totalmente pessoal, não soberano sobre os assuntos humanos e não providencial.
·         “Em essência, o deísmo reduz o número de características que Deus revelou.” (p. 60)
·         Primeira causa – resolve assim o problema da regressão ao infinito.
·         Ele não se importa com a criação – não a ama.
·         Solitária condição da humanidade.
 
  1. O cosmo criado por Deus é determinado, pois foi criado como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado; nenhum milagre é possível.
·         O universo é fechado ao reordenamento divino.
·         O universo é fechado ao reordenamento humano – ainda que não o admitam, ficamos impossibilitados de modificar o nosso meio ambiente.
·         Conferir Terras das sombras:
a.    Sobre C. S. Lewis
b.    Anthony Hopkins e Debra Winger
c.    Passagem ambígua
·         Conferir Cândido.
a.    Deus está ausente na história. Não intervém.
b.    Hesitações: sofrimento no seio da história e sociedade.
 
  1. Os seres humanos, embora pessoais, fazem parte do mecanismo do universo.
·         Somos seres pessoais: dotados de autoconsciências.
·         Mas fazemos parte do mecanismo da natureza.
·         Disso decorre a falta de significância da existência humana – não podemos alterar a ordem na qual nos encontramos.
·         Tributam aos seres humanos:
a.    Inteligência e racionalidade
b.    Moralidade
c.    Capacidade comunitária e de criar
·         Mas tais características “não estão alicerçadas no caráter de Deus” (p. 63)
·         “Os seres humanos são o que são: eles possuem parcas esperanças de se tornar algo diferente ou maior.” (p. 63)
 
  1. O cosmo, este mundo, é compreendido como estando em seu estado normal; ele não é decaído ou anormal. Podemos conhecer o universo e por meio de seu estudo determinar como Deus é.
·         O mundo permanece essencialmente tal como Deus o criou.
·         Os homens possuem capacidade de conhecer o mundo.
·         Logo, podem conhecer Deus a partir do estudo do universo.
·         Sl 19.1: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.”
·         Para os teístas Deus também se revelou em palavras e em Jesus.
 
  1. A ética é restrita à revelação geral; pelo fato de o universo ser normal, ele revela o que é certo.
·         Torna-se indistinguível o bem e o mal.
·         A ética desaparece.
·         “o deísmo passa a ser uma cosmovisão impraticável, pois ninguém consegue viver por ela.” (p. 67)
·         Inconsistentes – pois não reconhecem as consequências das suas proposições.
 
  1. A história é linear, pois o curso do cosmo foi determinado na criação.
·         A história não se marca pelas intervenções de Deus.
·         Busca por regras gerais, não pelas ações específicas observadas na história.
 
II. Avaliação
 
- Algumas incongruências internas:
  1. Na ética, a suposição de um universo normal e não decaído tendia a implicar que seja o que for é certo. Se isso for verdade, então, nenhum espaço é deixado para um conteúdo nítido da ética. Não obstante, os deístas se mostravam muito interessados pela ética, constituindo essa a única divisão do ensinamento cristão que lhes era mais aceitável. 
  1. Na epistemologia, a tentativa de argumentar do particular para o universal redundou em fracasso, pois seria preciso uma mente infinita para reter os detalhes necessários a uma generalização precisa. Nenhuma mente é infinita. Portanto, como o conhecimento universal é impossível, e os pensadores eram deixados com um relativo conhecimento, eles acham isso de difícil aceitação. 
  1. Em relação à natureza humana, uma pessoa não pode manter significância e personalidade diante de um universo fechado ao reordenamento. A significância humana e o determinismo mecânico são parceiros incompatíveis. 
- Outros problemas:
  • Cientistas abandonaram a imagem do universo como um relógio.
  • Se os homens tem personalidade, o seu criador também não a teria?
- Somos teístas. Precisamos então praticá-lo.
 
- Salmo 18.1-16: Nosso Deus intervém em nossas vidas e em nossa história. Amém.