- Mais um sentimento,
que uma filosofia:
- “Sendo
mais preciso, o niilismo, de forma alguma, é uma filosofia, mas uma
negação dela, da possibilidade de conhecimento e de tudo aquilo que possui
valor.” (p. 109)
- Nihil:
nada.
- “o
niilismo é a negação de todas as coisas – conhecimento, ética, beleza,
realidade. No niilismo nenhuma afirmação possui validade; nada tem
significado. Antes, tudo é gratuito, dispensável, isto é, apenas existe.”
(p. 110)
- Ansiedade
- Desespero
- Tédio
- A
beleza da paisagem não conforta, não concede significado satisfatório.
- Gratuidade
e sofrimento.
- A
imensidão é a metáfora de uma totalidade cuja significação íntima nos
escapa.
- Afastamento
radical
- Incorporação
acrítica
- Apreciação
crítica: “reter o que é bom”.
- Rosa intui o cerne
da fragilidade do processo de significação:
- “Nada
pega significado em certas horas” (Grande
sertão).
- Na arte, nenhuma
obra seria completamente niilista. Incorpora, é certo, alguns dos seus
elementos. Mas ao consubstanciar-se enquanto objeto, já nega a negação radical
niilista.
- Conferir
“A fonte”, de Marcel Duchamp
Esperando Godot, de Samuel Beckett.
- Angústia do vazio
humano, numa época deprimente.
- O niilismo seria
consequência do naturalismo:
- Hipótese
razoável, mas não inteiramente satisfatória.
I. A primeira ponte – necessidade e acaso
- Retomando algumas proposições
peculiares ao naturalismo:
- “a
matéria existe eternamente e é tudo o que há”
- “o
cosmo opera como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema fechado”
- “Isso
significa que o ser humano é parte de um sistema.” (p. 114)
- Segundo
Nietzsche, isso implica a perda de dignidade do homem.
- “Ao
tempo em que indaguei se era livre para agir conforme desejasse, já estava
tão moldado pela natureza e pela minha educação que o próprio fato de a
questão ter surgido em minha mente foi determinado. Isto é, o meu eu foi
determinado por forças externas.” (p. 116)
- “Nietzsche
está certo: “O delírio do homem sobre si mesmo, sua suposição de que o
livre-arbítrio existe, também faz parte do mecanismo de cálculo.” (p. 116)
- Se o universo é
fechado:
- “então
a sua atividade pode apenas ser governada por dentro.” (p. 116)
- A liberdade
torna-se assim em problema:
- “Para
uma pessoa comum, o determinismo não parece ser problema. Em geral,
percebemo-nos como agentes livres, porém a nossa percepção é uma ilusão.
Apenas não sabemos qual a “causa” que nos levou a decidir.” (p. 117)
- Assim,
não há espaço para responsabilidade moral.
- “A
sua “vontade” é a vontade do cosmo.” (p. 118)
- Alguns
desses elementos estão presentes em nosso cotidiano, quando estamos sempre
em busca de condicionamentos atenuadores das nossas ações.
- O
ser humano é assaz complexo. Compreendê-lo implica recusar a hipótese de
uma ação inteiramente livre de condicionamentos. Mas a abolição completa
da responsabilidade é não menos limitadora. A questão posta em toda a sua
dramaticidade é esta: há condicionamentos, mas ainda assim somos
responsáveis por nossas escolhas.
- Consequência para
os niilistas:
- “Os
seres humanos são máquinas conscientes sem a capacidade de afetar os seus
próprios destinos ou realizar algo significativo; portanto, os seres
humanos como seres de valor estão mortos. A vida deles é o “fôlego” da
peça de Beckett, não a vida que Deus “soprou” no primeiro homem, no jardim
do Éden (Gênesis 2.7).” (p. 119)
- O “gatilho” do
acaso:
- Afastamento
de qualquer finalidade maior.
- “O
acaso é sem causa, sem propósito e sem direção. É um inesperado gratuito –
gratuidade encarnada em tempo e espaço.” (p. 120)
- “O
acaso abre o universo não para a razão, o sentido e o propósito, mas ao
absurdo.” (p. 120)
- Se
é assim, não contradiz os princípios mesmos da evolução?
