I. Apresentação do deísmo
I.1. Observações preliminares
- Definição: religião
racional:
- “Doutrina
de uma religião natural ou racional
não fundada na revelação histórica, mas na manifestação natural da
divindade à razão do homem.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia,
p. 238).
- Surge no interior
do Iluminismo:
- “O
D. é um aspecto do Iluminismo,
de que faz parte integrante.” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
- Colin
Chapman, Cristianismo: a melhor
resposta: “Carl Becker, sumariando
crenças típicas a respeito do homem no século XVIII:
1. O homem não é nativamente depravado;
2. O fim da vida é a própria vida, a boa vida sobre a terra,
ao invés da vida beatífica depois da morte;
3. O homem é capaz de, guiado exclusivamente pela luz da
razão e da experiência, aperfeiçoar a boa vida na terra; e
4. A primeira condição essencial para a boa vida na terra é
a liberação das mentes dos homens das peias da ignorância e da superstição, bem
como de seus corpos da opressão arbitrária das autoridades sociais
constituídas.” (p. 99)
- John
Toland (1670-1722), Cristianismo sem
mistérios (1699)
- 1ª.
“a religião não contém e não pode conter nada de irracional (tomando por
critério de racionalidade a razão lockiana e não a cartesiana)”
- 2ª.
“a verdade da religião revela-se, portanto, à própria razão, e a revelação
histórica é supérflua”
- 3ª.
“as crenças da religião natural são poucas e simples: existência de Deus,
criação e governo divino do mundo, retribuição do mal e do bem em vida
futura.” (Abbagnano, Dicionário de
filosofia, p. 238)
- Ingleses:
“atribuem a Deus não só o governo do mundo físico (a garantia da ordem do
mundo), mas também o do mundo moral” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
- Franceses:
“a começar por Voltaire, negam que Deus se ocupe dos homens e lhe atribuem
a mais radical indiferença quanto ao seu destino” (Abbagnano, Dicionário de filosofia, p. 238)
- Caso
peculiar: Rousseau: “a “religião natural” de Rousseau é uma forma de D.
mais próxima da inglesa porque atribui a Deus também a tarefa de garantir
a ordem do mundo” (Abbagnano, Dicionário
de filosofia, p. 238)
- Negação
da revelação
- “redução
do conceito de Deus às características que lhe podem ser atribuídas pela
razão.” (Abbagnano, Dicionário de
filosofia, p. 238)
- Conferir
Kant, Crítica da razão pura:
Dialética, cap. III, seç. VII:
“O deísta representa, por um tal objecto [Deus], apenas
uma causa do mundo; o teísta, um autor do mundo.” (p. 525)
“o deísta crê num Deus,
ao passo que o teísta crê num Deus vivo.”
(p. 526)
- Teria surgido
enquanto reação às querelas teológicas intermináveis do século XVII:
- “Após
décadas de extenuantes discussões, eclesiásticos luteranos, puritanos e
anglicanos poderiam muito bem ter olhado novamente para os pontos de
concordância.” (p. 56)
- “o
deísmo nega que Deus pode ser conhecido pela revelação, por atos especiais
da autoexpressão, por exemplo, na Escritura ou na encarnação.” (p. 58)
- “o
deísmo passa a ver Deus apenas na “natureza”, termo pelo qual se entendia
como o sistema do universo.” (p. 59)
- “E,
uma vez que o sistema do universo era visto como o mecanismo de um imenso
relógio, Deus passa a ser visto como o relojoeiro.” (p. 59)
- Conferir
Chapman, pág. 30.
- Muitas
são as divergências entre eles.
- Alguns
eram hostis ao cristianismo, outros não.
- Alguns
acreditavam na imortalidade da alma, outros não.
- Alguns
acreditavam em um Deus pessoal, outros não.
- Um
Deus transcendente, como primeira causa, criou o universo, mas então, o
deixou funcionar por conta própria. Deus é, portanto, não imanente, não
totalmente pessoal, não soberano sobre os assuntos humanos e não
providencial.
·
“Em essência, o
deísmo reduz o número de características que Deus revelou.” (p. 60)
·
Primeira causa –
resolve assim o problema da regressão ao infinito.
·
Ele não se importa
com a criação – não a ama.
·
Solitária condição da
humanidade.
- O
cosmo criado por Deus é determinado, pois foi criado como uma uniformidade
de causa e efeito em um sistema fechado; nenhum milagre é possível.
·
O universo é fechado
ao reordenamento divino.
·
O universo é fechado
ao reordenamento humano – ainda que não o admitam, ficamos impossibilitados de
modificar o nosso meio ambiente.
·
Conferir Terras das sombras:
a. Sobre C. S. Lewis
b. Anthony Hopkins e Debra Winger
c. Passagem ambígua
·
Conferir Cândido.
a. Deus está ausente na história. Não intervém.
b. Hesitações: sofrimento no seio da história e sociedade.
- Os
seres humanos, embora pessoais, fazem parte do mecanismo do universo.
·
Somos seres pessoais:
dotados de autoconsciências.
·
Mas fazemos parte do
mecanismo da natureza.
·
Disso decorre a falta
de significância da existência humana – não podemos alterar a ordem na qual nos
encontramos.
·
Tributam aos seres
humanos:
a. Inteligência e racionalidade
b. Moralidade
c. Capacidade comunitária e de criar
·
Mas tais
características “não estão alicerçadas no caráter de Deus” (p. 63)
·
“Os seres humanos são
o que são: eles possuem parcas esperanças de se tornar algo diferente ou
maior.” (p. 63)
- O
cosmo, este mundo, é compreendido como estando em seu estado normal; ele
não é decaído ou anormal. Podemos conhecer o universo e por meio de seu
estudo determinar como Deus é.
·
O mundo permanece
essencialmente tal como Deus o criou.
·
Os homens possuem
capacidade de conhecer o mundo.
·
Logo, podem conhecer
Deus a partir do estudo do universo.
·
Sl 19.1: “Os céus
proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.”
·
Para os teístas Deus
também se revelou em palavras e em Jesus.
- A
ética é restrita à revelação geral; pelo fato de o universo ser normal,
ele revela o que é certo.
·
Torna-se
indistinguível o bem e o mal.
·
A ética desaparece.
·
“o deísmo passa a ser
uma cosmovisão impraticável, pois ninguém consegue viver por ela.” (p. 67)
·
Inconsistentes – pois
não reconhecem as consequências das suas proposições.
- A
história é linear, pois o curso do cosmo foi determinado na criação.
·
A história não se
marca pelas intervenções de Deus.
·
Busca por regras
gerais, não pelas ações específicas observadas na história.
- Algumas
incongruências internas:
- Na
ética, a suposição de um universo normal e não decaído tendia a implicar
que seja o que for é certo. Se isso for verdade, então, nenhum espaço é
deixado para um conteúdo nítido da ética. Não obstante, os deístas se
mostravam muito interessados pela ética, constituindo essa a única divisão
do ensinamento cristão que lhes era mais aceitável.
- Na
epistemologia, a tentativa de argumentar do particular para o universal
redundou em fracasso, pois seria preciso uma mente infinita para reter os
detalhes necessários a uma generalização precisa. Nenhuma mente é
infinita. Portanto, como o conhecimento universal é impossível, e os
pensadores eram deixados com um relativo conhecimento, eles acham isso de
difícil aceitação.
- Em
relação à natureza humana, uma pessoa não pode manter significância e
personalidade diante de um universo fechado ao reordenamento. A
significância humana e o determinismo mecânico são parceiros incompatíveis.
- Outros problemas:
- Cientistas
abandonaram a imagem do universo como um relógio.
- Se os homens tem personalidade, o seu criador também não a teria?
- Somos teístas.
Precisamos então praticá-lo.
- Salmo 18.1-16:
Nosso Deus intervém em nossas vidas e em nossa história. Amém.
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