II. A segunda ponte: a grande nuvem do desconhecido
- O problema do
niilismo epistemológico:
- “o
naturalismo nos coloca como seres humanos em uma caixa. Porém, para termos
qualquer confiança de que nosso conhecimento sobre estarmos dentro de uma
caixa é verdadeiro, precisamos nos posicionar fora da coisa ou receber
essa informação de qualquer outro ser fora da caixa (os teólogos chamam a
isso de “revelação”). Ocorre que não há ninguém fora da caixa para nos
fornecer revelação, e não podemos transcender a caixa. Por conseguinte,
niilismo epistemológico.” (p. 125)
- Um problema também
lógico: como posso saber que não sei? Como provar que o conhecimento é
impossível, a não ser pelo conhecimento?
III. A terceira ponte: ser e dever
- A maioria dos
naturalistas não é imoral. O problema não é este, e sim o de que lhes falta
fundamento para a sua “crença”.
- O naturalista trata
do que é. Mas a base da moralidade é
normativa – o que deve ser. Como fundamentar este segundo nível?
- O relativismo
cultural e a confusão entre ser e dever ser:- Problema:
os rebeldes. Por que o seu ser
não deveria aceitar-se?
- “O
naturalismo nos coloca como seres humanos em uma caixa eticamente
relativa. Para conhecermos que valores dentro daquela caixa são valores
reais, necessitamos de uma medida a nós imposta de fora da caixa;
precisamos de um prumo moral por meio do qual seja possível avaliar os
valores morais conflitantes que observamos em nós e nas demais pessoas.
Contudo, não há nada fora da caixa; não existe nenhum prumo moral ou
qualquer padrão de valor imutável e supremo. Logo: niilismo ético.” (p.
130)
- Estamos imersos num
universo impessoal.
- Conferir Blade runner: o caçador de androides:
- O
encontro com o criador não é nada animador.
- Ainda
assim, o caçador é salvo pelo androide Roy, que não resiste, e concede
misericórdia no final. Mas não parece um ato heroico, e sim algo resignado
e triste.
- Todos
parecem em busca do caminho de casa, mas incertos quando ao destino a
seguir.
- Nietzsche, morte de
Deus e relativismo:
- “Não
há fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.” (Além do bem e do mal)
- Não é possível
viver uma vida consistente com o niilismo.
- Razões pelas quais
o niilismo impossibilita a vida:- “Nada
procede da falta de significado, ou melhor, qualquer coisa procede.” (p.
134)
- Pode-se
responder à falta de sentido mediante qualquer ação.
- Mas
qualquer escolha de ação, já implica ajuizamento e valoração, assim negando
os pressupostos do niilismo.
- “Toda
vez que os niilistas pensam e confiam em seu pensamento, eles estão sendo
inconsistentes, pois têm negado que aquele pensamento possui valor ou que
pode levar ao conhecimento.” (p. 135)
- Autocontradição:
“não existe significado no universo”. Então nem mesmo esta frase tem
significado.
- “para
se negar a Deus é preciso haver um Deus para ser negado. A fim de ser um
niilista praticante, deve haver
algo contra o qual batalhar. Tal niilista praticante é um parasita em significado.
Ele fica sem energia quando não se há mais nada a ser negado.” (p. 136)
- “A
quarta razão é que o niilismo significa a morte da arte.” (p. 137)
·
Uma contradição:
parte da arte moderna acolhe em seu interior precisamente o niilismo.
·
A estrutura artística
já implica um significado, e portanto, uma recusa, em última instância, ao
niilismo.
·
“se um trabalho
artístico for dotado de estrutura, ele possui significado e, portanto, não é
niilista.” (p. 137)
- “o
niilismo apresenta severos problemas psicológicos. As pessoas não
conseguem viver com isso porque o niilismo nega o fato de que cada fibra
de seu ser desperto clama por sentido, valor, significância, dignidade,
valia.” (p. 138)
- Necessitamos
conceder a devida atenção aos niilistas: seu clamor é intenso.
- Nosso mundo parece
menos sensível a argumentos:
- Precisamos
tê-los, obviamente.
- Mas
também muita sensibilidade.
- Sabedoria.
- O
niilismo ativo de Nietzsche, por exemplo.
- Também
a provocação nietzschiana de que o niilismo proviria do próprio
cristianismo.
- Para
muitos outros, proviria do próprio desenvolvimento do capitalismo e da
técnica.
- É
necessário revisitar clássicos do pensamento brasileiro (Oswald de
Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Guimarães Rosa).
- Sem
isso, nosso quadro será deficiente.
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